"O Governo sabe que teria uma derrota histórica nas eleições autárquicas. O Governo falhou. A governação do Presidente, João Lourenço, começou com expectativas muito altas, mas cedo virou frustração, decepção. Não tem soluções para dinamizar a economia, não tem soluções inovadoras para empreender uma estratégia de desenvolvimento sustentável no nosso país. Não quer correr o risco de perder o poder através do poder local. É uma agenda partidária", disse à Lusa, por telefone, o presidente do grupo parlamentar da UNITA, Liberty Chiaka.
Na óptica deste responsável partidário, o executivo "não pode alegar a pandemia para adiar as eleições", apontando que há "falta de vontade política" por parte da liderança do país.
"O país vai-se abrir para grandes actos de massas", afirmou, destacando a abertura de escolas, igrejas e actividade desportiva durante as próximas semanas.
"Não se pode justificar que, de um lado, se abra a sociedade para grandes aglomerados, se do outro se condiciona a realização das autárquicas, supostamente porque as condições não estão criadas", afirmou.
O líder parlamentar da UNITA acusou ainda o Governo de estar a fazer uma "gestão de poder".
"Temos muita pena e condenamos nos termos mais rigorosos que o Governo continue numa perspectiva de uma gestão do poder em detrimento de uma governação", disse.
Chiaka assinalou que o executivo "deve procurar governar" e que, em Angola, "infelizmente, prevalece a agenda partidária".
O líder parlamentar do maior partido da oposição abordou as eleições presidenciais realizadas no Maláui, em Junho, assim como as presidenciais costa-marfinenses previstas para Outubro deste ano.
"Existem vários exemplos de outras geografias políticas que, no meio desta crise, procuraram não paralisar", acrescentando que a não realização das eleições autárquicas este ano em Angola "é uma prova da incompetência do Governo".
Chiaka sublinhou que a UNITA não pretende "fazer parte de uma agenda partidária em detrimento de uma agenda nacional" e pediu a realização de um diálogo conjunto para que se coloque "o interesse nacional acima de grupos".
"Vamos pressionar o Governo, vamos pressionar o partido que está no Governo no sentido de se realizarem [eleições] autárquicas em 2021. Angola já esperou muito, os angolanos já não podem continuar a aceitar o adiamento das suas expectativas por falta de vontade de um partido político que não consegue realizar as aspirações nacionais", vincou o responsável.
Na Terça-feira, os membros do Conselho da República de Angola consideraram, na sua maioria, que não há condições para realizar as primeiras eleições autárquicas do país.