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Jorge Monteiro: “Manteremos a aposta no mercado, embora a crise não nos esteja a passar ao lado”

É inegável. Os angolanos são apreciadores de vinho. De bom vinho. Do Douro ao Alentejo, as castas portuguesas estão no topo das preferências nacionais. Neste contexto, a ViniPortugal continua a dar passos certos no compromisso que assumiu em apoiar importadores e consumidores. “Angola é para Portugal, claramente, um dos mercados prioritários, mesmo nestes momentos, em que a sua economia vive dificuldades acrescidas”, reforça Jorge Monteiro, presidente da associação, em entrevista ao VerAngola.

Como é que os Vinhos de Portugal entraram no mercado angolano?

A relação entre os povos de Angola e Portugal tem uma longa história, e a ela está associado o consumo do vinho, sendo Angola um dos países africanos com maior consumo per capita de vinho. É uma relação provavelmente centenária. Porém, se durante muito tempo, o vinho, em África como na Europa, era uma “commodity”, mais recentemente atingiu o estatuto de produto-prazer, e é este estatuto que lhe dá mais visibilidade.

 

Expresso


Desde a sua entrada, como tem evoluído a adesão dos angolanos aos vinhos portugueses?

Os dados globais de importação, não deixam grande margem de dúvida. Em 2015 Portugal detinha 68,9 por cento de quota de mercado em Angola, seguido da França com 11,5 por cento, da África do Sul com 10,1 por cento e da Espanha 7,9 por cento. Estes números dão bem a ideia do peso das exportações portuguesas para Angola.

Qual o posicionamento da marca Vinhos de Portugal em Angola?

Não é uma resposta fácil pois, quando olhamos para os dados de exportação para Angola, dos Vinhos de Portugal, constatamos que estamos presentes, com posição relevante, em todos os segmentos. Desde os vinhos a granel, engarrafados no destino, até aos vinhos topo de gama, verdadeiros ícones, das mais diferentes regiões vitivinícolas de Portugal. Significa que não nos especializamos neste ou naquele segmento, satisfazendo necessidades de todos os perfis de consumidores angolanos.

“Pretendemos manter a marca Vinhos de Portugal activa, apoiando os importadores e consumidores, investindo num melhor conhecimento sobre a diversidade dos vinhos de Portugal”

Para a ViniPortugal, Angola é um mercado prioritário ou em observação?

Angola é para Portugal, claramente, um dos mercados prioritários, mesmo nestes momentos, em que a sua economia vive dificuldades acrescidas. Desta forma, Angola continuará a absorver uma fatia significativa do nosso orçamento actual.

Neste momento, quais são os objectivos da associação em Angola?

No actual contexto, pretendemos manter a marca Vinhos de Portugal activa, apoiando os importadores e consumidores, investindo num melhor conhecimento sobre a diversidade dos vinhos de Portugal. Em particular, apresentar e demonstrar a diversidade de castas autóctones, diversidade de climas e solos. Mesmo que o mercado tenha encolhido, de forma acentuada, queremos continuar a ser os líderes de mercado, idealmente ganhando quota. Melhorar as condições, para que o consumidor angolano tenha razões, para continuar a preferir os nossos vinhos.

Angolanos preferem tintos

Qual o top das preferências angolanas? Tinto, branco ou verde?

Na cor, a preferência vai claramente para os vinhos tintos. Por região, Alentejo e Douro, e só depois a região dos Vinhos Verdes. Embora Portugal hoje produza excelentes brancos, o consumidor angolano mantém uma clara preferência pelos tintos. No entanto, um bom vinho branco não só permite ser consumido a uma temperatura mais baixa, adequado a um clima quente, como ainda por cima, hoje os grandes brancos são vinhos que envelhecem bem em garrafa, não se podendo atribuir um “prazo de validade”. Há hoje brancos de 2012 no mercado, que são excelentes, e merecem ser provados. Mas esse é também um dos nossos objectivos, dar a conhecer ao consumidor angolano a excelência dos vinhos brancos, sobretudo quando acompanham pratos de marisco, peixes ou saladas, por exemplo.

Relativamente às marcas, quais são as escolhas dos angolanos? Optam por vinhos mais caros ou mais baratos?

Não dispomos de informação, que nos permita afirmar quais as marcas mais vendidas ou preferidas, até porque a nossa missão é a promoção da imagem de Portugal, e a valorização dos vinhos portugueses, e não desta ou daquela marca. Porém, os dados estatísticos disponíveis, indiciam uma distribuição normal, em que oito por cento é vinho com DO, 15 por cento vinho Regional, 35 por cento de vinho engarrafado na origem, e os restantes 42 por cento vinhos exportados em granel.

Luanda, por ser a capital, acaba por ser uma escolha óbvia. Mas porquê fazer provas de vinho no Lubango e em Benguela? Estão a pensar expandir as provas para outras províncias?

Reconhecemos que o grande consumo de vinho se concentra em Luanda, mas, à semelhança do que se passa nos EUA, Canadá e Brasil, queremos estender esse consumo a outras cidades, e depois de uma primeira experiência bem-sucedida, em Benguela, no ano passado, vamos “sentir o pulso” no mercado do Lubango.

Quem são os angolanos presentes nas provas de vinho que organizam?

Por regra, os profissionais da restauração, importadores, distribuidores e retalhistas, mas sobretudo consumidores entre os 25 e os 50 anos de idade, de posição social média e média/alta, instruído e apreciador de vinho.   

 

Em 2015, o plano de investimento para Angola rondou os 440 mil dólares (400 mil euros). Qual o investimento previsto para 2016?

O envelope financeiro para 2016 é ligeiramente inferior, 360 mil euros [cerca de 399 mil dólares], sendo o mesmo valor de 2015. Esta redução, teve a ver com as actuais dificuldades do mercado. No entanto, e apesar desta redução, manteremos a prova de Benguela, e pela primeira vez organizámos uma prova no Lubango.

Mesmo com a actual situação que se vive em Angola, a ViniPortugal continua a apostar na promoção dos vinhos portugueses no nosso país. A crise passou ao lado nas vendas?

Manteremos a aposta no mercado, embora a crise não nos esteja a passar ao lado. Em 2015, registámos uma queda de 25 por cento em valor, comparado com 2014, mas nos quatro primeiros meses deste ano, a queda, comparada com o mesmo período de 2015, é já de 74 por cento. Ou seja, o ano de 2016 deverá encerrar as exportações, com um valor próximo dos 20 por cento, face ao exportado em 2014. Uma acentuadíssima queda.

Ana Trindade


Sente necessidade da criação de uma associação, como a ViniPortugal, em Angola, para promover os Vinhos de Portugal?

A ViniPortugal é a associação interprofissional do sector do vinho de Portugal, reconhecida pelo Governo de Portugal e pela Comissão Europeia, e actua em diversos mercados desde os três que acima referi, EUA, Canadá e Brasil, até ao Japão, Coreia, China, passando pelo Reino Unido, Alemanha, Suécia, Noruega, Polónia e Suíça. Trabalhamos a partir de Portugal, recorrendo a agências em cada país, a Semba no caso de Angola, que trabalha estreitamente com o nosso Gestor de Mercado, não sendo necessário criar filiais, ou outro tipo de entidades, nos mercados em que estamos presentes.

Quais os objectivos do Clube Vinhos de Portugal e porquê a sua criação? Quem compõe o clube?

O Clube de Vinhos de Portugal, tem como objectivo criar uma cultura dos Vinhos de Portugal, junto de líderes de opinião. A complexidade dos vinhos de Portugal, baseada na sua diferenciação assente no uso das castas autóctones, mas também pela enorme diversidade de climas e solos, torna o nosso trabalho mais difícil, em que uma prova de vinhos de uma hora, não chegaria para alcançarmos os resultados pretendidos. Reunir um conjunto de enófilos, e sensibilizá-los para os nossos vinhos, é uma tarefa que exige tempo, e que sai beneficiada, se conjugada com a gastronomia, De facto, os vinhos portugueses são muito gastronómicos, convidando a que as provas sejam acompanhadas de temas, sobre as nossas tradições, e com a comida a acompanhar. O Clube de Vinhos constituirá, claramente, uma elite de especialistas em Vinhos Portugueses. Os elementos do clube são o Chef Helt Araújo, Sebastião Vemba, Evaristo Mulaza, Sérgio Rodrigues, Mateus Gonçalves, José Guerreiro, Pedro N'Zagi, Kumuenho da Rosa e Ernesto Bartolomeu

Palavra de ordem: Continuar!

Há algum novo projecto no horizonte da ViniPortugal, a ser implementado em Angola?

Um dos padrões de comportamento da ViniPortugal é implementar um plano, e assegurar a sua estabilidade num período entre três e a cinco anos. Nesse sentido, os projectos para 2016, são da mesma natureza dos implementados em 2015.