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China não perdoa, mas deve adiar pagamentos da dívida, diz investigadora

A investigadora norte-americana Deborah Brautigam disse esta Terça-feira que a China não deverá aceitar um perdão da dívida dos países mais pobres, permitindo apenas um adiamento dos pagamentos dos 152 mil milhões de dólares em dívida.

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"Os chineses sempre fizeram empréstimos baseados na ideia de que os projectos individuais contribuem para uma transformação estrutural e desenvolvimento económico, por isso esses projectos podem ser bons e viáveis para colocar os países numa fase em que estejam em posição de pagar os empréstimos", disse a directora da China Africa Research Initiative da Universidade Johns Hopkins.

Em declarações à agência de informação financeira Bloomberg, esta especialista na relação entre a China e o continente africano, o gigante asiático não deverá aceitar um perdão da dívida, que a especialista coloca nos 152 mil milhões de dólares, mas deverá aceitar um adiamento dos pagamentos.

"Geralmente, não é assim tão difícil alargar o período de pagamento ou alargar a maturidade dos empréstimos", disse a especialista, comentando a participação da China na Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), definida pelo G20, de que a China faz parte, em Abril, que suspende o pagamento de 20 mil milhões de dólares, em pagamentos dos países mais vulneráveis até final do ano.

A China é um dos principais credores dos países em desenvolvimento que se qualificam para poder aderir a esta iniciativa do G20, que pretende aliviar as finanças destes países para poderem combater eficazmente a pandemia da covid-19, detendo, nomeadamente, perto de 60 por cento da dívida pública de Angola, fruto da relação próxima entre os dois países, segundo a agência de 'rating' Moody's.

De acordo com o Instituto Financeiro Internacional (IFI), a China é credora de mais de 25 por cento dos 140 mil milhões de dólares em dívida a ser paga este ano dos países elegíveis para a iniciativa do G20, sendo que o total mundial do valor devido à China chega aos 5,5 biliões de dólares.

Os credores privados que representam mais de 9 biliões de activos, sob a chancela do IFI, criaram um grupo para a renegociação da dívida dos países em desenvolvimento, um grupo que inclui todos os países africanos de língua oficial portuguesa.

Na semana passada, 25 credores da dívida africana, representando activos de 8,3 biliões de euros, criaram o Grupo de Trabalho dos Credores Privados de África (AfricaPCWG) com o objectivo de definir uma solução para a dificuldade em honrar os compromissos financeiros e, ao mesmo tempo, canalizar despesa pública para combater os efeitos económicos e de saúde da covid-19.

As declarações de Deborah Brautigam surgem na mesma altura em que a UNECA está a ter reuniões com os ministros das Finanças africanos, na sequência da discussão pública que tem existido nos mercados financeiros africanos sobre como os governos podem honrar os compromissos e, ao mesmo tempo, investir na despesa necessária para conter a pandemia da covid-19.

A assunção do problema da dívida como uma questão central para os governos africanos ficou bem espelhada na preocupação que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial dedicaram a esta questão durante os Encontros Anuais, que decorreram em Abril em Washington, nas quais disponibilizaram fundos e acordaram uma moratória no pagamento das dívidas dos países mais vulneráveis a estas instituições.

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