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“Picolés” de Luanda ajudam no calor e a pagar as contas em casa

Dezenas de jovens percorrem diariamente as ruas de Luanda, com paragem obrigatória nas escolas e na praia, a vender “picolés”, gelados de leite ou água que fazem a delícia de miúdos e graúdos, sustentando também famílias inteiras.

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Empurrando carrinhos de mão com caixas térmicas e uma campainha sempre a tocar, podem vender diariamente entre 150 a 200 gelados, a preços que rondam os 50 kwanzas, ou seja, mais barato do que uma carcaça de pão, amealhando até 7500 kwanzas, conforme contaram à Lusa estes jovens, que já fazem parte da imagem de Luanda.

Trabalham de Segunda a Sexta-feira para o "patrão", normalmente proprietário do carrinho e que fornece os gelados do dia, o qual por sua vez reserva o Sábado para o pagamento semanal dos jovens "funcionários", conforme explica Paulo Fernando, há 10 anos a vender pelas ruas de Lunda.

"São cinco dias [o lucro] para o patrão e um dia para mim. Dependendo do dia, consigo sempre alguma coisa, algum lucro para sustentar a família e não roubar", conta Paulo Fernando, de 38 anos, sem esconder o entusiasmo que vê nas crianças quando se aproxima da escola, não fossem estes os "grandes clientes".

E com o início do ano lectivo em Fevereiro, voltou também em força um negócio que ainda escapa à crise: "O negócio é rentável, por enquanto vou continuar a vender gelados até aparecer um outro negócio que posso fazer", diz o vendedor, que com o negócio sustenta os dois filhos.

Ali perto, numa das várias escolas primárias de Luanda, Valentino Chilala parou o carrinho para tentar "despachar" quase de uma só vez os 150 “picolés” do dia, pelo que em poucas horas pode ter o negócio feito. "Só por vezes nas Sextas-feiras é que a procura é baixa, o meu patrão é que faz os gelados e o carro que uso para conservar os gelados também é dele", explica.

"Consigo fazer alguma poupança, com o negócio sustento normalmente a família e também as despesas com os quatro filhos que se encontram a estudar", conta ainda o jovem de 29 anos, oriundo da província de Benguela e desde 2014 a vender gelados em Luanda.

Já a oportunidade para João Jamba surgiu quando ficou doente e perdeu o emprego como segurança. Com 32 anos e pai de dois filhos, encontrou na venda de gelados o seu "ganha-pão", a sua ocupação no último ano.

Com um carro já em condições degradantes, João Jamba vende cada “picolé” por 30 kwanzas e conta que ao invés dos seus outros colegas o seu rendimento é diário, por comercializar a maior quantidade de gelados.

"Por serem mais pequenos em relação aos de 50 kwanzas, por dia posso vender 250 gelados e apresento ao patrão 7500 kwanzas. Enquanto não aparece emprego, estou a remediar-me vendendo gelado", conta, recordando que é o patrão, um maliano, que prepara os gelados, com todo o tipo de sabores, como maracujá ou abacate, mas também chocolate.

Com o que aufere com as vendas, João Jamba, oriundo da província do Huambo, revela que "dá para comprar roupa, comida e para a alimentação" e até pagar a renda de casa, pelo que para já continua a compensar.

Tal como Custódio Pinheiro, de 18 anos, que vende sempre todos os 150 gelados feitos pela vizinha por dia e que cabem na caixa térmica do carrinho. "O dia-a-dia aqui é calmo, apesar da correria, sofremos muito também na mão dos fiscais [autoridades que impedem a venda ambulante], mas nada que não possamos aguentar", refere.

Ao fim do dia pode fazer 7500 kwanzas, o que ao fim do mês, entre o que entrega ao patrão e o que leva para casa, ultrapassa os 30.000 kwanzas, o que em tempo de crise ajuda a pagar as contas da casa dos pais, onde mora com o seu filho.

"Dá para suportar os meus gastos", reconhece o jovem, assumindo que para quem não tem trabalho, o “picolé” é uma boa forma de levar dinheiro para casa, mesmo em tempo de crise, até porque o calor obriga a "desenrascar" sempre umas moedas para o gelado.

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