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Francisco fez 20.000 quilómetros de bicicleta de Lisboa a Maputo com passagem por Angola

Francisco França, 23 anos, percorreu 20.000 quilómetros de bicicleta, de Lisboa a Maputo, numa viagem de 16 meses em que até apanhou malária, tudo para “perceber o que era estar longe de casa” e conhecer África. Angola foi um dos mais de 20 países por onde passou, tendo o jovem relatado gostos particulares pela comida angolana.

: Instagram Francisco França
Instagram Francisco França  

"Eu queria fazer uma viagem longa, uma viagem em que eu queria perceber o que é estar tão longe de casa durante tanto tempo, queria que fosse de bicicleta", disse à Lusa Francisco França, em Maputo, seu destino na aventura com misto de "loucura e coragem".

Saiu de Portugal a 19 de Fevereiro de 2024, passou por mais de 20 países até chegar à capital moçambicana, a 14 de Junho deste ano, fazendo mais de 20.000 quilómetros de bicicleta, depois de antes ter percorrido Portugal também de bicicleta.

Formado em Psicologia, Francisco deixou os pais em São João de Talha em busca de um desafio, tendo levado, na bicicleta, medo e panela, fogão a gasolina, roupas, comidas rápidas, dinheiro em mão e na conta bancária para alimentação, além de documentos como vistos.

Atravessou vários países, desde logo Espanha e Marrocos, seguindo-se Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana, Togo, Benim, Nigéria e República do Congo.

A viagem seguiu também por países como Angola, Maláui, Zimbábue até alcançar Moçambique através de Tete, a 7 de Maio. Pelo percurso, Francisco falou muito inglês e aprimorou o francês para comunicar e até deu aulas em troca de um lugar para dormir.

"Podia ter feito uma rota mais fácil [ao entrar em Moçambique], mas acabei por escolher uma mais desafiante que foi atravessar a estrada do Búzi e depois ainda uma outra estrada que acabou por ser apenas um carreiro no mato que ligava Guara-Guara a Muxúngue [Sofala], que é apenas um carreiro no mato durante 200 quilómetros. Depois cheguei a Save, fui descendo (...) e depois cheguei a Maputo", contou à Lusa.

"Com o tempo também o meu corpo foi-se habituando e, se no início fazia 70 a 80 quilómetros diários e tinha de descansar ao segundo ou terceiro dia, quando já estava há mais de um ano na viagem (...) conseguia fazer 100 quilómetros por dia, 120 (...) porque as condições proporcionavam", acrescentou.

Pelo percurso, muitos desafios, a começar pela malária, que apanhou duas vezes, a primeira na Serra Leoa, a segunda na Costa de Marfim, com experiência de alergia no Senegal que lhe "encheu a cara com borbulhas". Contratempos que o obrigaram a parar, em média, duas semanas para repousar e recuperar as energias.

"Depois era difícil lidar não só com a parte física, mas com a parte psicológica e com tudo o que eu estava a atravessar na altura, porque também esses momentos mais baixos fazem duvidar da nossa capacidade, se calhar da nossa sanidade, se calhar questionamos se aquilo que estamos a fazer faz realmente sentido", contou à Lusa.

A grande experiência foi compreender como as pessoas vivem no continente africano.

"Queria fazer algo diferente, queria fazer a minha própria viagem, por isso vi e percebi que eu não tinha nenhuma relação com Moçambique, mas tinha pessoas ao meu redor que tinham nascido cá ou que viveram cá, então eu percebi que fazia mais sentido para mim acabar em Moçambique, além da África do Sul, como a maioria dos que fazem este tipo de aventura", recordou.

A interacção com populares locais ao longo dos países foi descomplicando com o percurso, mas o incómodo constante com perguntas sobre a sua origem e propósito sempre estiveram ali, a perturbar um Francisco que só queria viajar e conhecer o mundo.

"Cada aldeia isso acontecia, cada pessoa que me via fazia as mesmas perguntas e lembro-me de sentir que isso custou muito mentalmente porque eu gosto de estar sozinho", diz.

Além de doenças, foi difícil para Francisco atravessar várias zonas e estradas em períodos chuvosos, com trilhos e estradas lamacentas e a desafiar a bicicleta, que muitas vezes avariou, obrigando o jovem português a descobrir-se na mecânica.

"Comia quase tudo, a não ser que fosse algo muito estranho", disse, relatando também gostos particulares pela comida angolana e, em particular, a xima com frango, tomate e couve de Moçambique e Zâmbia.

Francisco regressa a Lisboa na Quinta-feira de avião, mas leva memórias de Moçambique: "lembro-me em Tete e Chimoio, vi pessoas com bicicleta a carregar cinco sacos de carvão, com a bicicleta muito menos capaz do que a minha (...) aquilo não é nenhuma viagem para eles, é o dia-a-dia. Têm essas dificuldades".

"Acho que consegui ver durante a viagem inteira, não só em Moçambique, como é que as pessoas vivem. A pobreza, a riqueza, em África consegui ter uma ideia bastante geral de tudo, isso para mim era importante", conclui.

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