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Na maior família de Angola há um homem com mais de 40 mulheres e zero ciúmes

As mulheres da família Tchikuteny, provavelmente a maior de Angola, partilham o campo, o mesmo companheiro e tratam dos filhos e netos umas das outras, garantindo que por ali não há ciúmes, apenas uma forma de viver em aparente religião.

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Na Ilha do Mungongo, a 14 quilómetros da cidade do Namibe, no sul de Angola, Francisco Sabalo Pedro, de 68 anos, partilha a vida com a esposa, Eva, e mais 42 mulheres. Em cerca de 40 anos teve 167 filhos, ainda vivos, e grande parte reside na aldeia da família Tchikuteny.

O "pai de família", como se apresenta, recebe as mulheres na chamada "casa dos encontros", a melhor da aldeia, de tijolo e com as possíveis mordomias interiores, já que as restantes são de construção mais pobre, tipicamente de pau a pique, com adobe e ramos de madeira das acácias.

Fundador da Igreja de Jesus na Cruz da Missão do Evangelho, as mulheres dizem juntar-se a Tchikuteny não pelo seu charme natural, que tenta demonstrar junto destas, mas também pela imagem de missionário: "Espalhar a palavra de Deus", atiram em coro, a cada conversa.

Helena Alfredo, de 42 anos, está neste clã desde 1996 e já teve seis filhos com Francisco Pedro, o mais velho com 24 anos, que é um dos pastores do gado da família Tchikuteny.

"Vivemos aqui bem, trabalhamos na fazenda. Não podemos fazer ciúmes na vida que estamos a levar. É uma missão que temos, ao serviço de Deus", afirma, convicta.

Nesta aldeia, praticamente toda ocupada pela família de Francisco Sabalo Pedro, funcionam duas escolas primárias e já são os próprios filhos que ensinam aos irmãos e aos netos do patriarca.

Tchikuteny assume, em conversa com a Lusa, que ensinar os filhos a saber ler e escrever é uma "questão de honra" da sua educação, e por isso até se bate junto do Governo para conseguir uma escola secundária na proximidade da aldeia.

Por ali tem várias dezenas de filhos, muitos gémeos, ainda crianças, e a mais nova da família é uma menina de dez dias, que ainda não pode sair do interior de casa, cumprindo os 30 dias de reclusão, segundo as regras próprias para proteger os mais novos contra doenças. Nasceu, como é normal, de parto natural, na aldeia, com o apoio de Eva, a matriarca da família.

"Aqui damo-nos todas bem, não há problema", garante Helena.

Também satisfeita com esta relação de partilha está Belita Alfredo. Em 33 anos de vida já teve nove filhos, três dos quis morreram. O mais velho tem 13 anos e os mais novos, dois gémeos que completaram dez meses, levam a atenção, possível, do pai.

"Ajudamo-nos todas, não há ciúme, não há briga, não há nada. Estamos na lavra e quando precisámos de alguma coisa falamos com o pai [companheiro]", diz, alinhando na mesma explicação sobre esta forma de viver. Ou seja, levar a mensagem da igreja, neste caso literalmente pela reprodução.

"É uma missão de Deus que temos", atira.

Por aqui todos vivem da pouca agricultura que desértico Namibe permite, mas Tchikuteny afirma que ninguém passa fome. Ainda que não tenha as contas feitas, diz que não lhe chegam 1000 dólares por mês para as restantes despesas.

"Temos fazenda, gado cabritos e não vamos à porta de ninguém dizer que temos fome. Só não faço as contas para não avariar a cabeça", brinca.

Na aldeia funciona um pequeno culto da igreja fundada por Tchikuteny, frequentada por todos.

"São coisas que estão escritas na bíblia sagrada", tenta explicar o pastor Kaluna Kavene, responsável pela Igreja de Jesus na Cruz da Missão do Evangelho, sobre o número de mulheres para um único homem, o patriarca.

Casado e pai de sete filhos, o pastor de 53 anos garante que só tem uma mulher, até porque o fundador da igreja é que foi "invocado" para a missão "propagar" a fé, de através das mulheres.

"Ele é um enviado por Deus, foi o espírito que pousou nele para fazer converter os gentios [selvagens]", conclui Kaluna Kavene.

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