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Saúde

Em Angola a culpa é do “destino” quando uma mãe enterra duas crianças em oito dias

Isabel da Silva tem 26 anos e já foi mãe cinco vezes, tendo perdido este ano, numa semana, as duas mais novas, ainda com meses de vida, dando rosto às estatísticas sobre a mortalidade infantil que colocam Angola no fundo da tabela. "É o destino", conta, algo conformada.

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Nos musseques do bairro do Sambizanga, no centro de Luanda, a Lusa encontrou Isabel, vendedora de roupa numa loja, já de regresso ao trabalho. Há poucas semanas enterrou as duas meninas, de sete e 28 meses, que morreram nos braços da mãe, vítimas de malária das "febres" que atacam a capital. "Sou mãe de cinco partos e enterrei dois", resume, desconsolada.

Com a capital a braços com epidemias de malária e febre-amarela, e mais de 400.000 afectados desde Janeiro, além de centenas de mortos, de nada valeu a Isabel ficar internada num dos hospitais de Luanda com as filhas.

"Tinham paludismo [malária] e depois falta de sangue. Sinto-me mal, isso não é normal, enterrar duas crianças em oito dias. Isto dói", confessa, mantendo alguma naturalidade à medida que se recorda do que aconteceu. "Quando se arranjou o sangue já foi tarde", diz.

O último relatório anual da Organização Mundial de Saúde (OMS), referente a 2015 e conhecido a 19 de Maio passado, revela que por cada 1000 nados vivos morrem em Angola 156,9 crianças até aos cinco anos. Na lista da OMS, Angola apresenta mesmo a mais alta taxa de mortalidade mundial.

"A culpa não é do hospital nem de outros. É o destino", atira, por seu turno, Isabel, que vive apenas com os filhos, naquele popular bairro de Luanda, onde as crianças passam os dias nas ruas, em terra batida, a brincar por entre água parada, mosquitos e muito lixo.

O filho mais velho tem oito anos e para já a jovem mãe descarta voltar a engravidar. "Não, não penso fazer filho agora. Pretendo estudar e criar os três, que eu fiquei com eles na mão", desabafa.

Em 2015, segundo a OMS, em cada 100.000 nados vivos em Angola morriam 477 mães, números que o recenseamento da população angolana, realizado um ano antes, também ajudam a compreender.

É que em Maio de 2014, Angola contava com 25,7 milhões de habitantes, dos quais 13,7 milhões até aos 17 anos, e destes mais de 10 por cento eram crianças sem pai ou mãe. Além disso, nas crianças entre os seis e os 17 anos, mais de 13 por cento nunca frequentaram a escola.

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