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Economia

Fitch: manter reformas com petróleo barato será crucial para o 'rating' de Angola

A agência de notação financeira Fitch Ratings disse esta Quinta-feira que a capacidade do Governo de Angola para manter as reformas num contexto de descida dos preços do petróleo será determinante para a evolução do ‘rating’.

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"A perspectiva de evolução da economia de Angola é positiva e o gatilho para uma eventual subida do ‘rating’ será a resiliência e a confiança de que o Governo vai manter o ímpeto nas reformas mesmo quando os preços descerem", disse o diretor da Fitch Ratings para África e o Médio Oriente.

Numa conferência virtual sobre a evolução das economias africanas, Toby Iles disse que "as reformas orçamentais, monetárias e económicas que foram feitas com sucesso, e o preço do petróleo têm sido a chave para a recuperação económica, ajudaram a pagar a dívida e contribuíram para uma apreciação muito significativa do kwanza". 

Respondendo às questões da Lusa sobre a opinião da Fitch Ratings em relação à situação financeira de Angola, o analista acrescentou que "é preciso mais evidências sobre a capacidade de manter a liquidez externa, porque as reservas não subiram muito com os preços altos" do petróleo, que são o principal contribuinte para as reservas internacionais em moeda estrangeira.

Em Janeiro, a Fitch Ratings melhorou a perspetiva de evolução do ‘rating’ de Angola para positiva, mantendo a opinião sobre a qualidade do crédito soberano em B-, abaixo da recomendação de investimento.

"A perspectiva de evolução positiva reflete a recente queda abrupta da dívida pública, grandes excedentes da balança corrente e riscos de financiamento mais baixos, sustentados por um ambiente petrolífero mais favorável", lê-se na nota que acompanhou, em janeiro, a decisão de manter o ‘rating’ em B-, dois níveis abaixo da recomendação de investimento, ou seja, 'lixo', ou 'junk', como é geralmente designado.

A Fitch Ratings, detida pelos mesmos donos da consultora Fitch Solutions, analisa 22 países em África, 19 dos quais na África subsaariana, e destes, quase metade, 45 por cento, têm um ‘rating’ de CCC ou estão em incumprimento financeiro, o que evidencia os "níveis significativos de risco de crédito na região".

Na conferência, os analistas salientaram que apesar de 2023 não ser um ano muito pesado em termos de maturidade da dívida soberana, os dois próximos anos serão difíceis para uma boa parte dos países, que enfrentam o final do prazo dos empréstimos, e terão portanto de pagar a totalidade do que pediram emprestado ou emitiram nos mercados financeiros internacionais.

"Em 2024 haverá mais pressão financeira sobre os países, com o Quénia, Egipto e Etiópia a terem de pagar mais de 2 mil milhões de dólares cada, e 2025 será ainda mais difícil, com vários países a enfrentarem a maturidade da dívida", alertou o analista.

Questionado sobre de que forma os países africanos estão a lidar com o aumento das taxas de juro e com os impactos da subida dos preços do petróleo e da inflação, nomeadamente dos bens alimentares, Toby Iles salientou a importância da consolidação orçamental.

"A consolidação orçamental é crucial, estão a tentar desbloquear os mecanismos que permitem aumentar a mobilização de receitas internas, o que é muito difícil historicamente, e estão mais focados na gestão das finanças públicas, ao mesmo tempo que tentam manter e até acelerar o crescimento económico", afirmou, salientando que "a outra opção é reestruturação" da dívida.

Os pagamentos de dívida externa dos países mais pobres, incluindo todos os lusófonos africanos, vão subir para o valor mais alto desde 1998, representando 16,3 por cento do total das receitas, mais do que duplicando desde 2011. 

"Os pagamentos de dívida externa de 91 países vão ser, em média, de 16,3 por cento das receitas fiscais este ano, aumentando para 16,7 por cento em 2024, um aumento de 150 por cento desde 2011", de acordo com uma nota de análise da organização não-governamental (ONG) Debt Justice, dedicada às questões da dívida sustentável, de Abril.

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