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Faia: “Nunca pensei que um dia seria a melhor judoca de Angola”

Antónia de Fátima Soares Moreira, ou simplesmente Faia, como é mais conhecida, nasceu em Luanda, e ingressou no mundo desportivo com 12 anos. Andou indecisa entre o karaté, o judo e o kickboxing, mas foi no judo que conseguiu atingir o estrelato. Critica a falta de apoio por parte da Federação Angolana de Judo. Agradece o apoio do público, e admite que sem ele, não seria capaz de chegar tão longe. Aos 34 anos, quer encerrar a sua carreira da melhor forma, e tentar algo inédito no nosso país: trazer uma medalha olímpica para casa.

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Faia, em primeiro lugar fale-me um pouco de si. Onde nasceu e cresceu, que idade tem, o que estudou...

Eu sou Antónia de Fátima Soares Moreira, mais conhecida por Faia. Nasci em Luanda, em 1982 e estudei na Escola Nacional de Polícia de Intervenção e Protecção, Capolo 2, onde trabalho como instrutora de preparação física e defesa pessoal.

Como começou a sua carreira nas artes marciais? Já sonhava ser judoca?

Comecei com 12 anos... Não foi um sonho, porque nunca pensei treinar uma modalidade de luta, mas sim ser jogadora de futebol. Como a minha idade já não era a ideal, decidi praticar karaté. Ao fim de nove meses de aulas, como não gostei muito, troquei o karaté pelo judo. Também fiz nove meses de aulas, estávamos em 1995, e também não gostei muito... Em 1996 comecei a treinar o kickboxing, e foi aqui que comecei a minha carreira. Gostava de praticar, comecei a aprender o que era o desporto, o que os atletas podiam ganhar e, graças a Deus, tornei-me numa grande atleta nesta modalidade. Em 1998, surgiu novamente a oportunidade de fazer parte da equipa feminina de judo. Quando entrei para o judo, em 1995, ainda não havia equipas femininas, nem no kickboxing, em 1996.

Aceitei então o convite do Clube Guedam, para fazer parte da sua equipa, e nunca pensei que me poderia apaixonar pelas artes marciais. Fui treinando, até que fui escolhida para fazer a minha primeira competição internacional, os Jogos de África, Pan-africanos em 1999, na África do Sul. Não tive resultados muito bons, mas continuei a trabalhar, e hoje sou a Faia do judo, que tanto se ouve falar.

Como foi participar nos Jogos Panafricanos na África do Sul, com apenas 16 anos?

Foi uma grande experiência para mim, porque era uma competição internacional. Nunca tinha saído de Angola para competir, nem sabia que existiam outros atletas praticantes de judo. Foi tudo novo mas, vi, gostei e aprendi, fiquei motivada e ganhei força... Continuei em frente e hoje sou uma grande atleta a nível nacional e internacional. Fui campeã nacional de 1998 até 2012, bicampeã africana, quatros vezes vice-campeã africana, participei em cinco Jogos Panafricanos, três Jogos Olímpicos, 12 Campeonatos do Mundo, 10 Campeonatos Africanos, entre outros.

Como surgiu a alcunha “Faia”?

Faia veio do kickboxing. Como era a única mulher no meio dos rapazes, e batia todos eles, o meu mestre sugeriu-me a alcunha de Faia, que vem de fogo... (risos)

Qual foi a competição mais marcante da sua carreira? Porquê?

A competição que mais me marcou foram os Jogos Olímpicos de Atenas porque, quando se falam em Jogos Olímpicos, é uma festa para todos os desportistas. Não é fácil chegar lá e eu cheguei, e não tinha noção como seria esta competição. Graças a Deus correu tudo bem e ganhei uma grande experiência, que até hoje está marcada no meu currículo, como a primeira angolana a participar nos Jogos Olímpicos, na modalidade de Judo.

E qual o momento mais difícil, que teve de ultrapassar, até aqui?

Foram muitos momentos difíceis, porque o desporto em Angola não se faz sentir, principalmente as modalidades individuais. É uma grande luta para se manter dentro do desporto nacional. A Federação Angolana de Judo não trabalha para a defesa da própria modalidade e atletas, e isso afecta os sonhos dos atletas.

Como são os treinos de uma judoca, com uma carreira de sucesso, como a Faia?

Os treinos não são fáceis. É muito duro, requer muito sacrifício, dedicação, força de vontade, muita concentração. É preciso ser humilde e muito pontual nos horários dos treinos. Tem que se treinar com os atletas mais fortes do que nós, para aprendermos e ficarmos ao mesmo nível, ou nível superior, dos atletas da nossa categoria.

É a melhor e a mais titulada judoca, ao serviço da Selecção Nacional, de todos os tempos. O que sente quando representa as nossas cores nas competições?

Sinto-me honrada, por ser a primeira atleta de judo a representar o nosso país. Nunca pensei que, um dia, seria a melhor judoca de Angola. Mas, graças a Deus, tive um bom treinador, Alberto Matos Cardoso, que me formou e cuidou da minha preparação, até me tornar esta fera do judo. Agradeço a toda a equipa, que trabalhou para que os meus sonhos se tornassem realidade. Quando estou a competir, sinto-me muito confiante porque, representar as cores de um país, é uma honra.

Sente o apoio e o carinho do público angolano? Até que ponto isso é importante para si?

É muito importante o apoio do público. Sem eles não seria esta grande atleta. O calor, a atenção, o amor e o carinho que o público tem por mim, é o que me dá força para continuar e vencer as dificuldades, e todos os meus adversários. Sem o apoio do público angolano, nós atletas não somos nada. Por isso, agradeço a todos que acompanham, directa ou indirectamente, o meu trabalho. A todos, o meu muito obrigada.

Foi apurada para representar Angola no Brasil. Qual a sua expectativa para os Jogos Olímpicos 2016? Como têm sido as preparações para os Jogos?

Em primeiro lugar, treinar muito, para poder estar entre as quatro melhores. O ideal seria despedir-me do mundo das competições com uma vitória que ninguém conseguiu ainda alcançar em Angola: ser a primeira atleta de judo feminino, a chegar ao pódio nos Jogos Olímpicos. São muitas expectativas, que só podemos fazer, não falar... Como dizem, o silêncio diz tudo... (risos)

Tem sido noticiado que os Jogos serão a sua última competição. Vai mesmo encerrar a sua carreira? O que pretende fazer depois de terminar a sua carreira desportiva?

Vou sim encerrar a minha carreira, depois dos Jogos Olímpicos. Tive um convite do secretário da Federação Japonesa de Judo, por isso, depois de terminar os Jogos, vou fazer uma formação no Japão, como treinadora, e vou trabalhar como técnica feminina da selecção nacional.

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