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Luanda pelos olhos de uma sul-africana

Andrea Fortune nasceu e cresceu na Cidade do Cabo, África do Sul. É uma ‘nerd’ confessa, iogue, viajante ávida, adora correr e está sempre em busca de experiências novas e aventuras coloridas. Tem como missão de vida viajar para lugares não tão conhecidos e talvez escrever uma história ou outra. Assim, propõe-se a mostrar-nos Luanda do ponto de vista de uma turista estrangeira.

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Bom Dia Luanda

É noite de uma Segunda-feira e depois de um dia a navegar a cidade de Luanda sozinha, procuro voos para Joanesburgo. Pergunto-me: “O que estou a fazer em Luanda? Quem visita Luanda voluntariamente, como um destino de férias?”

Há dois meses, deparei-me com um post no Facebook de um amigo meu, angolano. Eu não o via há uns oito anos, desde que ele voltou para Luanda após a guerra civil ter terminado. Impulsivamente decidi ir visitá-lo. Mandei-lhe uma mensagem, ele recebeu-a com surpresa e felicidade e convidou-me a ir visitá-lo.

Luanda é a cidade mais cara do mundo e não sabia o que esperar, por isso achei que uma semana fosse tempo suficiente para a minha estadia na cidade. Depois de alterar duas vezes o meu bilhete de passagem, devido sucessivos atrasos com a emissão do meu visto, disse adeus ao aeroporto OR Tambo em Junho, num Sábado de manhã.

De relance, Luanda parece-se muito como qualquer outra cidade africana, ou seja, com estradas cheias de buracos, ruas cheias de lixo, edifícios que necessitam de manutenção ou que ainda estão semiacabados. Eu não sou perita em cidades africanas, mas o que faz com que Luanda seja única e excepcionalmente diferente de outras cidades é que os prédios em ruínas convivem lado a lado com novos arranha-céus de vidro e guindastes por toda a cidade, o que cria um forte contraste entre o antigo e o novo, a dualidade que é Luanda.

Nos meus dois primeiros dias em Luanda não parava. Fui à Marginal fazer o passeio com vista para a Baía de Luanda, que é muito popular entre os moradores locais aos fins-de-semana. Também fui levada para a Fortaleza de São Miguel e para o Miami Beach na Ilha de Luanda para apanhar um bronze rápido no meio do Inverno angolano. Ainda cheguei a ir ao cinema em Luanda Sul, uma área que está a ser rapidamente desenvolvida para suportar o influxo de expatriados e os angolanos mais afluentes.

Depois de um fim-de-semana movimentado, decidi que queria passar a minha Segunda-feira a explorar a cidade sozinha. Na altura, parecia ser uma boa ideia mas na prática descobri que explorar a cidade de Jeep e explorar a cidade à pé são duas experiências muito diferentes. Estava fora da minha zona de conforto, num país aonde não falava nem entendia a língua nacional. Praticamente corri até ao Bahia, um restaurante em frente à Marginal. O Bahia consegue ser um restaurante, uma galeria, e um lounge/clube de salsa dependendo no dia da semana. No regresso ao apartamento, resolvi ir por um caminho diferente e ao atingir o final da rua, reparei que não estava defronte ao prédio do meu amigo.

Lutava para conter o meu pânico ao aperceber-me que estava mesmo perdida. Tinha os sapatos molhados depois de ser obrigada a atravessar uma poça na rua – eek! Não desanimei e o meu orgulho também não me permitiu ligar para o meu amigo angolano. Continuei a andar, felizmente avistei um edifício que reconheci e consegui por fim encontrar o prédio certo.

Voltando à noite de Segunda-feira – estava eu a pesquisar voos para Joanesburgo e à procura de desculpas para justificar o meu regresso antecipado quando o meu amigo chega a casa e anuncia que me ia levar para um dos restaurantes chiques de Luanda, na Ilha. Quando entrei no Cais de Quatro, senti-me como se tivesse pisado um outro mundo – uma outra Luanda. O restaurante tinha uma decoração luxuosa com uma vista pitoresca da Baía de Luanda, e estávamos sentados ao lado de uma mesa com modelos locais… envergonhadamente admito que me senti em casa e isso ajudou a melhorar a minha disposição. O jantar no Cais de Quatro custou-nos mais ou menos 25.200 kwanzas para três pessoas, sem contar com entradas e vinho.

No terceiro dia sentia-me mais acomodada e comecei a notar coisas que não vi à primeira vista. Conduzir em Luanda não é para tímidos – na ausência de semáforos parece que os motoristas se desafiam uns aos outros e metem-se nos cruzamentos com a esperança que o outro condutor pare primeiro. Não sei como mas não vi nenhum acidente nem raiva na estrada; o trânsito é de loucos mas todos permanecem calmos.

Luanda também tem uma arquitectura muito original. Certo dia o meu amigo mostrou-me uma varanda com uma palmeira a crescer pelo meio dela. Parece que os arquitectos decidiram incorporar a palmeira como parte da obra em vez de cortar a árvore. Se foi intencional a construção beneficiar o meio ambiente, não posso dizer.

Luanda é rica em artes e música e os angolanos apoiam orgulhosamente os seus artistas e músicos. Percebi rapidamente que os angolanos levam as festas a sério, e é normal ver discotecas e festas a decorrerem até às oito da manhã.

No meu último dia em Luanda, resolvi novamente passar o dia a andar pela cidade até à marginal, sozinha. Desta vez o pânico e a paranóia estiveram ausentes. Aos poucos, via a cidade com outros olhos: depois de furar a camada exterior de corrupção, pobreza extrema e o excesso opulento, comecei a sentir a alma de Luanda. Através das pessoas que conheci, e do seu orgulho e amor pelo país, a cidade tocou-me. Percebi que estava exactamente onde tinha que estar. Voltei para Joanesburgo com uma nova admiração pelo país e, curiosamente, com um ponto fraco para a cidade inimitável, maluca, que é Luanda.

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