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Analista exorta líderes religiosos a não influenciarem sentido de voto de fiéis

Um analista político angolano exortou esta Quinta-feira os líderes religiosos a não caírem na “tentação” de fazerem apelos ao sentido de votos dos fiéis, no culto ecuménico sobre as eleições, e “reprova” a aproximação de políticos nas igrejas neste período.

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"Espero que ninguém tenha a tentação de usar o culto ecuménico para fazer apelos no sentido de voto, porque ali já seria desvirtuar o carácter e a natureza de um culto ecuménico feito com o objectivo de apenas orar para que o processo eleitoral seja pacífico", afirmou à Lusa o analista Augusto Santana.

O especialista considera as eleições como uma festa, que visa o reforço da democracia do país, e reitera a necessidade dos líderes religiosos se absterem de fazer apelos directos ou indirectos ao voto para qualquer partido.

Porque, observou, "estes [partidos] têm a sua estratégia para angariar votos e a igreja deve focar naquilo que é seu papel e deve quando muito apelar à boa postura do cidadão eleitor a fazerem o seu voto consciente sem distúrbios".

"E a se manterem calmos e serenos e que seja um espaço de reforço da educação cívica eleitoral", salientou.

Associações de igrejas cristãs do país convocaram para o próximo Domingo um culto ecuménico em prol das eleições gerais de 24 de Agosto, iniciativa em que não participa a Igreja Católica que prefere focar-se na novena.

O evento, segundo uma nota do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, que convida à cobertura jornalística "destina-se a sensibilizar" todo o povo angolano, "para que as eleições decorram em ambiente de paz e tranquilidade, no contexto do direito de cada eleitor exercer o seu direito de cidadania, através do voto".

O culto religioso, que vai celebrar-se no Domingo no Estádio 11 de Novembro foi convocado pelo Conselho das Igrejas Cristãs em Angola (CICA), a Aliança Evangélica de Angola (AEA) e o Fórum Cristão Angolano sob o lema: "Orai pelas autoridades para que tenham vida tranquila".

Em declarações à Lusa, o representante da diocese de Luanda no diálogo ecuménico, Adelino Moma, disse que a Igreja Católica foi convidada, mas está neste momento focada na novena que se iniciou na Segunda-feira.

Augusto Santana valorizou, por outro lado, a iniciativa deste culto," onde geralmente se fazem apelos à paz e à reconciliação", admitindo que o mesmo venha a "ajudar a acalmar um pouco os ânimos".

"Há pessoas que estão com algum receio e, em minha opinião, fundados, de que pela nossa história e um conjunto de coisas que estamos a assistir que possa haver algum distúrbio, e esse culto é exactamente para pedir a Deus, aos fiéis e aos dirigentes que estejam iluminados", frisou.

"E que todos trabalhem para que a paz se mantenha, o culto é mais no sentido de que somos todos angolanos, vamos fazer as eleições em paz, trabalhar para a reconciliação, nesse sentido o culto é importante", apontou.

No final de um culto ecuménico realizado Domingo, em que participou o reverendo Luís Nguimbi do Fórum Cristão Angolano, Higino Carneiro, membro do comité central do MPLA, no poder desde 1975, apelou aos crentes da igreja evangélica que preservem a paz e pediu para que, depois de votarem, regressem as suas casas.

Numa acção de caça ao voto no município do Cazenga, um dos mais populosos de Luanda, Higino Carneiro foi sensibilizar os crentes para exercerem o seu direito, escolhendo "exactamente aqueles que tudo fizeram para que Angola fosse aquilo que é hoje" e pedindo que votem "no partido que deu mostras de estabilidade e desenvolvimento aos angolanos".

O analista político recorda que a aproximação de políticos às igrejas em período eleitoral data desde 1992, ano em que Angola realizou as primeiras eleições, reprovando, no entanto, a prática pelo facto do país ser um Estado laico.

"É uma altura que diferentes partidos vão conversar com os líderes, certamente pedir o seu apoio ao voto no sentido que os líderes possam influenciar os seus fiéis, isso tem o valor que tem", disse.

Mas, por outro lado, argumentou: "Coloca-se a questão que estamos a tentar construir um Estado laico em que a igreja e o Estado são entes separados e quando começamos a misturar depois fica difícil perceber onde começa e termina o outro e pode criar alguma confusão e conflitos como já vimos nalguns países".

"Não sou a favor desse tipo de aproximação (...). Tenho visto agora quase todos os líderes em visitas em diferentes igrejas, mas acho que vai ser preciso no futuro uma reforma na nossa legislação e se calhar colocar mesmo no código de conduta que esse tipo de aproximação em época eleitoral não seria aceitável", concluiu Augusto Santana.

A Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais de Angola consagra, nos seus artigos 68 e 69 proibições e locais interditos ao exercício de propaganda política.

Entre estes incluem-se unidades militares e militarizadas, instituições públicas, instituições de ensino, locais de culto, hospitais e estabelecimentos similares, instalações dos órgãos da administração eleitoral independente, e a 250 metros dos locais onde estão instaladas as assembleias de voto.

Para as eleições gerais de 24 de Agosto concorrem oito forças políticas, sete partidos e uma coligação de partidos, num sufrágio onde estão inscritos 14 milhões de eleitores.

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