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Angolanos detidos em Luanda por desacato começaram a ser ouvidos

Um grupo de 35 angolanos detidos por desacato nos últimos dias começaram esta Segunda-feira a ser ouvidos no Tribunal de Comarca de Luanda, num processo sumário, que envolve cidadãos anónimos que se queixam de abusos policiais.

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À Lusa, nenhum dos 32 homens e três mulheres se apresentou como activista e todos se queixaram de arbitrariedade policial e más condições da detenção.

"O meu cliente estava à hora errada no sítio errado", afirmou Francisco Damião, o único advogado constituído para um dos arguidos. Os restantes ficaram com advogados oficiosos nomeados pela justiça para o processo sumário, que será julgado esta Segunda-feira.

"É a primeira vez que fui detido. Estava a passar no Primeiro de Maio e vi gente a correr da polícia e eu também corri", disse um dos arguidos à Lusa que enchiam o espaço destinado à audiência numa das salas do Palácio Ana Joaquina.

Para o Largo Primeiro de Maio chegou a ser convocada uma manifestação nas redes sociais no Sábado de manhã, cujo acesso foi impedido pelas autoridades policiais.

De t-shirt preta e visivelmente abatido, outro arguido disse à Lusa que não está envolvido na política e recusa qualquer ligação a partidos da oposição ou a activismo social.

"Eu trabalho, tenho a minha vida. Até votei MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola]", afirmou.

Outro arguido explicou as condições da detenção: "Os homens dormiram todos no Comando (Geral da Polícia de Luanda), na mesma cela, com comida má, sem cama sem nada".

Esta Segunda-feira de manhã, familiares dos arguidos entregavam comida aos detidos na sala audiência, fruta, bebida e bolachas que eram partilhadas em pequenos grupos.

O incómodo por estar no tribunal e perante os jornalistas presentes na sala era evidente. "Não me filme que o meu pai não sabe que estou aqui", disse outro dos arguidos.

Dos detidos contactados pela Lusa, nenhum disse ter já estado preso nem invocou qualquer motivação política para a acusação de "desacato e desordem", invocada pelas autoridades.

De 16 anos, um jovem de t-shirt laranja dormiu debaixo de tecto nas últimas duas noites e é dos poucos que não se queixou das condições.

"Vivo na rua, fui preso por pedir esmola junto ao Primeiro de Maio", explicou o jovem.

As autoridades têm reforçado o policiamento em zonas sensíveis da cidade e têm impedido a realização de qualquer manifestação de opositores ou activistas contra os resultados das eleições de 24 de Agosto.

Os dados provisórios divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) indicam uma vitória com maioria absoluta do MPLA, um resultado já contestado pela União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

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