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Miss Skills: “Ser rapper é sobretudo um acto de cidadania”

O gosto pela música veio do pai, com quem partilhava os gostos musicais. Apaixonou-se pela cultura hip-hop e praticamente tudo lhe serve de inspiração para criar novas rimas. Em 2009 começou a gravar os seus temas, mas só agora lançou o seu primeiro álbum. Ainda este ano criou o seu próprio estúdio, onde sonha desenvolver vários projectos de música, vídeo e fotografia, visto ser uma apaixonada pelas artes. Miss Skills é uma mulher rapper num mundo dominado por homens, que pensa já no seu segundo álbum e no desenvolvimento do seu projecto, Rapvolução, que quer traduzir num álbum, reunindo o que de melhor se faz no feminino do rap nacional.

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Miss Skills, fale-me primeiro um pouco sobre si… Onde nasceu e cresceu, como foi a sua infância, onde e o que estudou…

Nasci em Luanda e foi aí que cresci até aos 11 anos, mudei-me para Lisboa onde vivi até aos 23 anos. Estudei até ao sexto ano em Luanda e o restante em Lisboa, incluindo a Faculdade. Formei-me em Engenharia Biotecnológica, na Universidade Lusófona. Tive uma infância muito boa e feliz.

Quando surgiu o gosto pela música? Foi influenciada por alguém?

Eu cresci a ouvir muita música em casa. Sentava-me com o meu pai e juntos ouvíamos discos de vinil do Michael Jackson, Boney M., Eddy Grant, entre outros. Ganhei gosto e comecei a moldar os ouvidos desde pequena.

Porquê o hip-hop? Era um sonho de criança ser rapper? 

Nunca foi meu sonho ser rapper mas sim cantora de R&B, mas consoante fui crescendo fui descobrindo o mundo do rap e a beleza que a cultura hip-hop tem e apaixonei-me. Fui escolhida.

Quais são as suas referências e em quem se inspira quando compõe os seus temas? 

Missy Elliot, Beyoncé e Lauryn Hill são óptimas referencias que uso, desde a sua forma de trabalhar até à forma livre e independente como praticam a sua arte. O dia a dia inspira-me para compor, a vivência, uma notícia, uma história, um olhar, um viajar de pensamentos, tudo serve para se transformar em composição.

Quais os temas que destaca como os seus favoritos? Que mensagem pretende transmitir?

Bem, acredito que o “Ilha de Esperança” seja o mais destacável. Tocou muita gente pois é a história verídica de uma mãe, que fica sozinha com os filhos a passar necessidade, pois o seu marido parte em busca de algo melhor, mas acaba por desaparecer.

Começou a sua carreira musical em 2006, mas só agora lança o seu primeiro álbum, apesar do seu trabalho já estar disponível para download gratuito há algum tempo. Porque decidiu disponibilizar o seu álbum gratuitamente depois de tanto tempo de dedicação e trabalho?

Em 2006 comecei a minha experimentação na produção musical, mas só efetivamente em 2009 é que entrei num estúdio profissional e comecei a gravar. As condições e as minhas contradições mentais, não encontravam a altura certa para lançar o álbum. Na verdade, artisticamente falando, eu quase engavetei o álbum, então quando o disponibilizei para download foi uma forma de me obrigar a fazer mais, e a dar mais passos, porque eu já me tinha exposto, já que guardava o álbum como o meu bebé, que é o que ele representa para mim.

Foi muito recentemente que o seu álbum passou a estar disponível fisicamente para compra, sendo que o show de apresentação do mesmo foi apenas há uns dias atrás. Qual foi a recepção do público ao seu trabalho? Superou as expectativas?

Tive excelentes reacções, muitos elogios e muita gente que me sussurrou no ouvido “finalmente!”. Imenso orgulho por ter dado esse passo… Eu prendi-me ao álbum e agora sinto-me leve, livre e solta, e posso fazer o que bem quiser.

Ainda este ano inaugurou também o seu próprio estúdio, o Epic Studio. Pode falar-me um pouco sobre este projecto?

Eu sonho ter uma editora de sucesso. O meu estúdio é ainda um ensaio daquilo que posso, quero e sei fazer: música – produção, escrita, direcção artística; fotografia – estúdio, exterior, catálogo; vídeo – publicidade, videoclipe e outros. Por isso faço sempre a parte criativa dos meus trabalhos, e chamo alguém apenas para executar.

Em 2015 foi ao Rio de Janeiro representar Angola no Festival Terra do Rap, tendo sido este o grande passo para a sua internacionalização. Quais eram as suas expectativas? Esperava o feedback que teve por parte do público brasileiro?

Foi um enorme passo! Fiquei muito feliz quando o convite surgiu, e sabia que seria bem recebida por aquele povo maravilhoso, e assim foi. Fiz amigos que até hoje perguntam quando lá volto… O público adorou as músicas e eu fiquei com memórias impagáveis.

O que significou para a sua carreira participar neste evento? Sentiu que se abriram algumas portas no mundo musical?

Significou mais um tijolo na base da minha carreira, para fortificá-la, poder pôr no currículo internacionalização no Brasil vale muito. Abriram-se portas sim, principalmente nos meios de comunicação.

Até agora, quais são as maiores dificuldades que tem encontrado ao longo da sua carreira na música, e de que forma as tem ultrapassado?

Sempre digo que artista só tem que ser artista. Sonho poder acordar e criar o dia todo e ir dormir, mas infelizmente ainda é só um sonho, isto é, o artista tem que fazer tudo, ser seu manager, ir atrás do design, não conseguir aproveitar certos momentos plenamente porque tem que postar nas redes sociais que está a vivê-los, tudo que um artista não precisa de fazer caso tenha uma óptima equipa, pois ninguém caminha só para o sucesso. Mas acredito que é algo que estou a conseguir superar.

Para além da música, está envolvida em outros projectos artísticos? Quais?

Sim. Fotografia, vídeo, dança e tentando “cair” na sétima arte. Tenho uma formação básica de actriz, dada pelo grande actor Eric Santos.

O que é que a música e a arte representam na sua vida? Para si o que é ser rapper?

Música e Arte é igual a vida. Equação muito simples. “Sem música a vida não teria graça”.

Ser rapper é sobretudo um acto de cidadania.

Como é ser uma mulher rapper num mundo claramente dominado por homens?

Essa é uma pergunta frequente. Costumo dizer que é como ser mulher no mundo normal, onde os homens claramente dominam. São pequenas batalhas que se trava, são pequenas conquistas, que me permite continuar sempre a fazer mais e melhor.

Por fim, quais os seus projectos para o futuro e qual o seu maior sonho?

Projectos são tantos… Tenho umas 100 pastas de ideias na cabeça. Mas, assim os mais imediatos… Já penso no segundo álbum, tenho o projecto Rapvolução em que sou mentora e fundadora, que é um projecto de lançamento de um álbum, de rap feminino angolano, tenho ideia de um jogo, quero dar mais suor ao estúdio, produzir para grandes artistas, fazer exposições de fotos, fazer curta metragens, etc, etc, etc. A cabeça anda à mil, mas pouco a pouco as ideias vão saindo do papel e se materializando. Lancei recentemente mais um videoclipe idealizado por mim, da música Pariah, do álbum Génesis, está no YouTube e aquele vídeo diz muito sobre mim como artista. O meu maior sonho é ser feliz a fazer aquilo que amo, e com os que amo ao meu lado.

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