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Advogado considera “ilegal” prisão do director do museu do Dundo e desmente acusações

O advogado do director do Museu Regional do Dundo disse esta Sexta-feira que a sua prisão “é ilegal” e desmentiu qualquer tentativa de desvio de peças da instituição, referindo que o arrombamento do cofre foi decidido em conselho directivo.

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Ilunga André, director geral do Museu Regional do Dundo, província da Lunda Norte, leste do país, está detido desde Quarta-feira por alegada tentativa de desvio e exportação de peças museológicas e outros artefactos.

Esta Sexta-feira, o seu advogado, Wilson Mucapola, disse à Lusa que não houve qualquer tentativa de desvio de peças daquela instituição, referindo que o arrombamento do cofre foi aprovado em conselho de direcção, em consequência da morte do funcionário que detinha as chaves.

"Havia necessidade de pegar algumas peças que estavam no cofre para efeitos de exposição, tendo em atenção que o dia 18 de Maio é uma data comemorativa aos museus. Então, reuniu-se o conselho de direcção do museu, expôs a questão, foi discutida a aprovada", contou.

Segundo o advogado, a decisão do conselho de direcção foi antecedida por contactos com familiares do falecido funcionário, com o propósito de se recuperar as chaves, mas sem sucesso, tendo-se optado pelo arrombamento com a presença de agentes da polícia.

"Chegou-se a essa conclusão e à luz do dia, com a presença de agentes da polícia que trabalham no museu, fez-se o arrombamento do cofre, pegaram-se as peças para efeito de exposição lá mesmo no museu, tendo em conta à data comemorativa que se avizinha, portanto não houve nenhuma fuga de peças a nível do museu", frisou.

As autoridades anunciaram na Quinta-feira que recuperaram uma valiosa máscara e outros artefactos furtados no Museu Regional do Dundo, que estavam escondidos no gabinete do director da instituição que, alegadamente, se preparava para os levar para Cabo Verde.

A informação foi avançada pela agência de notícias angolana, Angop, que citou o porta-voz do Serviço de Investigação Criminal (SIC) da Lunda Norte, dando conta de que foram recuperadas a máscara Mwana Pwo e a estatueta Samanhonga (Pensador).

Wilson Mucapola manifestou-se também indignado com as informações veiculadas pelo porta-voz do SIC local, referindo que estes "não recuperaram qualquer peça, porque não havia perdido nenhuma", já que todas se encontravam no museu.

As peças "já estavam lá no museu e que o SIC fez foi pegar as peças, que já lá estavam, trouxeram para hasta pública como se fosse algo recuperado", referiu o advogado.

"Não encontraram peça nenhuma no domicílio ou fora do museu, nem do director ou qualquer outro membro do museu e é isso que espanta", assegurou, dando conta também que no cofre havia diamantes industriais e que "nada daí foi retirado".

Deu conta igualmente que o seu cliente continua detido, ainda não foi ouvido pelo Ministério Público, considerando mesmo não existir elementos suficientes para mantê-lo detido porque "nem sequer representa perigo de fuga".

"É de facto uma prisão ilegal, porque não o encontraram em posse de peças, porque estas estavam no museu e esta prisão para todos os efeitos é ilegal", observou.

Confirmou ainda que o director do museu foi detido no dia em que embarcaria para uma formação em São Tomé e Príncipe, com autorização do ministro da Cultura e Turismo, onde participaria num 'worskshop'.

"Temos documentos que comprovam a autorização do senhor ministro e não há nenhum problema relativamente a isso, ele ia em missão de serviço, e como vê não o encontraram com qualquer peça fora do museu", rematou Wilson Mucapola.

A agência Lusa contactou o Ministério da Cultura para confirmar esta informação e saber qual a missão de serviço, mas não obteve resposta até ao momento.

Além do director do Museu Regional do Dundo, estão também detidos a chefe do departamento de Museografia e um outro técnico da instituição.

A máscara Mwana Pwo é uma das peças de um conjunto de oito artefactos que foram ilicitamente exportados para a Europa, na década de 1990, mas foram, entretanto, recuperados pela Fundação Sindika Dokolo, que as devolveu ao Museu Regional do Dundo, em 2019.

O Museu do Dundo, o mais antigo de Angola, fundado em 1936 pela então Companhia de Diamantes de Angola (Diamang), acolhe um importante acervo de peças etnológicas da cultura Lunda-Tchokwe, incluindo a colecção do etnógrafo José Redinha, que foi o primeiro conservador do museu.

Segundo a Angop, o museu possui actualmente nove mil artigos, entre os quais se destacam a estatueta do Samanhonga (Pensador), que se tornou num símbolo nacional, as máscaras Mwana Pwo (retrata a beleza feminina), Mukishi wa Mwanangana (palhaço do rei) - que corresponde ao sacrifício sagrado e representa os antepassados do chefe tribal -, bem como os instrumentos musicais ngoma (batuque ou tambor) e puíta.

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