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Lavar carros em Luanda já é ofício e ganha-pão para muitos jovens

Lavar carros nas ruas de Luanda é hoje uma forma de sustento para centenas de jovens, obrigados por vezes a driblar os agentes de fiscalização, para manterem um ganha-pão de algumas dezenas de kwanzas por mês.

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São na sua maioria jovens com idades entre os 17 e 30 anos que, desde as primeiras horas do dia, marcam presença sobretudo no centro da cidade, numa actividade que muitos fazem já há vários anos, face à falta de emprego para sustentar a família.

Cipriano Sevelela é estudante do 12.º ano e sem qualquer ocupação encontrou na lavagem de carros um meio para custear os estudos, reservando o período da manhã para o serviço de rua e a tarde para a escola. "Diariamente lavo seis carros mas sou apenas pago no fim do mês, porque tenho já um acordo com os proprietários dos automóveis que funcionam aqui nessas instituições públicas", afirmou. "Às vezes aparece um ou outro cliente, esses clientes fixos pagam por mês entre 8000 e 10.000 kwanzas [40 a 50 euros]", revelou à Lusa.

Este lavador de carros, de 25 anos, explica que consegue articular as despesas com o rendimento do trabalho que faz, lamentando apenas os "incómodos" dos agentes de fiscalização, tendo em conta que nem em toda a cidade é possível fazer a actividade na via pública. "Vivo sozinho e ao fim do mês o dinheiro que recebo uma parte gasto com as propinas da escola e outra para as despesas de casa", afirmou.

Driblar agentes da fiscalização no centro da capital angolana é uma tarefa também bem aprimorada por João Domingos, que desde os 18 anos dedica-se à lavagem de carros na rua. Hoje com 27 anos, este lavador de carros lamenta a falta de oportunidades de emprego para muitos jovens na sua condição. "O nosso preço por cada carro são 1000 kwanzas, mas podemos acordar com o cliente até no mínimo 500 kwanzas. Por dia lavo quatro carros, que constam do contrato mensal que tenho e pagam 10.000 kwanzas por cada carro", contou.

João Domingos explicou ainda que é lavador de carros há nove anos, por ser esta a única alternativa que encontrou para sobreviver. "Porque não há oportunidades, não há emprego e essa é a minha alternativa para a sobrevivência, muita correria e onde procuramos o pão é onde comemos. E assim estamos aqui, mesmo apesar da complicação dos ficais aguentamos, porque não temos onde ir", lamentou. "O que nós queremos é só oportunidade de emprego, também podemos ajudar o país", observou.

Já Pascoal Apolinário lava carros há dois anos e diz que consegue ter um rendimento semanal entre 5000 e 6000 kwanzas, que varia em função dos dias, mas é nos contratos mensais com os donos das viaturas onde encontra "melhor conforto", por ser este um "dinheiro já garantido".

"Quanto ao nosso rendimento, a maior parte dos jovens que lavam carro aqui têm já um contrato mensal firmando com alguns clientes se bem que há outras ocasiões em que também aparecem aqueles clientes desconhecidos e também trabalhamos normalmente", disse.

A cobrança de 1000 kwanzas por viatura também resulta de um acordo com o cliente: "É discutível porque há clientes que dizem que só podem pagar a metade e nós como estamos a precisar recebemos e fazemos o serviço porque há aqueles dias mesmo difíceis".

Segundo o lavador de carros, de 31 anos, que diz ser também técnico de construção civil, a carência de emprego levou-o à rua para não ver os dois filhos e a esposa a passar fome. "Estamos aqui porque não temos uma outra ocupação, não temos emprego e aqui conseguimos o nosso sustento. Há muita gente que não respeita o nosso trabalho e depois ainda somos pressionados sempre pela fiscalização mas estamos firmes para não faltar o pão em casa", explicou.

Das 06h00 às 17h00 é o tempo que Daniel Bonga reserva, todos os dias da semana, para lavar carros nos estacionamentos do centro de Luanda, ofício a que se dedica há dois anos devido a falta de emprego. "Esta é solução que encontramos para cobrir a falta de emprego, estamos aqui a nos remediar em busca do pão", realça o jovem, de 25 anos.

Na modalidade contratual com proprietários de viaturas, Daniel Bonga tem já dois clientes fixos que o garantem 20.000 kwanzas por mês. "E com esse dinheiro já consigo cobrir algumas necessidades de casa, a par de outros carros, dois ou três, que podemos lavar sempre que aparece. E é assim a nossa luta diária, esperando uma bênção de um emprego", atirou.

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