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PR precisa de “criar órgãos próprios” para investigar corrupção, diz investigador

O Presidente tem de criar "órgãos próprios" para o combate à corrupção e mostrar ao povo que esta luta "vale a pena", criando empregos com fundos que recuperou dos processos de investigação, defendeu esta Segunda-feira o investigador Rui Santos Verde.

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"João Lourenço tem de mostrar à população que o combate à corrupção vale pena, portanto alguns dos fundos que recuperou têm de ir directamente para a economia. Tem de criar empregos directamente com alguns dos fundos da corrupção", afirmou o professor e investigador, que é membro do Centro de Estudos Africanos da Universidade de Oxford.

Assim, na opinião de Rui Santos Verde, "é fundamental" que, no ano e meio que falta para as próximas eleições no país, que o Presidente lance "um programa qualquer em que vai gastar algum do dinheiro que recuperou da corrupção, para garantir empregos às pessoas".

Já ao nível do combate à corrupção, a outra bandeira política de João Lourenço, "tem de criar órgãos próprios" para essa luta, defendeu o também investigador não residente da Universidade de Joanesburgo.

"Porque ao fazer o combate pelos meio comuns, as coisas depois travam-se e não avançam", considerou.

Resumindo: "tem de fazer precisamente as mesmas coisas que está a fazer: 'Economia e corrupção'. Só que acelerando na economia, gastando dinheiro, e na corrupção, criando um caminho próprio, mais rápido para investigar, julgar e absolver ou condenar".

Para o académico, doutorado em direito e em ciências humanas e professor distinguido do Institute of Indian Management-Researcher "quando temos um Estado todo que foi capturado por um sistema corrupto, os meios comuns [de investigação], por si próprios, podem já nem ser, mas foram corruptos e tem corruptos".

Em Angola, sublinhou, já se está a ver o resultado desse combate com meios próprios. "Até agora só conseguiu efectiva uma condenação, a do Augusto Tomás [antigo ministro dos Transportes]".

"De resto, temos congelamentos. Num caso é dinheiro, o que veio do fundo soberano, mas noutro caso é empresas. E aí está outro problema. Depois, se as empresas não são geridas, começam-se a degradar e a desvalorizar", afirmou Ruis Santos Verde, que é também director de investigação do Cedesa, entidade que se dedica ao estudo e análise de assuntos económicos e políticos de Angola.

Por outro lado, João Lourenço "tem de recriar a agricultura e a indústria angolana. E ele tem estado a fazer isso", disse.

Além disto, Rui Santos Verde, considera que a banca angolana tem estado renitente em conceder crédito, mas poder ser "uma arma secreta que pode ser usada para conceder crédito interno" nos próximos tempos.

Deste modo, o Presidente poderá, na opinião do investigador, conseguir alguma confiança de uma população "insatisfeita" e criar o caminho para a victória nas eleições, até porque alternativas políticas a João Lourenço dentro do MPLA continuam a não existir, considerou.

"Houve a ideia, mais no estrangeiro do que em Angola, de que Isabel dos Santos [filha do antigo PR José Eduardo dos Santos, agora a ser alvo de processos judiciais por corrupção] ia lançar uma grande frente para voltar ao poder. Mas depois a Isabel tropeçou nela própria", afirmou.

Agora, "há a ideia de que o Adalberto [Costa, actual líder da UNITA] tem força, mas, pelo que percebi, a UNITA já anda também com problemas internos", referiu.

Quanto a quem poderá regressar ao poder no partido governamental, não tem dúvidas que "são os santistas, que escolherão uma cara nova".

A cara nova poderá ser, na opinião de Rui Santos Verde, um "militar" ou "o actual vice-presidente, o Bornito de Sousa, que tem sido uma pessoa apagada é sempre uma hipótese. Porque é uma pessoa moderada, não participou, não mostra que seja uma quebra ou uma ruptura no processo. Facilmente pode ascender a Presidente."

Sobre a política seguida por João Lourenço, neste seu primeiro mandato como Presidente disse que foi "completamente inesperado".

"Portanto acho-o um homem de coragem, mas que agora está num labirinto muito difícil. E o que não sei é se a coragem que teve vai ser suficiente para chegar ao fim do labirinto".

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