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Moxico volta a apostar no arroz que a guerra levou do leste do país

A maior província do país espera produzir este ano 50.000 toneladas de arroz, através das 100 famílias que no Moxico ainda se dedicam à cultura, mas o objectivo passa por envolver 30.000 a médio prazo.

Andy Kristian:

Os números são do próprio Governo Provincial do Moxico, um território que na última fase do período colonial português garantia 270.000 toneladas anuais de arroz, cultura que se perdeu com a guerra civil que se seguiu a 1975, com o êxodo da população.

"As populações foram obrigadas a irem mais para as cidades, outras atravessaram a fronteira de Angola e estavam instaladas tanto na Zâmbia como na República Democrática do Congo. Isso é que fez com que a capacidade humana escasseasse e o factor guerra fez também com que muita maquinaria fosse destruída e abandonada", explicou à Lusa o director provincial de Agricultura do Moxico, Tomás Manuel Inácio.

Até 1975, o Moxico era mesmo o maior produtor de arroz em Angola, com a produção concentrada em cinco dos nove municípios, casos do Alto Zambeze, Luacano, Cameia, Moxico e Luchazes. Alguns destes municípios são mesmo do tamanho de países europeus, ou não tivesse a província um total superior a 223 mil quilómetros quadrados, para uma população actual de 750 mil habitantes.

Apesar da dimensão, actualmente apenas 100 famílias do Moxico, na Cameia e Alto Zambeze, se dedicam à produção de arroz, num esforço para retomar a aposta nesta cultura assumido nos últimos dois anos: "Porque de facto não têm o hábito de cultivar o arroz. Agora é que estamos a incentivá-los, porque além da alimentação também serve para uma cultura de renda", acrescentou Tomás Manuel Inácio.

Para este ano, a meta é de chegar às 50 mil toneladas de arroz no Moxico, numa produção cuja "primeira fase é para o consumo interno do país".

Para o efeito, está em curso um programa dirigido para a produção de arroz, com incentivo a conceder pelo Governo aos produtores individuais e empresas, envolvendo também candidaturas a financiamentos do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) e um programa para o sector familiar.

"Esperamos chegar às 30.000 famílias, nos municípios da província seleccionados para a cultura do arroz", apontou o responsável provincial do sector.

Em declarações à Lusa, o vice-governador da província do Moxico confirmou contactos com investidores do Brasil e da África do Sul, interessados em aposta no sector agrícola.

"E pensando não só em satisfazer o mercado local, o mercado nacional, mas pensando já na exportação", garantiu Carlos Alberto Masseca, dando ainda como exemplo desta aposta o próprio mel, que no passado já foi um dos produtos agrícolas exportados pelo Moxico.

"Sempre foi explorado de forma artesanal mas já esteve no mercado internacional. E nós acreditamos que há mercado para nós pormos outra vez este produto à venda. E criarmos esta ‘Marca Moxico’, vendermos a ‘Marca Moxico’", sustentou o vice-governador, elogiando o potencial agrícola daquela província do leste.

Dados do Ministério da Agricultura indicam que o arroz é hoje o quarto produto da cesta básica mais procurado no país, depois do milho, da mandioca e do feijão, com necessidades anuais de 400.000 toneladas, que são sobretudo importadas face à incipiente de produção interna.

É que na campanha agrícola de 2015/2016, entre empresas agrícolas familiares (12.191 toneladas) e agricultura empresarial (12.385 toneladas), o país produziu apenas 24.576 toneladas de arroz.

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