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Opinião Lições de uma crise

As compras da discórdia

Quingila Hebo

Quingila Hebo é estudante de economia e jornalista na Revista Economia e Mercado.

Estamos em crise, sim, mas o país não pára. Levantaram-se muitas bocas contestatórias sobre a última compra do Estado Angolano, de um “super-avião” que custa mais de 60 milhões de dólares, numa altura em que o Executivo, no Orçamento Geral de Estado para 2015, adoptou medidas de austeridade para o sector da educação e da saúde devido à redução das receitas petrolíferas, as quais dependemos 90% para o financiamento da economia.

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Mas, antes da crise, mesmo em tempo de “vacas gordas” várias são as vezes que o país recorreu às ajudas externas que, no fim dos prazos ou com algumas prerrogativas, conseguiu liquidar as dívidas.

Tratando-se de um avião, diferente, por exemplo, de um quilo de batata que encontramos na montra, a encomenda deve ter sido feita ainda em tempo de “vacas gordas”, mas só agora, em tempos de “penúria”, que ficou pronto.

Estamos em crise, sim, mas o Estado pode recorrer às ajudas com que sempre contou para manter o equilíbrio financeiro, ou honrar os seus actuais compromissos, como este do “super-avião”.

De facto, a efectivação deste negócio acontece numa má altura, mas o Estado não pode deixar de honrar compromissos que já assumiu, nem deixar de fazer compras do género porque, além de prevenir desastres, pois as antigas aeronaves protocolares já devem estar a ultrapassar o prazo de utilidade, também precisamos manter a hegemonia que Angola tem vindo a conquistar ao nível da região. Ou seja, é uma questão de Estado que transcende a nossa compreensão que, certamente, os mais entendidos em relações internacionais saberiam explicar melhor.

Além do avião protocolar, faz parte das compras da discórdia os 12 caças encomendados na Rússia para reforçar a frota da Força Aérea Nacional. Como já disse, embora não estejamos em guerra, este tipo de reforço é necessário, uma vez que só haverá desenvolvimento económico se não haver interferências externas.

Por outro lado, numa altura em que Angola se prepara para aderir à zona de comércio livre da SADC, é imprescindível que reforce a segurança nacional, pois a probabilidade de violação das suas fronteiras será maior.

Se quisermos apenas colher os benefícios de aderir à zona de comércio livre da região, então devemos reforçar a segurança e a estabilidade da nação com ou sem crise.

Opinião de
Quingila Hebo

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