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BPI: analistas consideram acordo positivo mas aguardam valores do negócio

Os analistas consideram "positivo" para o BPI o acordo entre os principais accionistas para reduzir a exposição a Angola, mas aguardam detalhes sobre o negócio, nomeadamente o preço, e admitem que as acções podem continuar suspensa mais alguns dias.

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No Domingo à noite, à 'última hora' do prazo dado pelo Banco Central Europeu (BCE), o BPI anunciou que o espanhol CaixaBank e a 'holding' angolana Santoro tinham chegado a acordo para a resolução do problema da exposição do banco aos grandes riscos, neste caso Angola, uma vez que Frankfurt não reconhece que Luanda tenha um sistema de supervisão equivalente ao europeu.

Contudo, o banco não divulgou os detalhes do negócio. Na ausência de explicações por parte dos envolvidos, os analistas tomam como ponto de partida a solução avançada pela imprensa, que passa pela saída dos capitais angolanos do BPI, que, em contrapartida, reduz substancialmente a sua exposição ao mercado angolano com a venda da totalidade ou da maior parte da sua posição no Banco Fomento de Angola (BFA).

Assim, o CaixaBank (que detém 44,10 por cento do BPI) deverá comprar a posição da Santoro (de 18,58 por cento, a que se podem somar os 2,2 por cento detidos pelo BIC Angola), lançando em seguida uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre o BPI. Já a operadora angolana Unitel adquire uma posição de controlo no BFA (onde o BPI tem atualmente 50,1 por cento e a Unitel 49,9 por cento). Tanto a Santoro como a Unitel são controladas pela empresária Isabel dos Santos.

Para João Lampreia, do Banco BIG, o acordo anunciado para o BPI “não é surpreendente”, uma vez que o BCE impunha uma solução até 10 de Abril, considerando que a questão fundamental é perceber os preços envolvidos no negócio.

“Com todos os problemas de Angola, que se têm acentuado, com o anúncio do pedido de ajuda na semana passada, o preço implícito pode ser um bocadinho menos atractivo do que a média dos últimos seis meses”, afirma o analista.

Também para Francisco Almeida, da Orey Financial, o que importa agora é saber os montantes envolvidos: “Falta saber por quanto o CaixaBank vai comprar as acções da Santoro, a quanto será lançada a OPA ao BPI e por quanto será vendido o BFA”.

O analista recordou que, tendo em conta os 140 milhões de euros que Isabel dos Santos ofereceu por 10 por cento do BFA há um ano, tal coloca o valor total do banco em 1400 milhões de euros. Já o BPI, tendo em conta o valor das acções em bolsa (1,19 euros), vale 1700 milhões de euros.

O lançamento de uma OPA pelo CaixaBank sobre o BPI não seria inédito, uma vez que já no início do ano passado o banco catalão avançou com uma oferta, propondo 1,329 euros por acção. Esta OPA, no entanto, acabou por não avançar, ‘vetada’ pela Santoro.

Uma nota de análise do Caixa - Banco de Investimento, hoje divulgada, também refere que o acordo é "positivo", acrescentando que "será agora importante conhecer os detalhes”, bem como as “alterações que implicará na estrutura accionista do BPI".

Apesar de o acordo ainda estar longe de ser conhecido em todos os seus termos, para já, os analistas são ainda unânimes em considerar que tem a vantagem de desbloquear o impasse accionista no banco e de abrir espaço para a consolidação na banca portuguesa, num momento em que o Novo Banco está à venda.

O desfecho deste processo no BPI está agora dependente de várias etapas, nomeadamente dos pareceres de vários reguladores - BCE, Banco de Portugal, Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e Banco de Angola - e da realização de uma assembleia-geral do banco para que os seus accionistas votem a venda do BFA.

Nesta reunião magna, será importante conhecer a posição dos pequenos accionistas, uma vez que a venda do BFA representa a perda de uma importante fonte de receitas. Em 2015, mais de 50 por cento do lucro do BPI veio da operação em Angola, ou seja, 135,7 milhões de euros de um total de 236,4 milhões.

Já o CaixaBank não terá de realizar uma assembleia-geral para avançar neste processo.

As acções do BPI estão suspensas de negociação desde hoje de manhã por decisão da CMVM - depois de em Março já terem estado suspensas por duas vezes devido precisamente a este tema -, com o regulador a dizer que aguarda mais informação.

Para os analistas, os títulos poderão assim continuar por mais alguns dias, até se conhecerem os termos do acordo e as condições da OPA, para evitar o uso de informação privilegiada por investidores.

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