"Se África for pressionada para cumprir os calendários externos relativos às alterações climáticas e não puder usar internamente os seus recursos de petróleo e gás, e tiver de mudar para as renováveis antes de estar pronta, isso criará um fardo financeiro injusto para os países africanos, para além de problemas económicos significativos", escreveu o presidente da CAE, NJ Ayuk, numa nota enviada à Lusa.
"Por todo o continente, os países africanos enfrentam uma insistência dramática de vozes do Ocidente para pararem as actividades de petróleo e gás e mudarem imediatamente para fontes de energia renovável", acrescenta, avisando, no entanto, que isso é impossível e prejudicial ao continente que menos contribui para a emissão de gases poluentes.
Com mais de 1 milhão de barris bombeados todos os dias, 8 mil milhões de barris em reservas petrolíferas e 11 biliões de pés cúbicos de reservas de gás, "Angola é um país rico em recursos, convenhamos", escreve o presidente da organização destinada a promover os investimentos energéticos em África.
No texto, NJ Ayuk elogia o Governo pelas reformas que "preparam o caminho para a diversificação económica num contexto de transição para energias renováveis" e diz que "Angola tem uma oportunidade de mostrar ao mundo que os combustíveis fósseis podem desempenhar um papel significativo no caminho para a energia verde".
A utilização de gás natural como combustível de transição é defendida, mas "sem a energia do petróleo e gás para financiar as novas iniciativas, energias verdes como a solar corem o risco de falhar, prejudicando milhões de angolanos que já vivem em pobreza energética".
O país, aponta, precisa de tempo, porque "não é realista pensar que ao limitar a produção de petróleo, Angola vai simplesmente adoptar energia verde no dia a seguir porque o processo demora anos, se não décadas", avisa.
"Para a transição energética ser justa, Angola tem de ter tempo para capitalizar os esforços actuais, e tem de desenvolver a sua indústria de renováveis a uma velocidade que torne o país mais forte, fechar uma das principais fontes de receita não empurra Angola para as renováveis mais depressa, antes abranda o progresso porque o país fica sem capital para financiar essa iniciativa", conclui Ayuk.
Milhares de especialistas, activistas e decisores políticos reúnem-se a partir de domingo em Glasgow na 26.ª cimeira das Nações Unidas sobre alterações climáticas (COP26), com o objectivo principal de travar o aquecimento do planeta.
As alterações climáticas são, segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, o maior problema da humanidade, e vão afectar dramaticamente o futuro se nada de substancial for feito.
As emissões de gases com efeito de estufa, que os países tentaram controlar no Acordo de Paris de 2015, mas que continuam a aumentar, estão já a afectar o clima e a natureza das mais diversas formas, segundo os cientistas.
Em África, as necessidades energéticas estão estimadas em 700TW (terawatts), o que é 4.000 vezes mais do que os 175GW (gigawatts) de capacidade eólica e solar que o mundo inteiro adicionou em 2020, por isso "África não se pode industrializar recorrendo apenas à energia solar e eólica", apontam os economistas.
Dos 1,3 mil milhões de africanos, 600 milhões não têm acesso a electricidade, e a Agência Internacional da Energia estima que o número suba 30 milhões devido à pandemia de covid-19.
Há 48 países na África subsaariana, excluindo a África do Sul, que emitem apenas 0,55 por cento das emissões de CO2, mas sete dos 10 países mais vulneráveis às alterações climáticas estão nesta região.