Ver Angola

Saúde

Parturiente cosida com tubos de soro. Médico diz que procedimento é normal

Uma parturiente submetida a uma cesariana foi suturada com tubos de soro, procedimento que deixou os familiares da paciente chocados, mas que o médico cirurgião considerou normal.

:

Em declarações esta Segunda-feira à Lusa, o médico cirurgião Hélder Agostinho, do Hospital Cajueiro, no município do Cazenga, província de Luanda, explicou que a paciente segue o seu processo de recuperação.

O caso foi divulgado por familiares da doente, que face ao seu estado de saúde que consideraram "muito grave", recorreram aos meios de comunicação social para denunciar a situação.

Segundo Hélder Agostinho, a ferida apresenta uma evolução favorável e a equipa médica está satisfeita com o trabalho que está a ser levado a cabo.

"Ela é uma paciente que está a ser atendida de forma multidisciplinar, os médicos que a receberam são da maternidade, porque ela começou a ser manipulada, primeiramente, num hospital da periferia, onde complicou-se o parto dela e veio para cá com sangramento, desconforto e foi atendida pelo serviço de ginecologia", explicou.

Hélder Agostinho avançou que foi realizada a cesariana quando "o feto estava já desvitalizado", tendo a doente, de 28 anos, que estava no seu quarto parto, continuado internada.

Dias depois começou com uma complicação cirúrgica, com distensão abdominal e saída de secreção na ferida.

"Levou-se ao bloco operatório, onde viu-se que havia então de se fazer uma histerectomia (retirada do útero por causa do processo infeccioso), que segundo os médicos gineco-obstetras está relacionada com a morte do bebé", explicou o médico.

Nessa cirurgia notou-se que a paciente tinha secreções produzidas pelo fígado, que geralmente não aparecem "na cavidade abdominal", e foi a partir daí que foi chamado a intervir, há cerca de uma semana.

"Na semana passada, quando a paciente já tinha critério de cuidados intermédios, pediram a avaliação de cirurgia, porque viram que a sonda estava completamente tingida de sangue", contou.

Pelo facto de não se encontrar nenhum urologista no serviço a paciente foi encaminhada para o Hospital Américo Boavida, onde terá sido maltratada, segundo relatos da própria e de familiares.

"Isso interferiu muito, tanto na psique da paciente como dos seus familiares, mas ela foi avaliada, temos evidência escrita, foi vista por um urologista, fez tratamento e voltou para cá", sublinhou Agostinho.

De volta ao Hospital Cajueiros, a equipa médica prosseguiu o tratamento da paciente, segundo o cirurgião, que confirmou que a família ficou incomodada com a sutura usada.

Hélder Agostinho afirma, no entanto, que é "clássica" e "muito usada por todos os cirurgiões".

"Incluso eu [que] me formei em Cuba. Em Cuba se usava com frequência. O procedimento é [feito] em pacientes graves, pacientes com desnutrição, com anemia, com parede abdominal muito fortes, necessitam de reforço", realçou na sua explicação.

O médico argumentou também que "esses pontos, geralmente, fazem-se com fio de sutura comum, um pouco mais grosso e reforça-se com pedaços de [tubo de] soro".

"Foi o material que nós usamos, isso dá estabilidade no ponto e também faz com que a permanência desses pontos não crie outras lesões na ferida da paciente. Devem permanecer num período mínimo de 21 dias", acrescentou.

"Usámos esse material, foi efectivo, e não encontramos nenhuma outra situação que pudesse pôr em perigo a vida da paciente. A remoção já foi feita, avaliei a ferida e fiz a remoção dos pontos, porque a ferida já está consolidada também", garantiu.

Sobre a crítica dos familiares, Hélder Agostinho considera que são "pessoas que não conhecem da matéria".

"Para nós é um ponto muito comum usado em cirurgia e que não põe em perigo a vida da paciente, porque se nós nos formamos para salvar vidas dificilmente vamos tratar de fazer algo que vai contra os princípios da cirurgia e contra a vida da paciente", afirmou.

O médico destacou que o quadro de saúde da doente ainda inspira cuidado, com um prognóstico reservado face à dificuldade ainda para caminhar, devido aos edemas nos membros inferiores e na face.

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.