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Luanda Leaks: onde foram parar os milhões da Sonangol desviados para o Dubai?

Cerca de um ano depois de terem sido feitas as primeiras revelações do ‘Luanda Leaks’ voltaram a surgir novos desenvolvimentos, desta vez relacionados com os 131 milhões de dólares pagos pela Sonangol a uma sociedade do Dubai, controlada por uma amiga de Isabel dos Santos.

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Os novos documentos, a que a SIC e o Expresso tiveram acesso, mostram quem é que recebeu os milhões que saíram da petrolífera com a autorização de Isabel dos Santos através do Dubai.

Entre Maio e Novembro de 2017, a Sonangol, na altura chefiada pela empresária, aceitou pagar mais de 131 milhões de dólares a duas sociedades no Dubai, que na verdade diziam respeito a uma só: a Matter Business Solutions (MBS) - que tinha como accionista única Paula Oliveira, amiga e sócia de Isabel dos Santos. Esta empresa era afinal descendente da Wise Intelligence, uma empresa com sede em Malta detida "na sombra" por Isabel dos Santos.

Em Janeiro do ano passado, depois de ter sido revelado o caso, a empresária assegurou que os milhões que foram enviados para o Dubai foram usados para pagar às consultoras. As consultoras, confrontadas pelo consórcio de investigação, mantiveram-se em silêncio e não confirmaram ter recebido o dinheiro pelos alegados serviços prestados à petrolífera.

Sabe-se agora que no dia 22 de Maio de 2017, uma empresa anterior à MBS (depois rebaptizada como Matter Business Solutions) celebrou um contrato de consultadoria com cinco empresas, todas representadas em Portugal: a Boston Consulting Group, a PricewaterhouseCoopers, a Mickinsey & Company, a Odkas e a sociedade de advogados Vieira de Almeida & Associados.

O documento foi assinado pelos contratados e por Mário Leite da Silva, na condição de contratante, avança o canal de televisão português.

Nos meses seguintes, a Sonangol efectou os pagamentos de acordo com as facturas emitidas pela MBS. As facturas que chegaram à petrolífera tinham breves descrições dos serviços, mas os autores dos mesmos não estavam identificados. O dinheiro acabou por ser enviado para uma conta da empresa no Dubai, no banco Emirates NBD.

Mas afinal para onde foram os 131 milhões de dólares? Os documentos demonstram que parte desse dinheiro foi enviado para as empresas de consultoria. A Boston Consulting Group recebeu mais de 31 milhões de dólares, a PricewaterhouseCoopers recebeu mais de 21 milhões de dólares, enquanto a Mickinsey e a Vieira de Almeida receberam mais de 15 e cinco milhões, respectivamente.

Estas transferências, segundo o canal português, são confirmadas em cartas de circularização e códigos interbancários. Contudo, após contactadas, nenhuma das empresas decidiu confirmar ou desmentir os valores.

Feitas as contas, dos mais de 131 milhões de dólares que saíram dos cofres da petrolífera, cerca de 73 milhões foram usados para pagar às empresas e sete milhões para impostos. Falta ainda a localização de cerca de 51 milhões.

Deste valor, 11 milhões e meio foram para a consultora Odkas, avança a SIC. A empresa, que foi contratada para reestruturar as áreas das tecnologias de informação da petrolífera, tem como accionista Paula Leite da Silva (49 por cento), a mulher de Mário Leite da Silva. O administrador da Odkas, em declarações à SIC e Expresso, afastou quaisquer suspeitas de favorecimento, dizendo que os seus serviços permitiram à Sonangol poupar cerca de 34 milhões de euros.

"É facto que a Odkas é uma empresa ligada a uma senhora com quem tenho a honra de estar casado, uma profissional de primeira linha. Nunca ninguém colocou qualquer questão de conflito de interesses em virtude dessa relação porque as credenciais da mesma e os resultados do trabalho dessa empresa falam por si", referiu Mário Leite da Silva.

Já cerca de seis milhões foram destinados à UCALL, SDO e a PCFNO, todas detidas por Paula Oliveira, amiga e sócia de Isabel dos Santos.

"Nunca na minha vida fui 'testa de ferro' de quem quer que seja, nem tão pouco, alguma vez tive uma relação profissional de subordinação com a engenheira Isabel dos Santos", disse Paula Oliveira, acrescentando que quando conheceu Isabel dos Santos já tinha uma "carreira profissional e empresarial absolutamente firmada e reconhecida, de inegável mérito e sucesso".

De acordo com a SIC, foi num longo esclarecimento de 22 páginas que Paula Oliveira negou irregularidades.

Além disso, os documentos mostram ainda que cerca de dois milhões da Sonangol foram enviados para a Fidequity, dirigida por Mário Leite da Silva, e para a Santoro, a holding da empresária que detinha a participação na Eurobic, também presidida por Mário Leite da Silva.

Do dinheiro enviado para o Dubai, há ainda uma parcela de cerca de 31 milhões e 600 mil euros cujo o destino final a investigação não conseguiu identificar.

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