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Raboteiros de Luanda ganham a vida à força de braços e com um carrinho de madeira

Com um carrinho de mão feito de tábuas e um pneu velho, jovens de Luanda percorrem diariamente vários quilómetros transportando à força de braços dezenas de quilos de mercadoria para levarem para casa alguns kwanzas.

Viva Portal:

O dia de um raboteiro, como são conhecidos estes jovens, começa logo pelas 05h00, de Segunda a Sábado, junto a qualquer mercado da capital, para terminar só depois de os últimos vendedores fecharem o negócio.

O trabalho consiste em transportar nestes carrinhos de mão improvisados as compras do mercado até ao carro, táxi ou para a casa de quem compra, seja a subir ou a descer, estrada fora, esgueirando-se entre os carros e sempre sem deixar cair a carga, que pode ser qualquer coisa.

Sempre que possível a correr, para não perder o próximo serviço, por entre ruas lamacentas, debaixo de chuva ou sob o intenso calor de Luanda, chegam a carregar mais de 100 quilos de mercadoria de uma vez, serviço que pode custar 200 kwanzas.

Avelino Eduardo tem sete filhos para sustentar em casa e passa o dia literalmente amarrado ao carrinho de mão que construiu. Já lá vão quatro anos que trabalha no mercado do Kikolo, na capital, e conta à Lusa que chega a transportar, de uma vez, até 150 quilos de carga, à força de braços e de pernas.

"Os clientes levam muita mercadoria e não conseguem levar aqueles meios. De modo que é uma ajuda para eles e uma ajuda para nós", conta este raboteiro de 37 anos, que chega a juntar por dia entre 1500 a 2000 kwanzas.

Antigo militar das Forças Armadas Angolanas, destacado na província do Moxico, decidiu mudar-se para Luanda, ganhando agora a vida num trabalho que, confessa sem rodeios, não gosta. "Não, não gosto. Não tenho emprego, tenho de remediar", diz, explicando que o que ganha mal chega para alimentar a casa, pagar a renda e medicamentos.

Também Cassoca Quintas, de 30 anos, decidiu fazer-se ao caminho e partiu de Benguela para Luanda, em 2002. Hoje é raboteiro e tem nos comerciantes malianos, que compram grandes quantidades de mercadoria nestes mercados tradicionais, os principais clientes.

Num dia bom junta até 3000 kwanzas, o que lhe vale alguns quilómetros nas pernas e o peso de centenas de quilos de mercadoria nos braços. "Carrego gasosas [bebidas gaseificadas], de vários sabores", explica, acrescentando que ao que ganha tem de descontar 1300 kwanzas por semana, para pagar o aluguer do carrinho de mão ao dono. O que sobra é para alimentar os quatro filhos que tem em casa, de onde sai todos os dias às 05h00. "Isto não dá para sustentar a família", admite Cassoca Quintas.

Nas contas de Sabalo William, de 24 anos e que tem o seu próprio carrinho de mão, o negócio rende por semana até 10.000 kwanzas, mas só chega a casa já depois das 21h00. Já leva dois anos como raboteiro em Luanda, depois de deixar o Lubango, no sul.

"O nosso trabalho é levar as trouxas das donas que saem do mercado do Kikolo. É para ajudar as velhas [família] que estão na província", explica Sabalo.

Mais habituado ao negócio está Pedro José, de 32 anos, ‘especializado' no transporte de verduras e legumes do mercado, mas que como bom raboteiro carrega "tudo o que aparece". Podem ser várias grades de cerveja, sacos de batatas ou colchões, desde que caibam no carrinho.

Garante que facilmente leva pelo menos 50 quilos de mercadoria de cada vez, num trabalho que, mesmo não gostando, é o que dá para sustentar os sete filhos e a mulher que deixa em casa. "Com 1000 kwanzas, à rasca, por dia (…) Isto é sofrimento, a pessoa não deveria andar no carro de mão", confessa, admitindo que se tivesse uma oportunidade, mudava de trabalho sem hesitar.

Com 18 anos de idade e apenas dois meses de raboteiro, Raul Sabone tem o seu próprio carrinho de mão e afirma que gosta do que faz. Transporta sobretudo esfregão, fósforos e sabão. E fora disso, claro está, também "de tudo um pouco".

"Dá para sustentar a família, gosto deste trabalho", atira, sorridente, fazendo contas aos 2500 kwanzas que chega a levar para casa num dia de trabalho de mais de 10 horas.

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