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Standard Bank: Angola poderá “perpetuar” dependência ao sector petrolífero se não progredir nas reformas

O economista chefe do Standard Bank Angola (SBA) e Moçambique, Faúsio Mussá, disse esta Quarta-feira que Angola poderá “perpetuar” a sua dependência ao sector petrolífero se não houver progresso nas reformas, admitindo pressão para o aumento de despesas sociais.

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"Sem dúvida que do ponto de vista de dependência, temos que entender que 95 por cento das exportações de Angola são oriundas no sector petrolífero esta é uma variável que não vai mudar nos próximos cinco anos, vai levar muito tempo para que a transformação aconteça, mas se não haver progresso nas reformas esta dependência se vai perpetuar", afirmou o economista.

Segundo Faúsio Mussá, durante muitos, apesar da volatilidade do preço do petróleo, o câmbio em Angola se manteve estável e, "felizmente", frisou, a partir de um certo momento as autoridades entenderam "que não era sustentável".

"E implementou-se uma correcção do cambio que num certo momento originou inflação. Do ponto de vista de economia esta dependência mantém-se não só em relação à receita de exportação, mas em relação ao PIB (Produto Interno Bruto)", apontou.

A agricultura "é um sector extremamente importante para Angola, sobretudo porque grande parte da população vive deste sector, mas ainda tem uma contribuição muito reduzida para o PIB".

"É um sector que tradicionalmente floresce se haver infra-estruturas, se haver investimento, espera-se que o progresso nas reformas estruturais que o Governo está a implementar estimulem o aumento da produção agrícola", salientou.

Falando no final na tarde desta Quarta-feira, em Luanda, durante a terceira edição do "Briefing Económico 2022", organizado pelo SBA, o economista moçambicano enalteceu também a "coragem" do Governo angolano em manter as reformas até na fase das eleições de Agosto passado.

"De uma forma muito corajosa Angola manteve reformas até a beira das eleições, o cambio transaccionava-se a 650 kwanzas por dólar muito perto as eleições, ou seja, houve um compromisso muito forte para se manter reformas estruturais nesta economia que ajudaram a trazer alguma flexibilidade à redução da inflação que estamos a observar agora", referiu.

Mas, para Faúsio Mussá, "sem dúvidas que se espera que nos próximos tempos haja uma pressão para aumento de despesas sociais, por um lado para ajudar a reduzir a pressão que a inflação traz sobre as famílias sobre o custo de vida nesta economia".

"Mas, por outro lado, enquanto é necessário atender as famílias e criar alguma estabilidade, a justiça, que se considera como um prato na mesa, é provável que haja um esforço para se olhar nestas questões sociais", salientou.

Defendeu também o aumento da despesa de investimento, sobretudo para o sector privado angolano: "Porque só com investimento em infra-estruturas é que se pode ver uma produção agrícola que chega ao mercado".

"Que permite baixar preços de forma consistente e reduzir essa dependência que Angola tem em relação às importações", apontou.

Estabilidade vs Transformação Económica em Angola foi o tema do encontro, ocasião em que o economista chefe do Standard Bank considerou que só o investimento e compromisso da manutenção das reformas podem afastar Angola da volatilidade do preço do petróleo.

Uma dinâmica importante dos últimos anos em Angola, adiantou, "tem sido sem dúvidas o aumento do PIB do ponto de vista nominal, este PIB sem dúvidas que foi inflacionado, inflação aumenta o valor nominal do PIB, mas também beneficiou de um câmbio que se apreciou".

"Então, nós temos um PIB que saiu de 60 biliões de dólares em 2020 e este ano vai fechar, provavelmente, em torno dos 120 biliões de dólares", estimou.

Salientou igualmente que a variação do PIB, "combinada com a prudência fiscal que Angola tem demonstrado nos últimos anos", permitiu uma redução substancial do rácio da dívida pública em relação ao PIB.

"De 120 por cento em 2020, este rácio está abaixo de 70 por cento este ano, o que nos pode fazer pensar que Angola tem um espaço adicional para contrair nova dívida", realçou.

Segundo ainda Faúsio Mussá, o kwanza depreciou em cerca de 10 por cento em Outubro e em 11 por cento até metade de Novembro de 2022, admitindo que factores internos estejam na origem da desvalorização da moeda angolana.

A conta corrente da Balança de Pagamentos, explicou, "mostra ainda um nível de robustez extremamente elevado 9 biliões de dólares foi o saldo da conta corrente da Balança de Pagamentos no primeiro trimestre de 2022, que é um valor excepcional para esta economia".

"O tesouro é um grande operador do mercado cambial, cerca de um terço das divisas que são fornecidas no mercado cambial são disponibilizadas pele tesouro, provavelmente houve alguns factores internos que ditaram alguma redução na oferta de moeda e por essa razão temos uma depreciação do câmbio", argumentou.

"Felizmente, o câmbio reage à esta situação, sempre que há um desequilíbrio entre a oferta e a procura o kwanza reage e isso é saudável, porque se isso não acontecesse o mercado poderia estar a operar numa situação em que o câmbio se mantém estável", assinalou.

Uma "forte disciplina" do ponto de vista da gestão macroeconómica em Angola é o que defendeu ainda Faúsio Mussá: "Ou seja, se não houver fundamentos que permitam uma estabilidade da moeda, a moeda tem que reflectir esse equilíbrio entre a procura e a oferta", rematou.

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