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Política Morte de José Eduardo dos Santos

Filhos recusam funeral em Angola. PR diz que conta com a presença de todos

A advogada que representa Tchizé dos Santos disse na Sexta-feira que o antigo Presidente não queria ser enterrado em Angola para evitar um aproveitamento político da cerimónia e porque os filhos não podem entrar no país. No entanto, o actual Presidente, João Lourenço, disse que o Governo vai organizar as exéquias fúnebres do ex-chefe de Estado José Eduardo dos Santos, para as quais conta com a presença de todos, incluindo a família “que está lá fora”.

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"Tchizé e os irmãos querem que se respeite a vontade do pai, que é não ser enterrado em Angola, mas sim em Espanha, porque não quer que o actual Presidente da República utilize o seu enterro com fins políticos", disse Carmen Varela à Lusa acrescentando que, para além disso, um enterro em Angola impossibilitaria o último adeus de vários familiares próximos, já que alguns dos filhos "não podem entrar em Angola e nem sequer têm passaporte angolano".

A advogada que representa uma das filhas do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, que faleceu na Sexta-feira depois de duas semanas internado numa clínica privada em Barcelona, confirmou que foi interposta uma providência cautelar no tribunal para que o corpo não seja trasladado para Angola e revelou que "a clínica Teknon disse-nos que o corpo não vai sair da clínica enquanto não houver ou uma ordem judicial ou um acordo entre todos os filhos".

Carmen Varela argumenta que "José Eduardo dos Santos já não era diplomata, a sua residência era Barcelona, e os únicos que têm decisão sobre o local do enterro são os filhos, já basta de manipulações políticas".

Questionada sobre se existe algum documento onde essa vontade de José Eduardo dos Santos esteja expressa, a advogada disse que não viu esse documento, mas afirmou que foi entregue no tribunal uma declaração dos filhos onde essa vontade do pai está registada.

"Nem os ministros nem o Presidente podem passar por cima do desejo da família, a família não vai autorizar nenhum enterro em Angola porque os filhos do primeiro casamento não podem entrar em Angola e querem despedir-se do seu pai de forma livre em Espanha", salientou, concluindo que forçar a trasladação para Luanda seria "uma violação dos direitos humanos da família".

João Lourenço diz que conta com a presença de todos para o funeral

Já o Presidente, João Lourenço, disse na Sexta-feira que o Governo vai organizar as exéquias fúnebres do ex-chefe de Estado José Eduardo dos Santos, para as quais conta com a presença de todos, incluindo a família "que está lá fora".

"Se tivermos em conta as actuais circunstâncias não vemos por que razão a família que está lá fora não [possa] acompanhar o seu ente querido, estamos a contar com a presença de todos sem excepção de ninguém", disse João Lourenço, à saída de uma reunião de emergência do MPLA, partido do poder e do qual José Eduardo dos Santos foi presidente emérito.

De referir que Tchizé dos Santos, que vive há vários anos fora de Angola perdeu o mandato de deputada do MPLA em 2019 e afirma correr risco de vida no seu país, enquanto a irmã mais velha, Isabel dos Santos, também a residir no exterior, enfrenta vários processos judiciais e diz ser vítima de perseguição.

Questionado sobre as acusações das filhas mais velhas do ex-presidente, João Lourenço disse que o foco neste momento é a organização das exéquias e que é obrigação do executivo realizar um funeral de Estado.

"Nenhuma autoridade do país tem competência para impedir que um cidadão angolano que esteja a viver no exterior possa regressar ao seu próprio país, não importa em que circunstância", salientou o chefe do executivo.

Sobre o seu antecessor na presidência, Lourenço afirmou que "Angola acaba de perder um grande filho (...) que dedicou toda a sua juventude, toda a sua vida para o bem de Angola e dos angolanos".

O chefe de Estado deixou ainda um apelo: "Para que encaremos este momento com a maior serenidade possível e que o povo siga, pela comunicação social, o programa das exéquias até que consigamos realizar o funeral de Estado a que ele tem direito e que é nossa obrigação enquanto executivo organizar".

Dirigindo-se à família, afirmou que "não sofrem sozinhos".

"Estamos solidários neste momento difícil", sublinhou João Lourenço, dizendo que "a dor que a família sente todo o angolano sente".

José Eduardo dos Santos morreu na Sexta-feira aos 79 anos numa clínica em Barcelona, Espanha, após semanas de internamento.

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