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Presidente anuncia “diálogo” com jovens esta Quinta-feira

O presidente, João Lourenço, vai promover um diálogo com a juventude esta Quinta-feira, numa altura em que os jovens estão no centro das atenções, protagonizando nas ruas a contestação e insatisfação com o Governo.

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Segundo a página de Facebook do Centro de Imprensa da Presidência da República de Angola, o encontro vai ser moderado pela jornalista Mara d'Alva e o empreendedor Danilo Castro.

A lista de jovens convidados a dialogar com o presidente não foi divulgada, mas segundo informações do presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, estarão presentes 25 activistas, bem como representantes do associativismo juvenil e de organizações juvenis das formações políticas com assento parlamentar.

Além do próprio Francisco Teixeira, um dos cerca de 100 manifestantes detidos durante uma semana na passada marcha de 24 de Outubro, vão estar com João Lourenço alguns activistas do processo que ficou conhecido como 15+2, como Albano Bingo Bingo, Mbanza Hamza e Arante Kivuvu, entre outros "revus", como têm sido apelidados os jovens revolucionários, como Emiliano Catumbela, Leo Paxi Kenyatta ou Rosa Mendes, filha do deputado David Mendes.

Segundo Francisco Mendes, o MEA, como integrante do Conselho Nacional da Juventude, tem estado activamente envolvido na organização do encontro.

Benedito Jeremias, ou Dito Dali, um dos promotores das últimas manifestações disse ter sido convidado informalmente, mas rejeitou o convite por "não ver a pertinência do encontro".

Segundo Dito Dali, o presidente conhece as reivindicações dos jovens que "são públicas" e nada fez para atendê-las até ao momento.

"Não se pode criar diálogo só para ter diálogo. [O Presidente] tem poder de decisão para atender as nossas exigências", sublinhou, considerando o encontro como uma forma de "manipulação dos jovens".

Questionado pela Lusa, o activista e 'rapper' luso-angolano, Luaty Beirão, outra das vozes críticas do Governo, que também integrou os "15+2" (processo onde 17 activistas foram condenados por actos preparatórios para uma rebelião e associação de malfeitores na época do ex-presidente José Eduardo dos Santos), afirmou não ter sido convidado para o encontro.

Outro activista dos "15+2", Francisco Mapanda (Dago Nível Intelecto) disse também que não foi convidado e que teria declinado o convite se o fosse.

Nas últimas semanas, as ruas de Luanda foram palco de confrontos entre grupos de jovens que queriam manifestar-se contra o desemprego e pela melhoria de condições de vida e realização de eleições autárquicas em 2021, mas foram duramente reprimidos pela polícia.

No dia 24 de Outubro, uma tentativa de marcha acabou com mais de 100 detenções, incluindo jornalistas.

No dia 11 de Novembro, dia da Independência Nacional, a tentativa de manifestação ficou marcada pela morte de um jovem estudante de 26 anos, Inocêncio de Matos, em circunstâncias ainda por explicar.

A versão oficial do hospital Américo Boavida indica que o jovem morreu na sequência de uma agressão com objecto contundente não especificado, após uma intervenção cirúrgica.

Testemunhas que se encontravam junto a Inocêncio de Matos afirmam, no entanto, que este foi atingido por uma bala. A polícia, que recorreu a gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar os manifestantes, nega ter usado meios letais para travar os jovens.

Vários activistas denunciaram também detenções de pessoas que tentavam organizar o protesto, em províncias como Benguela e Cabinda, e outros relataram ter sido raptados e ameaçados nas redes sociais.

Estudantes que queriam homenagear o colega morto, que frequentava o 3.º ano de Ciências da Computação na Universidade Agostinho Neto, trajando de negro e cumprindo um minuto de silêncio, lamentaram ter sido impedidos de o fazer pela direcção do estabelecimento de ensino

Nas redes sociais, jovens activistas expressaram indignação com a morte do estudante e criticaram a violência policial e a governação de João Lourenço, tendo-se já popularizado o slogan crítico "J-LO, 2022 vais gostar", numa alusão às próximas eleições gerais marcadas para 2022.

O MPLA tem tentado aliviar as tensões, com enfoque nos programas de governação direccionados para a juventude e contra-atacou recentemente com uma campanha nas redes sociais onde militantes dão a cara em apoio ao presidente João Lourenço.

Dos cerca de 30 milhões de angolanos, 66 por cento têm menos de 25 anos e 48 por cento tem idade inferior a 15 anos de idade, segundo o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP).

O desemprego tem sido apontado como um dos principais problemas para esta camada da população.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos ao terceiro trimestre de 2020, revelam que 56,4 por cento dos jovens, entre os 15 e os 24 anos, não têm trabalho.

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