A crise provocada pela covid-19 e a queda abrupta do preço do petróleo empurraram Angola para uma situação complicada, em termos financeiros, obrigando o país a recorrer a mais financiamento.
De acordo com o jornal Expansão, que cita o terceiro relatório de avaliação do FMI sobre o cumprimento do programa de ajuda financeira, ao pedido inicial de 3700 milhões de dólares, o Governo pediu para que este ano lhe sejam emprestados mais 3821 milhões de dólares e 2899 milhões de dólares no próximo ano.
Os valores pedidos para este ano vão obrigar a que seja feita uma nova negociação da dívida com os credores, no valor de cerca de 2591 milhões de dólares, indica o Expansão.
"O aumento [do empréstimo do FMI] forneceria parte do financiamento adicional necessário, com o restante a ser fornecido pela G20 DSSI [iniciativa de suspensão do serviço da dívida do G20] e pela reestruturação da dívida. Além disso, com a expansão esperada da pandemia em Angola, as autoridades gostariam de ter espaço para avançar na importação de medicamentos e de testes e, portanto, está a solicitar uma reformulação dos desembolsos do FMI para o restante de 2020", aponta o documento da instituição financeira sediada em Washington.
O pedido apresentado por Angola vai ser analisado pelo FMI no dia 30 de Julho e, caso seja aceite, a dívida de Angola ao FMI representará cerca de 6,2 por cento do PIB de Angola.
Contudo, o relatório aconselha a que o FMI aceite o pedido por considerar que Angola tem capacidade para saldar a dívida.
Os autores da terceira avaliação ao cumprimento do programa assinalam que "os riscos para o FMI serão mitigados pela renegociação da dívida com outros credores".
Neste capítulo insere-se a moratória de três anos no pagamento de juros e amortizações obtida junto da China, país a que Angola deve perto de 22 mil milhões de dólares, entre dívida bilateral e comercial.
O FMI aponta que Angola "já concluiu a reestruturação da sua dívida com dois 'grandes credores' internacionais" e que "está a negociar o alívio da dívida com um terceiro".
O relatório citado pelo Expansão refere ainda que após a moratória de três anos, o pagamento do maior empréstimo terá de ser feito em sete anos, a partir de 2024.
"Desta forma, entre a renegociação com os principais credores e o aumento do financiamento do FMI, estará garantida a sustentabilidade da dívida nos próximos tempos. Mesmo que, segundo o relatório, esta atinja os 123 por cento do PIB no final de 2020", lê-se no semanário.
A renegociação da dívida e um aumento do financiamento por parte de instituições multilaterais permitiu ao executivo evitar um possível 'default' – ou incumprimento no pagamento da sua dívida –, uma situação que prejudicaria o país, que ficaria impedido de obter novos empréstimos.
Além dos financiamentos por instituições multilaterais – como FMI e Banco Mundial –, o relatório aponta que Angola "contará ainda com dinheiro vindo das privatizações que estão em curso, desbloqueios de linhas de crédito já abertas, utilização de reservas públicas e a venda de activos financeiros do Fundo Soberano de Angola", diz o Expansão, condições que FMI acredita que irão reduzir "as necessidades de empréstimos".