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Mães e avós “sobrevivem” pedindo para lavar pratos e roupa nas ruas do Andulo

Dezenas de mulheres, maioritariamente idosas e viúvas, concentram-se diariamente nas principais ruas de sede do município do Andulo em busca de um trabalho doméstico ocasional para o sustento dos filhos, lamentando a “falta de assistência social”.

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Semblante carregado de desalento, muitas debilitadas fisicamente e outras suportando-se já numa bengala para conseguirem andar, a presença destas senhoras não passa despercebida desde as primeiras horas do dia para quem circula no centro de Andulo, município onde estão os restos mortais do fundador da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Jonas Savimbi, morto há 20 anos.

Lavar roupa, loiça, carregar água e limpar o chão são os serviços domésticos a que estas mulheres se predispõem a fazer para conseguir o mínimo que lhes permita comprar um quilo de arroz ou de fuba (farinha) para os filhos e netos.

Lamentam o sofrimento e as dificuldades que enfrentam diariamente para dar de comer à família e contaram à Lusa que não beneficiam de qualquer programa social do Governo. É por isso na rua que conseguem entre 200 kwanzas e 1000 kwanzas por dia, o que lhes garante sustento.

Sem conseguir conter as lágrimas, a anciã Domingas Alberto, 60 anos, disse à Lusa que vive numa residência precária e na iminência de desabar no Bairro Económico, periferia do Andulo.

Tenta encontrar na rua pequenos trabalhos diários, sendo este o seu único meio de sobrevivência.

"Ó pai, é mesmo sofrimento, o meu marido está na comarca, os meus filhos todos morreram, não tenho alguém que me ajude. Ainda estou a viver numa casa que está quase a desabar e como não tenho como [me sustentar] tenho que vir aqui", disse.

Visivelmente desolada, sentada ao lado das companheiras de jornada, num dos entroncamentos das ruas do Andulo, Domingas Alberto confirmou que muitas vezes são solicitadas para serviços domésticos ocasionais que lhes rendem até 1000 kwanzas.

"Aqui na rua, às vezes levam-te para lavar a roupa, depois dão 1000 kwanzas e compras a comida para as crianças, é esse o trabalho que fazemos aqui", realçou, referindo que nunca recebeu qualquer assistência social.

Suzana Candembo, 38 anos, que abandonou o campo por falta de sementes para o cultivo, falou também em "sofrimento" para justificar a sua presença na rua, onde pode conseguir diariamente entre 200 kwanzas e 300 kwanzas, quantia insuficiente para alimentar cinco filhos.

A mulher solteira referiu que está disposta a fazer "qualquer trabalho doméstico", nomeadamente lavar a roupa, carregar água, lavar pratos ou limpar o chão.

"Por vezes, aparecem pessoas que nos solicitam, cheguei aqui as 06h00 da manhã e devo regressar a casa as 16h00 ou 17h00 quando encontro algum trabalho, quando assim não acontece regresso às 13h00", explicou.

É também nas ruas do Andulo, um dos nove municípios da província do Bié, centro/sul de Angola, que Ana Paula, de 38 anos e solteira, está todos os dias para atenuar o sofrimento e garantir comida para os três filhos.

"É sofrimento mesmo. Tenho três filhos e cheguei para lavar a roupa, limpar o chão e carregar água e aí podem pagar 1000 kwanzas para comprar comida para as crianças", disse.

A procura por um serviço doméstico temporário faz-se em locais onde estas mulheres normalmente se concentram, mas muitas deambulam pelas ruas do centro do Andulo, inclusivamente acompanhadas pelos netos.

Germana Vihemba, 66 anos, viúva, reside no Bairro Silva de onde sai todos os dias à procura de trabalho, que nem sempre aparece, para comprar comida para alimentar as crianças.

"O trabalho é carregar água, lavar a roupa, limpar o chão e quando pagam dá para comprar fuba para as crianças comerem. Tenho em casa cinco crianças e aqui podem-nos pagar 500 kwanzas ou 600 kwanzas", afirmou à Lusa, manifestando-se agastada pela falta de apoio das autoridades.

Estas mulheres são o rosto da pobreza e do "sofrimento": "estamos a sofrer muito", repetem.

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