"Para mim não é novo estar em quarentena. A criação precisa de um espaço nosso interior, precisamos estar sós. Eu estou habituada a estar só", disse à agência Lusa.
Apesar desta familiaridade com a solidão, na casa de Dilia, não falta gente, uma vez que esta habitação em Setúbal é também um atelier onde ela e o marido, um professor universitário de origem indiana já reformado, dão aulas e explicações.
Antes desta forma de viver, Dilia deu aulas em escolas públicas, mas desistiu porque não se ajustava "ao sistema social que estava, e está instalado".
O facto de o casal trabalhar em casa obrigou a "um rigoroso horário" e, por isso, na primeira semana sem alunos sentiu-se "como uma borboleta".
"Não sabia o que fazer, estava sem alunos, mas sempre a esperar por eles", disse.
Na segunda semana de confinamento, a artista descobriu que tinha uma casa.
"Apercebi-me que podia andar descalça ou de robe e não precisava de ter cara de professora a partir das 09h30", contou.
Mas uma semana depois, o casal foi confrontado com uma descoberta: "Descobrimos que os alunos são a nossa família".
"Deu uma dor dentro de mim, mais a mim do que ao meu marido, que é mais racional. Eu sou muito emotiva. Gosto tanto dos meus alunos, de os ajudar a conseguirem boas notas, ajudar os que têm mais problemas na escola. E quando falei com eles, disseram que também estavam a sentir a minha falta".
Agora, Dilia afirma que vive um dia de cada vez e sem grandes novidades.
"Eu sempre vivi na corda bamba e sempre nos habituamos a viver apenas com o essencial. Esta é a nossa lógica de vida: depender do mínimo".
Um treino que a artista aprendeu em Angola, onde a guerra a ajudou a relativizar as coisas.
Aos 63 anos e com três décadas de Portugal, pensa muitas vezes nos que não têm nada, o que é "um treino para respeitar todas as pessoas que vivem no planeta".
E acredita que a pandemia que se vive vai ajudar a centrar as pessoas no que realmente interessa.
"Este é o tempo de estarmos mais juntos e de nos percebermos que somos de facto irmãos", disse.