Ver Angola

Economia

Angola terá maior contracção da economia dos últimos 38 anos

O Cedesa, entidade de análise, considera que o Orçamento do Estado revisto mostra que Angola terá "a maior contracção dos últimos 38 anos", mas que o preço estimado do petróleo dá margem ao Governo para reformas.

:

"Na verdade, segundo o relatório de fundamentação do OGE revisto, elaborado pelo Ministério das Finanças, projecta-se a maior contracção da economia angolana dos últimos 38 anos, com o PIB a contrair -3,6 por cento", afirma o Cedesa, numa análise ao OGE revisto de Angola, a que a Lusa teve acesso.

Porém, o grupo de académicos portugueses e angolanos que integram aquela entidade, consideram que “se o OGE revisto prevê um preço de 33 dólares por barril [de petróleo] e este vai estando acima dos 40 dólares, podendo subir” isto “quer dizer que existe alguma margem de manobra para o Governo" poder fazer reformas necessárias.

O valor de 33 dólares por barril de petróleo, principal fonte de receita da economia, na base do qual foi traçada a revisão do OGE, é um valor "meramente indicativo, pois muitos dos contratos petrolíferos já estão com preços anteriormente estabelecidos e não dependem de oscilações", salienta-se no relatório.

Além disso, "parece existir uma tendência para ter o preço acima dos 40 dólares, ao mesmo tempo que, no curto prazo, não se vê razão para não começar a existir um aumento da procura do petróleo ligado à recuperação das economias mundiais".

A tudo isto liga-se ainda "a instabilidade cada vez mais intensa no Golfo Pérsico e os problemas na Venezuela", enumeram os académicos no relatório.

Todos estes factores conjugados "poderão contribuir para alguma pressão no sentido da subida do preço do petróleo", concluem no documento, alertando, porém, que essa subida "não deverá ser tão acentuada que volte a inundar Angola de petrodólares".

De acordo com o OGE, a grande quebra do PIB é provocada pelo petróleo e, “por ironia", são os outros sectores da economia que acabam por conter a queda, realça a análise.

Assim, o Cedesa, refere que o PIB do sector de hidrocarbonetos (petrolífero e gás)irá contrair em 7,0 por cento, enquanto a taxa de crescimento média projectada para os demais sectores se situou em -2,1 por cento, para considerar que "facilmente se percebe que a grande quebra do PIB é provocada pelo petróleo e que são os outros setores que ainda seguram a queda".

No relatório, com o título: "A revisão do Orçamento Geral e a reforma da economia angolana", o Cedesa destaca ainda as projecções que apontam para um défice fiscal equivalente a 4,0 por cento do PIB, o que representa um agravamento de 5,2 pontos percentuais face ao valor previsto no OGE inicial para este ano.

Deste modo, "o saldo primário deverá estar em torno dos 2,2 por cento do PIB, um valor inferior ao inicialmente projetado em 4,9 pontos percentuais. O actual valor do Orçamento reflecte uma redução de 15,7 por cento relativamente ao OGE 2020 inicial".

"Naturalmente, um OGE mais pequeno, reflecte uma economia mais pequena", sublinha o Cedesa.

Um outro aspecto que os académicos destacam no documento é o facto de o Estado passar a gastar mais com o sector social do que com os juros da dívida pública, "não tanto por Angola ter aumentado as despesas sociais, mas de se ter diminuído o pagamento da dívida pública, resultado da negociação com a China, que, aparentemente, concedeu uma moratória de capital e juros por três anos".

Assim, "quer o preço orçamentado para o petróleo, quer a posição da China permitem que Angola, apesar da intensa recessão económica em que se encontra, ainda tenha margem de manobra para definitivamente reformar a sua economia", concluem.

Quanto às reformas que se impõem em Angola, o relatório aponta a “erradicação da grande corrupção, liberalização do acesso aos mercados, promoção efetiva do investimento privado, intensificação da produção interna, transferências diretas sujeitas a condição educativa ou de saneamento para as populações mais desfavorecidas".

O Cedesa é uma entidade internacional dedicada ao estudo e investigação de temas políticos e económicos da África Austral, em especial de Angola, que nasceu de uma iniciativa de vários académicos e peritos que se encontraram na ARN (Angola Research Network).

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.