"A escolha de Angola tem a ver com a sua importância e peso nesta região de África", disse Ainhoa Marín à agência Lusa na véspera em que Pedro Sánchez viaja para Luanda, onde realiza uma visita oficial na Quinta-feira.
Luanda é a primeira etapa de uma curta deslocação a África que levará Pedro Sánchez, acompanhado por vários empresários, também ao Senegal na Sexta-feira.
O plano "Foco África 2023" apresentado pelo Governo espanhol na semana passada tenta marcar um ponto de viragem nas relações de todo o tipo com o continente africano, a fim de alcançar uma nova parceria estratégica em que Madrid possa liderar a acção da União Europeia com esta parte do mundo.
A investigadora principal do Real Instituto Elcano é da opinião que esta ambição não é nova e que o grande interesse na África subsaariana já vem desde pelo menos 2019, quando o Governo anterior, de Mariano Rajoy, elaborou o III Plano África, que antecedeu a estratégia actual.
O ex-primeiro-ministro espanhol tinha previsto visitar Luanda em 25 e 26 de Março de 2018, mas a viagem foi cancelada à última hora devido à situação política na Catalunha.
Nessa ocasião, o Rajoy já tinha previsto levar a Luanda uma importante delegação de empresários dos mais diversos sectores, com relevo particular para a energia, água, telecomunicações, transportes, indústria e turismo.
Para Ainhoa Marín a novidade agora está na importância que o Governo de esquerda espanhol coloca nas questões relacionadas com o empoderamento das mulheres e da promoção da equidade de género em todas as actividades sociais e da economia.
Madrid definiu três objectivos com a deslocação a Luanda: melhorar as oportunidades empresariais, estabelecer colaboração diplomática estreita motivada pela posição de Angola no continente e melhorar a cooperação em matéria de segurança e defesa.
De acordo com fonte governamental são numerosas as empresas espanholas que pretendem candidatar-se ao programa de modernização e diversificação da economia proposto pelo Presidente, João Lourenço.
"É exactamente por ter pouco passado colonial em África que agora Espanha pode ter vantagens neste continente", considera a catedrática, acrescentando que as empresas espanholas também são muito "fortes e competitivas" no sector em grande desenvolvimento das energias renováveis.
Ainhoa Marín realçou que a estratégia definida no documento "Foco África 2023" também tem o mérito de "compilar" e dar "coerência" a uma série de ideias e intenções em relação a África espalhadas por vários ministérios.
O chefe do Governo espanhol visita na Quinta-feira de manhã uma subestação eléctrica que a empresa espanhola Elecnor está a construir para o fornecimento de energia aos municípios de Bolongongo, Banga e Ngonguembo, na província do Cuanza Norte.
Em seguida desloca-se ao instituto salesiano D. Bosco em Luanda, antes de ter uma reunião de trabalho com o Presidente, João Lourenço, no final do qual deverão ser assinados vários acordos e memorandos.
Os dois países ainda estão a negociar os últimos detalhes de uma declaração conjunta, um acordo para o sector dos transportes aéreo e três memorandos (pesca, agricultura e indústria).
Pedro Sánchez será em seguida o convidado principal de um almoço oficial oferecido por João Lourenço antes da realização de um encontro entre empresários dos dois países com a presença dos dois governantes, devendo o primeiro-ministro espanhol seguir viagem para o Senegal ao final da tarde.
De acordo com a investigadora principal do Real Instituto Elcano Madrid também pretende servir de interlocutor da União Europeia em questões de política de segurança e de migração.
Com um grande número de migrantes ilegais a tentar chegar de barco a Espanha, este tema será mais importante de abordar na visita ao Senegal.
A diplomacia económica de Madrid está a fazer uma aposta muito forte desde 2010, na sequência da crise financeira, em estender a sua área de influência tradicional (América Latina e norte de África) a outras zonas do globo.
O "Foco África 2023" considera como "países âncora" Nigéria, Etiópia, África do Sul; e como "países prioritários" Senegal, Costa do Marfim, Gana, Quénia, Tanzânia, Moçambique e Angola.
O Real Instituto Elcano é um 'Think-tank' (grupo de reflexão) para estudos internacionais e estratégicos, realizados a partir de "uma perspectiva espanhola, europeia e global".