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Karina Barbosa: “O sucesso é um trabalho de equipa, não há heróis nem há estrelas sem constelações à sua volta”

Nasceu em Portugal e vive em Angola há quase 17 anos, mas admite ser uma cidadã do mundo. Entrou nas lides da moda por um acaso, mas nunca mais de lá saiu. Karina Barbosa, figura incontornável da moda e eventos angolanos, acreditou sempre no seu projecto – a Step – mesmo quando lhe diziam o contrário, e levou a moda nacional para as bocas do mundo. Foi manequim, trabalhou em televisão como apresentadora, actriz e produtora, foi editora de várias revistas, e até já lançou a sua própria marca de cosméticos. Agora, está de volta ao pequeno ecrã com o seu próprio programa. Sente-se realizada como produtora de moda e eventos, e admite que com dedicação, honestidade, algum talento e muito trabalho, é possível alcançar o sucesso.

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Karina, fale-me um pouco e si... Onde nasceu e cresceu, que idade tem, o que estudou...

Nasci em Alcântara, Lisboa. Sou portuguesa, descendente de guineenses e sempre vivi e estudei em Portugal, onde me formei em Relações Públicas e Publicidade. Estou com 44 anos, vivo em Angola há 16 anos e meio, e tenho já 23 anos de carreira dedicados à moda, primeiro como manequim e depois como agente e produtora de eventos de moda.

Como é que a moda começou a fazer parte da sua vida? 

Eu sou a mais velha, e a minha irmã do meio queria ser modelo, e inscreveu-se num concurso de novos talentos, chamado The Look of the Year, em 1993, hoje conhecido como o Elite Model Look. Eu fui levá-la ao casting e a coordenadora do tal concurso, uma manequim portuguesa muito conhecida na época, a Ana Borges, insistiu para que eu também me inscrevesse e ficasse. No meio de trezentas e tal candidatas, fui seleccionada para a final, onde me classifiquei em segundo lugar. A top model Naomi Campbel estava no júri, e no final veio abraçar-me e tirar fotos comigo, e passei a ser apelidada na imprensa de Naomi portuguesa. Daí, comecei logo a trabalhar como manequim profissional, com a Elite Portugal, e as coisas correram super bem.

Quando e onde começou a sua carreira como produtora de moda e eventos?

Com o destaque que tive na moda, era convidada para imensos eventos, e comecei a interessar-me pela produção dos mesmos, até porque tinha um pouco a ver com a minha formação académica… Já no final da minha carreira como manequim, comecei a organizar alguns cocktails e lançamentos ainda em Portugal, mas só me tornei produtora a 100 por cento com o nascimento da Step, já em Angola, em 2001.

Foi convidada para dirigir a primeira agência de manequins profissionais do nosso país, a Mango's, mas quis sair do projecto 10 meses depois. Porquê a estadia tão curta? 

Porque eu tenho valores e princípios muito enraizados e fortes, e a dada altura deixei de me identificar com a postura e direcção que os donos pretendiam dar ao projecto, então demiti-me.

Depois criou, juntamente com o Kayaya Júnior, a agência Step. Fale-me um pouco de como surgiu este projecto. Porquê o nome “Step”, e o que é que a empresa tem para oferecer ao público em geral?

Eu conhecia o Kayaya enquanto produtor do Moda Luanda, e também ele era ex-manequim como eu, e na altura ele estava a pensar em abrir uma agência de figurantes, para televisão, pois a TPA estava a investir em teledramaturgia e precisava. Resolvemos unir esforços e competências, e dar um novo passo juntos, mais arrojado, que englobasse o agenciamento de modelos e figurantes, e a produção de eventos e shows. Daí o nome Step, um novo passo em frente, um degrau acima nas nossas carreiras.

Sempre acreditou no seu projecto e na internacionalização das manequins angolanas?

Sempre! Eu sempre disse que, um dia, iria colocar uma modelo angolana na capa da Vogue, e a desfilar em Paris… Diziam que eu era maluca, que as raparigas angolanas não davam… Ora não coloquei uma, coloquei duas!!! Provei que a internacionalização, com sucesso, de modelos angolanas, era possível e abri as portas inspirando outras agências, para que tentassem fazer o mesmo.

Como é a sua relação com as manequins e com a sua equipa? Tem algum modelo que seja o seu favorito ou favorita?

A nossa relação é próxima e muito boa. Sou protectora, acompanho, aconselho, ajudo sempre no que posso, mas também ralho muito... (risos) Porque sou muito exigente e quero sempre o melhor para todos. As minhas modelos preferidas são as que são mais profissionais, mais dedicadas e empenhadas, que cumprem com as suas obrigações e horários, que gostam de trabalhar e que entendem que ser manequim é uma profissão que exige dedicação, e que dá muito trabalho. Só não gosto de pessoas preguiçosas, que só gostam de aparecer e andar atrás dos flashes… Também não gosto de pessoas ingratas, que quando começam a ter fama e protagonismo, já acham que nasceram estrelas, e esquecem-se de onde saíram, e de quem as colocou onde elas estão hoje… Esquecem-se de quem acreditou e investiu nelas, quando ainda mais ninguém acreditava… O sucesso é um trabalho de equipa, não há heróis nem há estrelas sem constelações à sua volta! 

Para além da Step, já participou em outros projectos no país?

Já fiz televisão, como apresentadora, na TPA e na ZAP, e como actriz, em telenovelas e mini-séries. Já apresentei o Miss Angola, Miss Luanda, Galas da TVC, etc… Já produzi uma mini-série para a televisão chamada “Caminhos Cruzados”. Já produzi um programa de televisão para a DStv, “Mwangolé”, que era um magazine musical emitido no Channel O. Já fui sócia e editora da revista Talentos, aquando do seu lançamento. Já fui editora chefe da revista de moda Chocolate. Já fui coordenadora das revistas People e Carga. Já lancei a minha própria marca de produtos de maquilhagem, KB make up. Estou a produzir e a apresentar o meu próprio talkshow, “Vamos conversar com Karina Barbosa”, que vai estrear dia 17 deste mês no canal Jango Magic da DStv.

Já fiz tanta coisa... (risos)

Qual o evento que mais satisfação lhe deu organizar e porquê?

O Moda Luanda sempre, porque é o maior evento de moda angolana, que se dedica exclusivamente à promoção e dinamização da moda nacional. Os grandes concertos da Unitel, em especial do R Kelly, Jay Z, Chris Brown e Nicki Minaj, porque são artistas top mundiais, que os angolanos nunca pensaram que poderiam ver ao vivo em Angola. O Belas Fashion, porque são dias de desfiles muito animados. Os Blue Festivals, porque introduzimos o conceito de festival de DJ's em Angola. Os desfiles Prêt-à-Porter, que para além de mostrar moda, nos permitiam oferecer e montar bibliotecas, em escolas públicas, sob o lema “Moda pela Educação”.

Sente-se realizada como produtora? Qual a oportunidade que ainda não teve e gostaria de ter?

Sinto-me completamente realizada. Tudo o que vier é lucro, já realizei todos os meus objectivos, até aqueles que eu nem sabia que tinha.

Qual o segredo para o seu sucesso? 

Dedicação, competência, perseverança, talento, visão, muito trabalho, muita ética profissional, muita força de vontade e acima de tudo ser sempre honesta, frontal e verdadeira… E amar verdadeiramente o que faço!

Que diferenças encontra entre a Angola de 1997, quando chegou, e a Angola de 2016?

Imensas… O país cresceu, abriu-se para o mundo, e desenvolveu-se em várias áreas. Ainda tem muito caminho pela frente, mas muita estrada já foi também percorrida com sucesso.

Na sua opinião, qual é o futuro da moda em Angola?

Passará sempre por um maior investimento, na educação e formação de quadros, numa associação entre os criadores e a indústria têxtil, e numa maior divulgação do trabalho de todos os intervenientes do mundo da moda, com seriedade e profissionalismo.

Os seus planos passam por regressar a Portugal, ou o seu futuro está no nosso país?

Eu sou uma cidadã do mundo. O meu futuro será em qualquer lugar onde eu me sinta feliz, tranquila, amada e com qualidade de vida.

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