Um dia depois do preço do litro do gasóleo aumentar 50 por cento, passando de 200 kwanzas para 300 kwanzas, luandenses exteriorizaram à Lusa "surpresa e tristeza" pela decisão das autoridades, acreditando no agravar das dificuldades socioeconómicas das famílias.
Lamentaram igualmente a "falta de comunicação e proximidade" dos governantes para com o povo, que "grita de fome" dada a carestia de vida, e questionaram as promessas eleitorais do actual Presidente, João Lourenço, sobre a redução dos preços dos derivados do petróleo.
"[Estou] totalmente consternado, estamos tristes com esta nova realidade. Acordámos [Segunda-feira] com os preços já a 300 kwanzas, é um escândalo, isso nos remonta até ao discurso do Presidente da República, que, na altura da sua campanha eleitoral, prometeu que o preço do combustível haveria de baixar", disse à Lusa o motociclista Pedro da Silva.
À saída de um posto de abastecimento de combustível na Avenida Deolinda Rodrigues, em Luanda, questionou as razões do aumento do preço do gasóleo numa altura em que o "povo já está apertado" com os altos preços dos bens de consumo.
"A cesta básica é um escândalo, o povo geme de fome e sobe mais o combustível? Significa dizer que a cesta básica ainda vai triplicar. Assim mesmo está bom, senhores governantes? É triste", desabafou.
Pedro, de 49 anos, disse que não esperava pelo novo ajuste ao preço do combustível, considerando que a medida se traduz numa "facada no estômago do cidadão", sobretudo numa altura em que "o país está em decadência" e muitas empresas estão a encerrar.
"Isso é acabar por nos matar, por favor, o que está a acontecer neste país?", questionou.
O taxista Pedro Francisco Luemba, que acorreu às bombas para abastecer a sua viatura, também revelou espanto pelo novo preço do litro de gasóleo, referindo que, doravante, terá de gastar 12.000 kwanzas contra os anteriores 8000 kwanzas para encher o depósito.
Ao volante do seu "azul e branco" (como são conhecidos os táxis particulares no país), Luemba criticou o Governo por falta de informações prévias aos cidadãos sobre as medidas tomadas, afirmando que este "mal" se arrasta há anos.
"O Estado deve conversar com o povo, explicar o que vai acontecer para o povo não ficar surpreendido, agora, de repente, só assustamos [porque] subiu e é muito complicado, a comunicação não flui", criticou.
O taxista, que há mais de duas décadas transporta passageiros em vários pontos da capital, questionou ainda o destino dos empréstimos que o Governo faz a nível internacional, salientando que as condições de vida dos angolanos se "agravam ano após ano".
Em vários postos de abastecimento de combustível em Luanda está visível o novo preço do gasóleo, que desde Segunda-feira passou a custar o mesmo que a gasolina (também 300 kwanzas/litro), uma subida que, conforme as autoridades, se enquadra no ajuste "gradual e flexível" dos preços de venda ao público.
Heidi Jamba, que é gestora de comunicação, disse à Lusa que a medida vai encarecer mais a vida dos angolanos, porque "está cada dia mais difícil".
"As coisas tendem a subir, há constante inflação e não conseguimos ainda ter um câmbio estável", realçou.
"Angola com boas terras, [mas] ainda não conseguimos apostar no agronegócio como tal, e, então, a vida vai ficar mais difícil", lamentou, mostrando igualmente surpresa com a decisão.
A caminho do serviço para mais uma jornada laboral, Osvaldina, doméstica, disse que a subida do combustível "vem piorar ainda mais" a vida difícil das famílias angolanas, que auferem salários desvalorizados e assistem à alta diária dos preços dos bens de consumo.
"Actualmente no mercado com 30.000 kwanzas você não compra quase nada e é tudo muito complicado", desabafou.
Com a subida do preço do gasóleo, o aumento de preços dos bens e serviços no país será inevitável, referiu o automobilista João Afonso Oliveira, que prevê dias difíceis para os cidadãos: "E quem fica a sofrer é povo", reforçou.
Os combustíveis em Angola são subvencionados pelo Estado, que tomou a decisão política de gradualmente ir retirando esta subvenção, seguindo as recomendações do Fundo Monetário Internacional (FMI), o que ocorre desde 2023.