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Voluntários produzem viseiras a partir de impressão 3D

Um grupo de voluntários juntou-se para fabricar viseiras com impressoras 3D, tendo distribuído já, gratuitamente, cerca de mil destes equipamentos essenciais para proteger quem está na linha da frente do combate à covid-19.

: Ampe Rogério/Lusa
Ampe Rogério/Lusa  

Com uma impressora 3D montada a partir de um 'kit' que não custou mais de 141 dólares, Luís Querido, um dos mentores do projecto produz em sua casa, diariamente, cerca de 50 viseiras que estão a ser distribuídas por hospitais e clínicas de Luanda

Cada viseira, ou melhor, cada suporte demora cerca de meia hora a produzir. O especialista em recursos humanos escolheu um modelo já testado noutros países e usa um processo que facilita a construção da viseira propriamente dita: com o suporte já pronto, basta furar uma folha de acetato e encaixar.

Tudo começou com o fabrico caseiro de viseiras para distribuir pela família e amigos. A mulher de Luís, que trabalha numa unidade clínica de Luanda, foi a primeira contemplada.

A partir daí, houve também pedidos por parte dos amigos e Luís apercebeu-se que era "algo que faria falta a quem estava na linha da frente".

Com o stock de matéria-prima que tinha em casa, um bioplástico feito a partir de derivados de milho, Luís foi produzindo mais equipamentos e outros voluntários juntaram-se à causa.

Actualmente, além dos que trabalham com as impressoras 3D, há quem ajude nas entregas e na logística, quem apoie na consultoria técnica e médica, quem contribua para angariar doações de materiais e outros recursos, sem sequer se conhecerem pessoalmente.

A mobilização permitiu chegar "perto das 1000 viseiras fabricadas e distribuídas desde dois dias antes do início do estado de emergência", cujo primeiro período de 15 dias foi declarado, a 27 de Março, e entretanto renovado por igual período até 25 de Abril.

Ao todo são cinco voluntários que dispõem de impressoras 3D e produzem entre 15 e 50 suportes de viseira por dia, posteriormente distribuídas num 'kit' completo de dez viseiras que incluem os suportes, os acetatos e uma folha com o protocolo de esterilização a que devem ser submetidas para serem reutilizadas.

Além do material ser biodegradável, o fabrico é também pouco dispendioso, revela Luís Querido, estimando um custo inferior a 500 kwanzas.

O processo de impressão demora entre 15 a 60 minutos e foi optimizado por Luís Querido para produzir dois suportes de cada vez, o que permitiu "vencer o obstáculo de ter poucas impressoras disponíveis".

Mesmo assim, os voluntários não têm mãos a medir. Já fizeram entregas em várias unidades hospitalares, incluindo o hospital do Prenda, de referência para tratamento da covid-19 no país, e distribuíram material pelas equipas envolvidas na busca de casos activos, INEMA (Instituto Nacional de Emergência Medica de Angola) e bombeiros.

Luís Querido estima que só para as unidades de saúde as solicitações rondem as cinco mil viseiras.

Por isso, a ambição dos voluntários é levar o projecto mais longe. "Temos planos para industrializar o fabrico das viseiras", o que permitiria passar da actual produção de 100 a 120 viseiras diárias para 4 ou 5 mil por dia, o que daria para proteger todos os profissionais de saúde, mas também agentes de seguranças e outras pessoas envolvidas no contacto com o púbico.

Ganhando escala, Luís Querido admite que Angola poderia mesmo fornecer viseiras a outros países. "Uma vez que a situação em Angola parece estar, felizmente, bastante controlada, seria óptimo que Angola pudesse apoiar outros países da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) como a África do Sul, onde a pandemia continua a alastrar", sugeriu.

Para suprir as necessidades de Angola, seria necessário produzir, pelo menos, 50 mil viseiras, havendo já unidades industriais disponíveis "para apoiar a causa".

O custo desceria também, situando-se entre os 150 e 200 kwanzas. Além disso, as impressoras 3D poderiam ser libertadas para produzir peças para outros equipamentos de saúde, uma ideia que está já a ser desenvolvida pelo grupo de voluntários (https://viseiras-covid-ao.org/).

Se conseguirem "pôr a produção industrial a funcionar", o passo seguinte será a criação de bifurcadores para permitir ventilar dois pacientes com um só ventilador, adiantou Luís Querido.

Os ensaios para os quais têm contado com apoio técnico da Organização Mundial de Saúde (OMS) "foram promissores", disse à Lusa, sublinhando que estas peças permitiriam duplicar a capacidade actualmente existente em Angola.

A OMS, uma das primeiras entidades a receber as viseiras produzidas pelo grupo para "testar a adequação ao uso" deu também nota do potencial das viseiras "fora do contexto covid-19", tendo em conta outras doenças, como a tuberculose, que ainda afligem o país.

"Poderemos proteger também esses profissionais de saúde, fora desta epidemia, com este tipo de equipamentos", assinalou o voluntário.

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