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Samakuva no funeral de Savimbi: “Quem morre pela pátria vive para sempre”

O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, defendeu a ideia de que "quem morre pela pátria vive para sempre", aludindo ao líder histórico do “galo negro”, sepultado na terra natal dos pais, 17 anos após a morte.

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"Quem morre pela pátria vive para sempre. Quando a pátria sangra, todo o sacrifício é pouco. Assim foi Jonas Savimbi, um revolucionário, um visionário, um construtor de uma sociedade de paz e de desenvolvimento e de unidade nacional", destacou Samakuva, ao longo de 35 minutos do "elogio fúnebre" ao presidente fundador do partido do “galo negro”.

Tal como nas homenagens de dois filhos do ex-líder da UNITA, Durão Sakaíta e Helena Savimbi, Samakuva dirigiu-se ao fundador do partido tratando-o por tu, lembrando a luta contra a exclusão, "contra os angolanos de primeira e de segunda", pela preservação das línguas nacionais, contra a corrupção, peculato e impunidade.

"Este é o legado de Jonas Savimbi que, hoje, ironicamente, é afirmado pelos que estão no poder. Venceste de tal forma que esta luta foi votada agora pelos teus adversários", sublinhou Samakuva, aludindo a um dos lemas do Presidente, João Lourenço, também líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

Samakuva admitiu que Savimbi teve "práticas mal cometidas", sem as apontar, mas destacou que "não ofuscam nem comprometem os feitos alcançados", cuja dimensão histórica vem de "um líder revolucionário que fez história em Angola".

"A UNITA será sempre tua defensora, continua de pé e é hoje mais do que ontem. Está madura. Agradecemos-te profundamente os dois instrumentos que nos deixaste: a UNITA e Angola", acrescentou Samakuva que, até hoje, tinha evitado fazer discursos de cariz político, o que acabou por contrariar no "elogio fúnebre".

A partir deste ponto, Samakuva endossou as críticas, excluindo sempre João Lourenço, ao MPLA de José Eduardo dos Santos que, em 2002, após ter abatido Savimbi, "escondeu o corpo", só se sabendo muito mais tarde o paradeiro.

"[Mais recentemente] ficaram com medo do povo e sabotaram [o cerimonial e o programa das exéquias fúnebres] em três províncias [Moxico, Huambo e Bié]. Não faz mal. Assim como aprendemos a guerra, aprendemos a paz. Foi isto que nos ensinaste", sublinhou, garantindo que a UNITA "não tem medo do futuro".

Segundo Samakuva, é ideia da UNITA prestar, a partir de agora, homenagens a Savimbi em todas as restantes 17 províncias do país, "uma vez que o Estado não honra os seus filhos", disse, aludindo ao facto de o Governo angolano se ter recusado a organizar um funeral com honras de Estado.

"A dor e a sabotagem são o combustível para a vitória. Não somos de vingança. Só queremos a paz. Angola vai continuar a honrar os seus heróis e ninguém deve ter medo da paz. Honremos, pois, a memória de Jonas Savimbi, cuja obra perdurará para sempre", concluiu Samakuva.

Ainda no púlpito, Samakuva entregou ao primogénito de Savimbi, Durão Sakaíta, a "Medalha de Ouro do Galo Negro", agraciando o líder histórico da UNITA com o mais alto galardão do partido, pela "total entrega à luta pela liberdade, pela coragem e visão e pelo exímio condutor de homens", cujo preço foi o mais alto que alguém pode pagar: a morte.

Mais de 10 mil pessoas assistiram este Sábado ao derradeiro adeus ao líder histórico da UNITA, Jonas Savimbi, numa cerimónia profundamente religiosa que decorreu na terra natal dos pais do cofundador do “partido do galo negro”.

A pequena localidade de Lopitanga entrou, assim, na história de Angola, onde a cerca de uma dúzia de casas dispersas foi "engolida" por uma multidão de simpatizantes - entre 10 mil e 15 mil, segundo a UNITA - que assistiram ao acto também através dos vários ecrãs gigantes dispersos pelo local, numa cerimónia que culminou com a descida à terra da urna com os restos mortais de Savimbi, morto em combate em Fevereiro de 2002.

A cerimónia decorreu no necessariamente ampliado cemitério local, onde jazem também os corpos dos pais de Savimbi, com o "memorial" ao centro, coberto por um toldo, ladeado por um espaço devidamente "arejado" onde se sentaram as mais de três dezenas de familiares do fundador da União Nacional para a independência Total de Angola (UNITA), toda a direção do “partido do galo negro” e quase uma centena de convidados angolanos e estrangeiros, entre eles o deputado socialista João Soares e o jornalista Xavier de Figueiredo.

Fora do perímetro onde estavam também as várias equipas de jornalistas angolanos e estrangeiros, destacavam-se as representantes da Liga das Mulheres Angolanas (LIMA, afeta à UNITA), cujo coro de mais de meio milhar de vozes quebrou o silêncio até então reinante.

A urna, que chegou Sexta-feira à tarde a Lopitanga, 30 quilómetros a oeste do Andulo, no norte da província do Bié, e esteve durante toda a noite e parte da manhã a ser alvo de vigília das milhares de pessoas que ali passaram, até que foi transportada, num carro funerário, para o local da sepultura, onde chegou cerca das 11h15 locais.

Ao som de marchas fúnebres, a urna foi depositada no "memorial" por seis dos mais de três dezenas de filhos e filhas de Savimbi, num acto que foi seguido com emoção pelos presentes.

Sem palmas, a multidão, sempre em silêncio, começou a abandonar o local das exéquias fúnebres, pondo novamente a nu as poucas residências de Lopitanga, começando a percorrer a única estrada, de terra ao longo de quase 20 quilómetros, para sair da pequena localidade.

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