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Prodígio lança single em homenagem ao pai onde aborda a escravatura e a colonização

Nasceu das cinzas da pessoa mais importante da vida de Prodígio, o pai Domingos, e é a primeira música de um álbum que sai no próximo mês de Dezembro, que coloca fim a uma maratona de oito discos lançados pelo artista em apenas um ano.

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'Afrika' foi lançado esta Terça-feira – o primeiro avanço de 'King2da', álbum imaginado para o pré-covid que a doença adiou, mas não em definitivo. Trata-se de um single com simbolismo familiar e não só, que parte do saber familiar para reatar um debate sobre o que é ser negro. "Volta para a tua terra, mas tu nasceste na Amadora" é uma das muitas perplexidades levantadas por Prodígio nos seus versos.

"A música surgiu depois do falecimento do meu pai. O meu irmão Nilton e um amigo de casa, NZ, que também canta, tinham a voz do meu pai gravada numa produção dele. O Nilton passou-me as gravações para que eu as usasse, porque para ele, eu era o único que merecia cantar pela relação próxima que tinha com o meu pai. O facto de eu já ter gravada a versão do Gutto - de ser negro, a música casou como se fosse a mesma história. E foi assim que nasceu a música", explica Prodígio, em comunicado remetido ao VerAngola.

O single, já disponível em todas as plataformas digitais, retrata a necessidade de se abordar e conversar sobre a escravatura e a colonização. "As redes sociais continuam a mostrar histórias de pessoas pretas 'africanas' a serem maltratadas, algumas espancadas à luz do dia, outras por falta de passe, são coisas absurdas e que me incomodam bastante. É uma conversa que eu acredito que só é desagradável porque não se fala", refere.

'Afrika' é unida por laços familiares indestrutíveis. Os escritos são de Prodígio, o lamento do refrão do pai Domingos e a produção do irmão Nilton, a que se junta ainda um coro religioso para ampliar a dimensão espiritual da canção. Porém, "mais do que um grito de revolta, é uma chamada de atenção", realça Prodígio. E uma reflexão, de que ser africano é apenas ser um ser humano.

"De uma coisa tenho a certeza e vem da minha alma, viemos todos de um mesmo sítio. Precisamos de muito diálogo para entendermos o que temos em comum e percebermos todas as nossas diferenças. Esta música é um contributo para esta conversa, serve de um clamor de que todos somos iguais".

O artista lembra ainda a importância do pai na sua vida e na música: "Eu amava as coisas através do meu pai. Tanto é que depois de o perder deixei de ver o mundo da mesma forma. O meu pai deixava-me muito à vontade para ser eu próprio, e eu acho que é o segredo da minha música, porque eu tinha medo e muita vergonha de lhe falhar, ou de ele saber que eu falhei", conta.

Sobre a vontade de editar oito álbuns num só ano, Prodígio explica que surgiu como "terapia": "O ano 2020 foi o pior da minha vida, não só pela pandemia, mas por ter perdido tanta coisa. Quase tudo perdeu a graça. Eu comecei a ficar preocupado pois não me podia dar ao luxo de conversar por tanto tempo com a depressão. Então, na verdade, os oitos álbuns surgiram como terapia. Eu precisava de me afogar no trabalho e foi o que fiz".

O lançamento de oito álbuns num único ano, que se cumpre em Dezembro próximo, representa um recorde, estando o artista a preparar a sua candidatura ao Guiness World of Records. "Acredito que merecemos, porque é realmente um recorde, uma coisa que nunca foi feita, pelo menos dentro da nossa noção, da história do hip-hop, quiçá na história da música. Neste ano trabalhamos de uma forma agressiva, fizemos os possíveis de não conversar ou dialogar por muito tempo com a depressão. Acredito que está na hora de colhermos os frutos", afirma Prodígio.

Prodígio abriu recentemente o primeiro centro juvenil Prodigia-te, no Prenda, o bairro de onde saiu e para onde volta sempre. "Neste momento estamos a registar os miúdos e a resposta tem sido positiva. Na verdade, tínhamos noção de que precisávamos de fazer as coisas, mas nunca tivemos a noção do quanto as pessoas precisavam disto. Após a abertura do Centro Juvenil, temos tido esta resposta".

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