“Os nossos dirigentes em África não sabem respeitar a vontade do povo. A nossa lei diz que o mandato deve ser apenas de 10 anos, já trabalhou dois mandatos e pensámos que a sua era chegou ao fim, porque assim o povo quer”, afirma, sem rodeios, o congolês democrático Norberto Bamona.
O comerciante, de 30 anos e natural de Kinshasa, vive em Angola há 12 anos e defende a não continuidade de Joseph Kabila. Também por isso não se vê tão cedo a regressar à terra, apesar da crise em Angola.
“Lá no Congo tem muito sofrimento, a vida está difícil e aqui encontrei melhores condições de vida. A minha mulher é angolana e tenho boas relações com os angolanos e espero que o sofrimento no meu país termine o mais rápido possível”, desabafa, em conversa com a Lusa, Norberto Bamona, um dos milhares de congoleses que vivem legalmente na capital.
Mais de 50 pessoas morreram em Setembro em protestos contra a presidência de Joseph Kabila, que está no poder desde 2001, sendo impedido pela Constituição de se candidatar a um novo mandato.
O "diálogo nacional" na RDCongo, em que não participou a oposição, deu "luz verde" a 17 de Outubro, ao acordo para adiar as eleições presidenciais no país para 29 Abril de 2018, após várias semanas de contestação na rua.
Elilo Pila, de 33 anos, reside em Angola desde 2009 e assiste à distância ao que se passa. Para este congolês, Joseph Kabila está na base da instabilidade no país.
“O mandato dele já acabou e deve deixar o poder, mesmo na fase de transição ele pode deixar o lugar para uma outra pessoa para até 2018 irmos às urnas. Já houve um acordo e ele não está a respeitar”, afirma.
Para Elilo Pila, que veio a Angola em busca de conforto e estabilidade, as eleições no seu país são uma “farsa” e garante: “Nós sempre votamos num candidato, mas no fim das eleições quem dirige o país são outras pessoas”.
“Desconheço por completo as riquezas do Congo, apenas ouvia na escola. Nós queremos é viver bem, como aqui em Angola”, afirma.
Cláudio Mbomo, de 44 anos, trocou a RDCongo por Angola há nove anos e não se arrepende, sobretudo ao ver o que tem acontecido nos últimos meses: “A situação no Congo está complicada. O Presidente assinou a Constituição, mas ele não está a respeitar, ele deve abandonar o cargo para uma outra pessoa, estamos em democracia ou ditadura”, questiona.
Mbomo fala em irmandade entre congoleses e angolanos, contudo não deixa de lamentar a situação no seu país.
“Kabila tem que deixar o poder porque a RDCongo é uma República e não uma propriedade privada. O povo está a sofrer com fome e miséria, nós não aceitamos isso”, atira.