“Tomámos nota da proposta da RDCongo e tenho o prazer de anunciar que o Presidente [Félix Tshisekedi] e eu chegámos a acordo sobre o caminho a seguir para a sua elaboração”, disse o conselheiro de Donald Trump, Massad Boulos, citado num comunicado de imprensa emitido pela Presidência democrático-congolesa.
O leste da República Democrática do Congo (RDCongo), rico em recursos naturais e que faz fronteira com o Ruanda, é cenário de conflitos desde há trinta anos, mas a crise intensificou-se nos últimos meses.
O grupo armado antigovernamental M23, apoiado pelo Ruanda, apoderou-se de Goma, capital da província de Kivu do Norte, no final de janeiro, antes de tomar o controlo, algumas semanas mais tarde, de Bukavu, capital da província vizinha de Kivu do Sul.
Nas últimas semanas, o Presidente da RDCongo, Félix Tshisekedi, falou à imprensa de um possível acordo mineiro com os Estados Unidos, mas sem especificar se as contrapartidas, nomeadamente em matéria de segurança, faziam parte das discussões com Washington.
Desde a ofensiva relâmpago do M23, os apelos da comunidade internacional para que o grupo armado e as tropas ruandesas se retirassem não foram atendidos.
As tentativas diplomáticas para resolver a crise, incluindo a mediação de Angola, falharam todas até à intervenção surpresa do Qatar, no mês passado, que conseguiu reunir em Doha os Presidentes da RDCongo e do Ruanda, Paul Kagame.
Os dois chefes de Estado, respondendo a um convite do emir Tamim ben Hamad Al-Thani, falaram de um cessar-fogo.
No dia seguinte, porém, o M23 conquistou uma nova cidade, Walikale, numa zona rica em ouro e estanho. Esta Quinta-feira, o exército da RDCongo anunciou que recuperou a cidade na noite passada.
No entanto, o grupo armado enviou uma delegação a Doha na semana passada, com vista a possíveis conversações com Kinshasa, anunciadas para 9 de Abril, de acordo com uma fonte do M23. Kinshasa ainda não confirmou a data.
A tomada de Walikale, cidade de 60 mil habitantes, a cerca de 230 quilómetros de Goma e Bukavu, obrigou o grupo mineiro Alphamin a suspender as suas operações na mina de estanho de Bisie, a terceira maior do mundo em termos de produção.
A Alphamin é detida maioritariamente pela empresa de investimento Tremont Master Holdings, sediada nas Maurícias, criada pelo gigante norte-americano de capitais privados Denham Capital. Principal produtor mundial de cobalto, a RDCongo detém também pelo menos 60 por cento das reservas mundiais de coltan.
Segundo maior país de África, a RDCongo é também um dos maiores produtores mundiais de lítio, tântalo e urânio, minerais raros essenciais para as tecnologias avançadas.
Grande parte da exploração mineira no leste do país, criticado pelas suas cadeias de abastecimento opacas e pela corrupção desenfreada, está nas mãos de entidades chinesas.