O umbundu, falado maioritariamente na região sul de Angola, é a segunda língua mais falada do país depois do português, única língua oficial em Angola, e para o escritor esta deve ser uma "língua co-oficial" do país.
Segundo o escritor, "a eleição de uma língua oficial bantu, em paralelo com a língua portuguesa, criaria uma segunda fonologia do discurso oficial angolano".
"A par de muitos países que escolheram a língua maioritária para língua oficial, Angola pode eleger o umbundu como a outra língua oficial, por ser a língua bantu maioritária em Angola", afirmou.
José Luís Mendonça, que falava sobre "O Legado da História e da Cultura para a Cidadania", no primeiro dia da segunda "Conferência Nacional Pensar Angola", referiu que a quase meio século de Angola independente "é urgente resgatar alguns valores do nosso património ancestral".
"Com vista a valorizar a totalidade da cultura e, consequentemente, a tolerância e a inclusão do cidadão comum na construção de Angola. Valores históricos, que representam a alma dos povos bantu, como as línguas e a literatura oral que delas emana", frisou.
Para o escritor, este "resgate" impõe-se, porque "a unidade nacional dos angolanos está forjada sobre o legado da colonização, a língua portuguesa".
"[Angola] é uma criação da língua portuguesa. Ser angolano é transportar, no subconsciente colectivo, a memória da língua do colonizador que se sobrepõe à memória residual bantu", referiu.
O também docente universitário entende, por outro lado, que o "uso exclusivo quotidiano, regular e prolongado da língua portuguesa, língua indo-europeia, formata no cidadão angolano uma estrutura mental eurocêntrica, sob a aparência de africanidade".
"Hoje em dia, as nações desenvolvidas na Europa e na Ásia apostaram na promoção das suas línguas. Na Finlândia, os estudantes aprendem as duas línguas oficiais, o finlandês e o sueco, e mais duas línguas estrangeiras", disse.
Os países "que não tiveram essa oportunidade", salientou, "não puderam chegar mais longe no que diz respeito ao desenvolvimento económico, social, cultural, político e democrático".
"Não alimentamos qualquer dúvida ou hesitação em propor a co-oficialização da língua umbumdu, a par do português, por todas razões acima apontadas", notou.
"Nesse mesmo diapasão, repudiamos a tese de que o ensino das línguas bantu poderia ser causa de secessão territorial com base no pressuposto etnolinguístico. A causa da aspiração à secessão territorial está bem à vista e não tem raízes culturais", realçou.
Tem, sim, argumentou, "raízes económicas, na má gestão e distribuição regional dos recursos extractivos, com destaque para o petróleo e os diamantes".
"Como poderá haver repúdio na adopção de uma língua africana, já falada por uma maioria da população, como língua co-oficial, quando se aceita sem pestanejar a língua lusófona como língua de todos nós? E como saber se haverá repúdio, se nunca se instituiu essa oficialização?", questionou o também jornalista.
José Luís Mendonça assinalou ainda que, em relação à "problemática das línguas, até aqui", só se tem "assistido a hipóteses improváveis, que conduziram à inconstitucionalidade por omissão do nosso executivo".
"Maior valorização das línguas angolanas" está entre os desafios do país apresentados igualmente nesta conferência pela socióloga angolana Tânia de Carvalho.