"Há riscos significativos relativos à capacidade de as políticas macroeconómicas e reformas estruturais garantirem sustentabilidade externa, portanto, haver uma nova recessão este ano é um cenário possível se os riscos se materializarem, como nova onda de infecções ou se as medidas previstas não conseguirem estimular a procura interna, nomeadamente o investimento", afirmou Helena Afonso.
Em entrevista à Lusa sobre Angola, a propósito da divulgação do relatório do UNDESA sobre a Situação Económica e Perspectivas Mundiais, a analista acrescentou que "as dificuldades económicas continuam em Angola, prevendo-se um crescimento de 1,2 por cento este ano".
No ano passado, "dada a menor procura externa, a descida nos preços do petróleo e as medidas restritivas para combater a pandemia, estima-se que a economia tenha contraído pelo quinto ano consecutivo, cerca de 3 por cento", apontou.
O Governo, continuou a analista, "imprimiu medidas fiscais para conter a pandemia, por exemplo gastos adicionais em saúde, adiamento de impostos em certas importações, mas a resposta fiscal tem sido limitada pelos níveis muito elevados de dívida pública, acima dos 100 por cento do PIB, apesar do esforço das autoridades para manter a dívida num caminho sustentável".
Na entrevista à Lusa a propósito da situação económica em Angola, Helena Afonso salientou ainda que "a adesão do país à Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) permitiu adiar o pagamento de dívida" e, além disso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) também contribuiu.
"A quarta revisão do programa permitiu um novo desembolso de 487 milhões de dólares e isto será uma importante fonte de financiamento externo para ajudar o país a lidar com esta crise", concluiu a analista do UNDESA, que antevê uma redução da inflação de 23 por cento em 2020 para menos de 20 por cento este ano devido ao abrandamento na depreciação do kwanza.