Adriano Manuel, médico pediatra e presidente do Sinmea, está suspenso de exercer a sua função, há 18 meses, após denunciar a morte de cerca de 20 crianças, em dois dias, no Hospital Pediátrico de Luanda onde trabalhava.
Esta Terça-feira, em conferência de imprensa de anúncio de greve nacional dos médicos, a partir de 6 de Dezembro próximo, o secretário provincial de Luanda do Sinmea, Miguel Sebastião, considerou a suspensão do pediatra como "ilegal" admitindo "motivações políticas".
Para Miguel Sebastião, a suspensão ratificada pelo Ministério da Saúde configura-se numa "violação da lei sindical, uma vez que nenhum sindicalista pode ser transferido sem a sua vontade no exercício da sua função".
"Até hoje, a resposta que o ministério nos deu foi 'ele que aguarde porque está a receber o salário base que é de 320.000 kwanzas', essa não é uma resposta insultuosa", questionou o também médico.
"Deveriam encontrar caminhos para nos dizer que o mesmo seria já colocado, mas o ministério acha que um pediatra, tendo o país com um elevado índice de mortalidade infantil, deve estar jogado à sua sorte por ter denunciado morte de crianças", realçou.
Segundo Miguel Sebastião, a comissão de ética e deontologia da Ordem dos Médicos Angolanos inclusive já deu o seu parecer sobre o assunto, garantindo que Adriano Manuel não violou a ética profissional, mas apenas defendeu o bem maior que é a vida.
"Mesmo assim, por questões políticas, o Dr. Adriano continua assim, só por causa disso já deveria ser motivo para greve, mas nós pensamos que a greve é o último recurso e demos este espaço para podermos chegar a um entendimento", sustentou.
A sindicato também questionou o "silêncio" do Presidente João Lourenço, do vice-Presidente, do Provedor de Justiça e do Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, para onde foram remetidas cartas sobre o assunto, sem resposta.
O levantamento da suspensão do presidente do Sinmea constitui um dos pontos do caderno reivindicativo remetido à entidade patronal, a 20 de Setembro de 2021, em que os médicos exigem também melhores salários, subsídios, condições de trabalho e outros.
A greve dos médicos deve durar cinco dias, entre 6 e 10 de Dezembro próximo, sendo que a entidade patronal está aberta às negociações, que devem começar já na Quarta-feira.
Miguel Sebastião afirmou ainda que caso o presidente do sindicato dos médicos não for colocado, os profissionais do sector "não deverão levantar a greve".