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A inclusão de surdos no ensino superior angolano: reflexão sobre acessibilidade

Fred André

Fred André António é graduando do curso de licenciatura em Matemática pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). É também Técnico Médio em Informática de Gestão pelo IMAG-Uíge e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas: Educação, Diversidade e Docência (EDDocência).

Compreender a realidade da educação inclusiva em Angola, torna-se um processo que abrange a todos os níveis de Ensino. É de caráter significativo reflexões amplas sobre a importância da implementação da lingua gestual angolana (LGA) no ensino fundamental e médio, bem como as políticas de acesso e permanência do surdo no Ensino Superior. A inclusão incita a promoção de igualdade de oportunidades para todos, a valorização das diferenças e consequentemente a construção de uma sociedade justa e igualitária.

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Angola atravessa um processo de construção social desde a proclamação da sua independência que se deu em 11 de novembro de 1975 e após o término da guerra civil em 2002. Porém, a implementação de políticas públicas voltadas para a educação no geral ainda é um desafio para o governo. A luta pela igualdade social vem garantindo a priori o direito a educação para todos, incitando a promoção da inclusão com o foco na alfabetização total da população.

Sobre a perspectiva inclusiva, a luta pela construção de uma sociedade justa vem desencadeando diversas ponderações sobre a temática sendo que a população angolana é composta majoritariamente por jovens e crianças que necessitam de acesso à educação. No contexto educacional, a inclusão é vista como o "processo através do qual às instituições de ensino se adaptam para poderem incluir em seus ambientes pessoas com deficiências e, simultaneamente essas se preparam para assumir seus papéis nestes ambientes" (Sassaki, 1999 apud CAMARGO; NARDI, 2007, p.379).

No início dos anos de 1990 Angola em parceria com alguns países membros da comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) como Brasil e Moçambique começaram a desenvolver políticas educativas voltadas para as pessoas com deficiência, ou seja, pessoas com dificuldades de frequentar escola comum com intuito de atendê-las, satisfazendo suas necessidades no âmbito da escolaridade e diminuir a taxa de analfabetismo, que na altura era muito elevada. (CHAMBAL, RAFANTE, SELINGARDI 2015, p. 8).

No entanto, percebe-se que as parcerias estabelecidas entre os três países no que diz respeito às políticas educacionais voltadas para pessoas com deficiência especificamente surdas, apenas o Brasil deu um salto significativo no que concerne a inclusão desses estudantes na Educação Superior em comparação com Angola por exemplo. A partir dos anos 2003 a 2005 Brasil registra um aumento de 665 a 2.428 estudantes surdos que ingressaram no ensino superior entre instituições públicas e privadas (BRASIL, 2006). Dados que mostram um avanço importante sobre a acessibilidade destes estudantes no Ensino Superior. Por outro lado, o que nota-se nas universidades públicas e privadas angolanas, é a ausência de políticas educacionais que visam assegurar o acesso destes individuos a educação. Observa-se que, o conceito de educação para todos não é ainda uma realidade angolana, pois embora esteja escrita no papel, os surdos em Angola até agora representam uma minoria significativa no que toca o acesso a educação.

Os problemas socioeconômicos que o país atravessa, a auto-exclusão, o preconceito e entre outros fatores, vêm contribuindo naquilo que é a maior adversidade enfrentada pela comunidade surda no país. A escola é caracterizada por o principal meio de socialização entre os indivíduos visto que, ela garante o aprendizado e o conhecimento dos alunos, desenvolvendo seus conceitos culturais e sociais. O reflexo de um aluno universitário deve-se as experiências vivenciadas no ensino fundamental e médio por esta razão, é necessário trabalhar a base para se refletir o topo.

A implementação do ensino da lingua gestual fora do contexto das escolas especiais isto é no ensino fundamental e médio é muito importante e necessário visto que, ela desenvolve as competências linguísticas e comunicativas dos alunos e professores, de modo que se garanta uma melhoria educacional inclusiva. Esta ação ela prepara tanto os surdos como os ouvintes para futuras interações, valorizando as diferenças e refletir criticamente a visão surda sob a perspectiva clínica.

O contexto universitário é desafiador para todos os jovens, problemas de adaptação à vida académica e às obrigações que ela impõe conduzem muitas vezes ao fracasso e ao abandono. Para conseguir assimilar as novas informações e os novos conhecimentos, eles precisam contornar as falhas da trajetória escolar anterior, como deficiências de linguagem, inadequação das condições de estudo, falta de habilidades lógicas, problemas de compreensão em leitura e dificuldade de produção de textos (Sampaio, Santos, 2002). Contudo, as restrições linguísticas, tornam esse desafio ainda maior para os surdos no contexto universitário sobre tudo quando não se tem políticas públicas voltadas para a educação inclusiva que vem sendo refletida constantemente em todos os níveis educacionais como é o caso de Angola.

Segundo Goffredo (2004), para atender às necessidades educacionais especiais dos jovenssurdos, o primeiro passo é assegurar seu ingresso na universidade por meio do vestibular. Entretanto, o que nota-se aos vestibulares de acesso ao ensino superior público angolano é que eles não são pensadas para a acessibilidade de pessoas da comunidade surda. A falta de tradutor intérprete que atua nas relações comunicativas entre professores e alunos e no processo de aprendizagem, sendo que estes possuem o papel central na formação e integração desses estudantes, a falta de estratégias organizadas adequações e adaptações possíveis dentro da escola que visam assegurar esses alunos desencadeiam diversos problemas no quesito inclusivo angolano.

Como podemos classificar um ensino inclusivo? Segundo Omete (2016), o ensino de qualidade com todos os recursos necessários para o pleno aproveitamento por parte de todos os estudantes incluindo aqueles com deficiência é um dos ingredientes para caracterizar o ensino universitário como inclusivo, ou seja, o ensino inclusivo ele garante a integração entre os sujeitos. Assim, pôde-se dizer que a integração requer não apenas capacidade para o desempenho das atividades acadêmicas, como também para o envolvimento com os colegas, os professores e o ambiente. Ambas são fundamentais nos primeiros anos do ensino superior para melhorar as chances de êxito. (Diniz, Almeida, 2005; Ferreira, Almeida, Soares, 2001). Uma vez inseridos ao Ensino Superior, recomenda-se a criação de um ambiente aconchegante, para que estes sintam-se o mais à vontade possível e dar sequência nas suas atividades académicas. Desta forma, não basta apenas termos professores capacitados e a presença de intérpretes, tem de se destacar também as relações entre os professores e os alunos tanto surdos como ouvintes, superando as diferenças linguísticas na interação comunicativa, culminando dessa forma a acessibilidade e permanência.

As diferenças individuais existem entre todos os seres humanos, portanto, não se justifica classificar um grupo de pessoas como sendo especial, justamente porque possuem déficit sensoriais motores, intelectuais, afetivos ou comportamentais. Na realidade todas as pessoas possuem déficits e habilidades nestas mesmas áreas (Camargo, Soffa, Markowics, p.6834). Entretanto, é de inteira responsabilidade das escolas criar cidadãos dotados de personalidades críticas e éticas, afim de aceitar as diferenças e respeitar o próximo propondo a construção de uma sociedade inclusiva pois a inclusão no contexto geral ela denúncia as desigualdades e o desrespeito às minorias, procurando uma nova forma de organização social em
que as diferenças individuais sejam respeitadas e não menosprezadas.

Dessa forma, a educação inclusiva ela pende na formação de cidadãos que possam interagir e participar de uma sociedade justa e democrática. Porém, diante do contexto inclusivo, é indispensável pensar-se além da inserção dos alunos na escola, exigindo uma mudança na estrutura social vigente, no sentido de se organizar uma sociedade que atenda aos interesses de todas as pessoas, sem descrminação, afim de se promover uma sociedade justa e igualitária para todos de modo que se construa um ambiente sólido para as futuras gerações.

Referências

BISOL, Cláudia Alquati; VALENTINI, Carla Beatris; SIMIONE, Janaína Lazzarotto; ZACHIN, Jaqueline. Estudantes Surdos no ensino superior: Reflexão Sobre a Inclusão. Cadernos de Pesquisa, v. 40, n. 139, p.147-172, jan./abr. 2010.

CAMARGO, Ferreto Letícia; SOFFA, Marilice Mugnaini; MARKOWICZ, Daniel. Perspectivas sobre a Educação Inclusiva: Um Desafio Possível. ISSN 2176-1396.

FERREIRA, Ricardo Manoel de Oliveira. Estudantes Surdos No Ensino Superior: Reflexão Sobre A Inclusão. UFPE (Campus Recife) e UEPB (Campus I), Professor de Libras. www.cintedi.com.br

OMETE, Sadao. Atitudes em relação a inclusão no Ensino superior. Journal of Research in Special Educational Needs Volume 16 Number 2016 211–215.

TAVARES, Leandro Henrique Wesolowski; DE CAMARGO, Éder Pires. Inclusão Escolar, Necessidades Educacionais Especiais e Ensino de Ciências: Alguns Apontamentos.

CIÊNCIA EM - volume 3, Número 2 - 2010.

TCHANTCHAPAM, Augusto. et al. Educação Especial Em Angola, História e Políticas Públicas. IV Congresso Nacional Educação. contato@conedu.com.br. www.conedu.com.br.

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