Karina, fale-me um pouco e si... Onde nasceu e cresceu, que idade tem, o que estudou...
Nasci em Alcântara, Lisboa. Sou portuguesa, descendente de guineenses e sempre vivi e estudei em Portugal, onde me formei em Relações Públicas e Publicidade. Estou com 44 anos, vivo em Angola há 16 anos e meio, e tenho já 23 anos de carreira dedicados à moda, primeiro como manequim e depois como agente e produtora de eventos de moda.
Como é que a moda começou a fazer parte da sua vida?
Eu sou a mais velha, e a minha irmã do meio queria ser modelo, e inscreveu-se num concurso de novos talentos, chamado The Look of the Year, em 1993, hoje conhecido como o Elite Model Look. Eu fui levá-la ao casting e a coordenadora do tal concurso, uma manequim portuguesa muito conhecida na época, a Ana Borges, insistiu para que eu também me inscrevesse e ficasse. No meio de trezentas e tal candidatas, fui seleccionada para a final, onde me classifiquei em segundo lugar. A top model Naomi Campbel estava no júri, e no final veio abraçar-me e tirar fotos comigo, e passei a ser apelidada na imprensa de Naomi portuguesa. Daí, comecei logo a trabalhar como manequim profissional, com a Elite Portugal, e as coisas correram super bem.
Quando e onde começou a sua carreira como produtora de moda e eventos?
Com o destaque que tive na moda, era convidada para imensos eventos, e comecei a interessar-me pela produção dos mesmos, até porque tinha um pouco a ver com a minha formação académica… Já no final da minha carreira como manequim, comecei a organizar alguns cocktails e lançamentos ainda em Portugal, mas só me tornei produtora a 100 por cento com o nascimento da Step, já em Angola, em 2001.
Foi convidada para dirigir a primeira agência de manequins profissionais do nosso país, a Mango's, mas quis sair do projecto 10 meses depois. Porquê a estadia tão curta?
Porque eu tenho valores e princípios muito enraizados e fortes, e a dada altura deixei de me identificar com a postura e direcção que os donos pretendiam dar ao projecto, então demiti-me.
Depois criou, juntamente com o Kayaya Júnior, a agência Step. Fale-me um pouco de como surgiu este projecto. Porquê o nome “Step”, e o que é que a empresa tem para oferecer ao público em geral?
Eu conhecia o Kayaya enquanto produtor do Moda Luanda, e também ele era ex-manequim como eu, e na altura ele estava a pensar em abrir uma agência de figurantes, para televisão, pois a TPA estava a investir em teledramaturgia e precisava. Resolvemos unir esforços e competências, e dar um novo passo juntos, mais arrojado, que englobasse o agenciamento de modelos e figurantes, e a produção de eventos e shows. Daí o nome Step, um novo passo em frente, um degrau acima nas nossas carreiras.
Sempre acreditou no seu projecto e na internacionalização das manequins angolanas?
Sempre! Eu sempre disse que, um dia, iria colocar uma modelo angolana na capa da Vogue, e a desfilar em Paris… Diziam que eu era maluca, que as raparigas angolanas não davam… Ora não coloquei uma, coloquei duas!!! Provei que a internacionalização, com sucesso, de modelos angolanas, era possível e abri as portas inspirando outras agências, para que tentassem fazer o mesmo.
Como é a sua relação com as manequins e com a sua equipa? Tem algum modelo que seja o seu favorito ou favorita?
A nossa relação é próxima e muito boa. Sou protectora, acompanho, aconselho, ajudo sempre no que posso, mas também ralho muito... (risos) Porque sou muito exigente e quero sempre o melhor para todos. As minhas modelos preferidas são as que são mais profissionais, mais dedicadas e empenhadas, que cumprem com as suas obrigações e horários, que gostam de trabalhar e que entendem que ser manequim é uma profissão que exige dedicação, e que dá muito trabalho. Só não gosto de pessoas preguiçosas, que só gostam de aparecer e andar atrás dos flashes… Também não gosto de pessoas ingratas, que quando começam a ter fama e protagonismo, já acham que nasceram estrelas, e esquecem-se de onde saíram, e de quem as colocou onde elas estão hoje… Esquecem-se de quem acreditou e investiu nelas, quando ainda mais ninguém acreditava… O sucesso é um trabalho de equipa, não há heróis nem há estrelas sem constelações à sua volta!
Para além da Step, já participou em outros projectos no país?
Já fiz televisão, como apresentadora, na TPA e na ZAP, e como actriz, em telenovelas e mini-séries. Já apresentei o Miss Angola, Miss Luanda, Galas da TVC, etc… Já produzi uma mini-série para a televisão chamada “Caminhos Cruzados”. Já produzi um programa de televisão para a DStv, “Mwangolé”, que era um magazine musical emitido no Channel O. Já fui sócia e editora da revista Talentos, aquando do seu lançamento. Já fui editora chefe da revista de moda Chocolate. Já fui coordenadora das revistas People e Carga. Já lancei a minha própria marca de produtos de maquilhagem, KB make up. Estou a produzir e a apresentar o meu próprio talkshow, “Vamos conversar com Karina Barbosa”, que vai estrear dia 17 deste mês no canal Jango Magic da DStv.
Já fiz tanta coisa... (risos)
Qual o evento que mais satisfação lhe deu organizar e porquê?
O Moda Luanda sempre, porque é o maior evento de moda angolana, que se dedica exclusivamente à promoção e dinamização da moda nacional. Os grandes concertos da Unitel, em especial do R Kelly, Jay Z, Chris Brown e Nicki Minaj, porque são artistas top mundiais, que os angolanos nunca pensaram que poderiam ver ao vivo em Angola. O Belas Fashion, porque são dias de desfiles muito animados. Os Blue Festivals, porque introduzimos o conceito de festival de DJ's em Angola. Os desfiles Prêt-à-Porter, que para além de mostrar moda, nos permitiam oferecer e montar bibliotecas, em escolas públicas, sob o lema “Moda pela Educação”.
Sente-se realizada como produtora? Qual a oportunidade que ainda não teve e gostaria de ter?
Sinto-me completamente realizada. Tudo o que vier é lucro, já realizei todos os meus objectivos, até aqueles que eu nem sabia que tinha.
Qual o segredo para o seu sucesso?
Dedicação, competência, perseverança, talento, visão, muito trabalho, muita ética profissional, muita força de vontade e acima de tudo ser sempre honesta, frontal e verdadeira… E amar verdadeiramente o que faço!
Que diferenças encontra entre a Angola de 1997, quando chegou, e a Angola de 2016?
Imensas… O país cresceu, abriu-se para o mundo, e desenvolveu-se em várias áreas. Ainda tem muito caminho pela frente, mas muita estrada já foi também percorrida com sucesso.
Na sua opinião, qual é o futuro da moda em Angola?
Passará sempre por um maior investimento, na educação e formação de quadros, numa associação entre os criadores e a indústria têxtil, e numa maior divulgação do trabalho de todos os intervenientes do mundo da moda, com seriedade e profissionalismo.
Os seus planos passam por regressar a Portugal, ou o seu futuro está no nosso país?
Eu sou uma cidadã do mundo. O meu futuro será em qualquer lugar onde eu me sinta feliz, tranquila, amada e com qualidade de vida.