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Perto de 870.000 pessoas no Cunene precisam de apoio devido à seca

Pelo menos 867.322 pessoas “continuam assoladas” pela seca e fome na província do Cunene, sul do país, em consequência da longa estiagem, e precisam de assistência humanitária, anunciou na passada Sexta-feira fonte oficial.

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Segundo o vice-governador para o sector Político, Social e Económico do Cunene, Apolo Ndinoulenga, os referidos números, que correspondem a 133.202 famílias, "são muito administrativos porque a situação, a nível da província, agudiza-se cada vez mais".

"O levantamento estatístico é contínuo, não é muito fácil ter dados estanques de uma província que tem um município como Curoca [onde] não chove há cinco anos", respondeu à Lusa o governante durante a terceira edição do Café-CIPRA (Centro de Imprensa da Presidência da República de Angola).

"Nós temos neste momento 867.322 pessoas, que correspondem a 133.202 famílias, este é o número que estamos a utilizar, que é muito volátil, porque neste momento que estamos a falar algumas pessoas que se tinham refugiado para a Namíbia estão a entrar", disse.

Apolo Ndinoulenga afirmou que o número de pessoas que necessita de assistência alimentar "aumenta diariamente".

"Enquanto não chegarmos aos meses de Maio, Junho e Julho, que são meses de colheita de cereais, então vamos registar ainda mais pessoas afectadas pela fome", admitiu o vice-governador do Cunene, uma das quatro províncias assoladas pela seca no sul do país.

As autoridades locais têm igualmente o controlo de 1800 pessoas que regressaram da Namíbia, país vizinho para onde se haviam deslocado à procura de assistência devido à fome.

As pessoas que regressaram "estão na região do Calueque e têm já um campo, estruturas de apoio, mas muitas outras ficaram ainda na Namíbia", assinalou.

Cuando-Cubango, Huíla e Namibe são as restantes províncias que enfrentam as consequências da longa estiagem, com reflexos na vida socioeconómica das populações locais que enfrentam escassez de água e de alimento.

A situação socioeconómica do Cunene, uma das províncias mais afectadas pela seca, foi retratada no encontro por Apolo Ndinoulenga admitindo "não ser fácil controlar" o número de pessoas afectadas pela fome e seca.

Curoca e Cuvelei, explicou o responsável, "são os municípios mais assolados", mas, frisou, os municípios de Ombandja, Kwanyama, Onamacunde também enfrentam o quadro preocupante "porque as chuvas atrasaram muito".

"O último trimestre de 2021, que é favorável ao início das culturas, não tinha chuva", realçou.

Para acudir à carência da população local, decorre na província a construção de um sistema de transferência de água do rio Cunene, a partir a região do Cafu, iniciativa do Governo, cujo primeiro lote deve ser inaugurado em 4 de Abril de 2022.

Orçado em 136 milhões de dólares, este sistema vai beneficiar mais de 250 mil pessoas afectadas pela seca.

Segundo o director do Instituto Nacional dos Recursos Hídricos (INRH), Manuel Quintino, a referida obra, que compreende o primeiro projecto, está na recta final e conta actualmente com uma execução física de cerca de 95 por cento e execução financeira de 82 por cento.

"Mas há pagamentos que vão sendo realizados pelo Ministério das Finanças e acredito que até ao final do mês poderá chegar aos 95 por cento da execução financeira, mas a intenção é que sejam pagos", afirmou o responsável, quando questionado pela Lusa.

O sistema de transferência de água para a referida região do sul de Angola, afectada pela seca, irá beneficiar também cerca de 250 mil cabeças de gado e 5000 hectares para agricultura irrigada.

Manuel Quintino recordou que no Cunene foram identificados três projectos estruturantes.

Fornecer água às populações, ao gado e para a agricultura constituem os objectivos dos projectos que visam travar as consequências da fome e da seca devido à longa estiagem que assola a região e que afecta perto de 870.000 pessoas.

O referido projecto tem como principais componentes uma estação de bombagem, que numa primeira fase vai captar e bombear dois mil litros por segundo, sendo que estão já construídas 30 chimpacas (reservatórios de água) e 93 bebedouros para as pessoas e o gado.

Um segundo projecto compreende a construção, "já em curso, da barragem de Calukuve, ainda na bacia do Cuvelai, está em construção a barragem do Ndue, associada à bacia do Cunene, todos na margem esquerda do rio Cunene".

"Agora surgem também acções para a margem direita, com intervenção para os municípios da Cahama e Curoca, no total este terceiro projecto, denominado Cunene 8, está orçado em cerca de 260 milhões de dólares", disse o responsável do INRH.

O Governo decidiu construir projectos estruturantes nas referidas províncias para responder à escassez da água que impacta a vida das populações, das culturas e do gado.

Para a província do Namibe, disse Manuel Quintino, foram identificadas seis soluções estruturantes, nomeadamente seis barragens para a retenção de água, criação de reserva de água para as populações, projectos avaliados em dois mil milhões de dólares.

"Na Huíla, há soluções identificadas, mas ainda decorrem estudos preliminares, para a edificação de três barragens da Arimba, do Nopomo e da Ombala do Rei, no município dos Gambos, o grande foco da seca na província", rematou o responsável.

"Projectos de Grande Impacto Social no Sul de Angola" foi o tema da terceira edição do CaféCIPRA, que juntou no mesmo painel o vice-governador do Cunene, o secretário de Estado das Obras Públicas e Ordenamento do Território, Carlos dos Santos, e o director do Instituto Nacional dos Recursos Hídricos, Manuel Quintino.

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