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Mulher de empresário Carlos de São Vicente queixa-se de “massacre judicial e mediático”

Irene Neto, filha do primeiro presidente angolano, Agostinho Neto, e mulher do empresário Carlos de São Vicente, afirmou-se esta Sexta-feira vítima de um “massacre judicial e mediático” e apelou à libertação do marido, que disse estar “preso injustamente”.

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Num comunicado enviado à Lusa, a médica, também membro do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) lamenta a falta de solidariedade dos camaradas de partido e afirma estar actualmente sem meios para pagar as suas despesas quotidianas, depois de ver as suas contas congeladas.

"Tenho as minhas contas bancárias congeladas. Estou sem meios para prover as despesas quotidianas. A vingança sobre mim e a minha família chegou a um ponto muito próximo de práticas fascistas de triste memória", lamenta, acrescentando que não se vai render "à chantagem, ao abuso de poder, a uma justiça travestida de polícia política".

Em relação ao marido, que se encontra em prisão preventiva na cadeia de Viana por suspeita dos crimes de peculato, branqueamento de capitais e tráfico de influências, envolvendo uma conta de 900 milhões de dólares também congelada na Suíça, afirma ser "um cidadão honrado e cumpridor das leis angolanas" que está preso apenas por ter tido "sucesso".

"O massacre judicial e mediático sobre a minha família e, particularmente, a minha pessoa, representa, sem qualquer dúvida, uma intolerável interferência do poder político no poder judicial e é também uma vingança mesquinha desnecessária", recrimina a filha de Agostinho Neto.

Irene Neto acusa as autoridades de alimentarem "um circo mediático" contra a sua família e diz que o marido é vítima de um julgamento "criado artificialmente e alimentado por sectores bem identificados".

A mulher de Carlos de São Vicente afirma que o marido sempre geriu as suas empresas no sector financeiro, do turismo e no imobiliário "no respeito pelas normas em vigor em Angola e no mercado internacional" e sublinha que até ao momento não foi acusado de nada.

"Porém, as autoridades, que têm o dever de proteger o segredo de justiça, alimentam um circo mediático que representa o julgamento e condenação de Carlos de São Vicente, na praça pública", critica.

"A prisão preventiva do cidadão Carlos de São Vicente é, de facto, o cumprimento de uma pena sentenciada no tribunal populista, presidido por agentes do Ministério Público", continua a filha do antigo presidente, afirmando que não se divorciou do empresário.

"Estamos mais unidos do que nunca e sofremos ambos os mesmos desgostos. Nunca imaginámos que um empresário pudesse ser preso, apenas por ter sucesso nas suas actividades empresariais", escreve Irene Neto no comunicado.

Considera ainda que Carlos de São Vicente está preso injustamente.

"Ele não pode praticar a alegada actividade delituosa, porque já lhe confiscaram todos os bens, até a casa de família. Não pode fugir, porque tem o passaporte caducado. Estar em liberdade ou, pelo absurdo, em prisão domiciliar, não causa qualquer alarme social. Portanto, libertem-no imediatamente", apela, responsabilizando os titulares dos órgãos de soberania por tudo o que acontecer ao marido na prisão.

A médica e ex-deputada do MPLA lamenta não ter recebido "nem uma palavra" de apoio e solidariedade dos seus camaradas, "tirando honrosas excepções" e considera que "este silêncio não dignifica o maior partido histórico de Angola".

Carlos São Vicente está detido desde dia 21 de Setembro por suspeitas da prática dos crimes de peculato, corrupção, branqueamento de capitais e tráfico de influência, bem como recebimento de vantagem indevida e participação económica em negócio.

Em causa está uma investigação que envolve uma conta bancária de Carlos São Vicente congelada na Suíça, por suspeitas de lavagem de dinheiro com cerca de 900 milhões de dólares, segundo divulgou um blogue suíço que acompanha questões judiciais naquele país.

As autoridades judiciais angolanas ordenaram já a apreensão de vários edifícios do grupo AAA, pertencente ao empresário, que está a ser investigado na Suíça por peculato e branqueamento de capitais.

Entre estes estavam os edifícios AAA, dos hotéis IU e IKA, localizados em todo o território nacional e o edifício IRCA, na Rua Amílcar Cabral, em Luanda. Mais recentemente foram apreendidos o Edifício Adli e Thyke Hotel (Tower) em Luanda, um imóvel adjacente ao terminal da transportadora rodoviária Macon, nas imediações do centro de sinistros do grupo AAA e os edifícios n.ºs 29, 30, 31, 32, 33 e 34 situados no condomínio Sodimo, na Praia do Bispo.

O Serviço Nacional de Recuperação de Activos da PGR apreendeu igualmente a participação social minoritária de 49 por cento da AAA Activos no Standard Bank Angola, onde o empresário é administrador não-executivo, tendo o mesmo solicitado suspensão das funções enquanto durar o processo.

O AAA, liderado por Carlos São Vicente, é um dos maiores grupos empresariais angolanos, operando na área de seguros e da hotelaria.

A seguradora AAA deteve, durante cerca de dez anos, o monopólio de seguros da actividade petrolífera.

Em entrevista recente a uma rádio angolana, Isabel dos Santos, filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos afirmou ter "irritado" muita gente ao cancelar contratos que lesavam a petrolífera estatal Sonangol, entre os quais os de seguros, cujos custos afirmou serem muito superiores aos valores de mercado, estimando ter poupado 70 por cento ao escolher outra empresa.

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