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Standard & Poor’s: dívida piorou mas reformas equilibram a análise

O analista da agência de notação financeira Standard & Poor's (S&P) responsável pela avaliação do 'rating' de Angola disse à Lusa que o "impressionante" programa de reformas equilibrou a avaliação negativa sobre a dívida.

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"As métricas da dívida de Angola pioraram, em parte devido à forte queda no mercado cambial recentemente liberalizado", vincou o analista que lidera a equipa que analisa Angola, Ravi Bathia.

Em declarações à Lusa, comentando a decisão da S&P de manter a perspectiva de evolução de Angola em negativa e o 'rating' no nível B-, acrescentou: "No entanto, isto está a ser compensado por um impressionante programa de reformas e por prudência orçamental".

No relatório que acompanha o anúncio da decisão de manutenção do 'rating' em B- e a perspectiva de evolução em negativa, a S&P estima que o PIB se tenha contraído 1,1 por cento em 2019, "em parte devido ao declínio da produção petrolífera, depois de já ter recuado 1,2 por cento em 2018, 0,1 por cento em 2017 e 2,6 por cento em 2016".

O crescimento "deve regressar em 2020, mas a perspectiva de evolução da economia continuará desafiante e pesará nas finanças públicas", alertam os analistas.

Apesar das dificuldades, a economia de Angola deverá registar melhoras: "Esperamos que as reformas macroeconómicas do Governo, apoiadas pelo programa do FMI [Fundo Monetário Internacional], melhorem e alarguem a capacidade económica do país, o que deverá ajudar a conter os défices orçamentais e estabilizar os níveis de reservas em moeda externa nos próximos anos", lê-se na nota.

Para a S&P, "o Governo de João Lourenço imprimiu reformas significativas sobre a economia e contra a corrupção", exemplificando com a criação de reguladores dos sectores dos hidrocarbonetos e dos minérios, "para libertar a Sonangol e a Endiama do papel de concessionários".

Isto, acrescentam, "está a ajudar a aumentar a transparência e a confiança dos investidores nesses sectores", que representam a grande maioria das receitas orçamentais do país e a quase totalidade das exportações.

Na explicação da revisão do 'rating', que é mantido em B-, ou seja, abaixo da recomendação de investimento (lixo, como geralmente é conhecido), os analistas da Standard & Poor's sublinham que "o peso da dívida tem subido rapidamente" e apontam que "a dívida subiu de 88,6 por cento do PIB [produto interno bruto] em 2018 para os 103 por cento do PIB em 2019, quando estava nos 30 por cento em 2014".

Esta forte subida entre 2018 e 2019 "resultou, principalmente, da queda de mais de 56 por cento no valor do kwanza", adiantam, mas nos próximos anos a expectativa dos analistas é que a dívida desça.

"Esperamos que a acumulação de dívida desça até ao final de 2023, assumindo que o Governo mantém os compromissos de consolidação orçamental num contexto de uma depreciação mais lenta do kwanza", lê-se na nota que acompanha a descida da perspetiva de evolução do 'rating' de Angola, que coloca a dívida nos 92 por cento em 2023 e que o custo dos pagamentos represente "27,8 por cento da receita, em média, entre 2020 e 2023".

A nível macroeconómico, a S&P espera que Angola regresse ao crescimento já este ano, com uma expansão de 1 por cento do PIB, depois de no ano passado ter visto novamente a riqueza contrair-se em 1,1 por cento.

Para 2021 é prevista uma aceleração para os 1,5 por cento, e depois 2,5 por cento no ano seguinte e 2,8 por cento em 2023, bem abaixo dos 4,8 por cento registados em 2014, ano em que a descida do preço do petróleo fez a economia nacional abrandar, primeiro, e recuar, depois.

A taxa de desemprego, no entanto, ficará nos 35 por cento até ao final de 2023 e a taxa de crescimento per capita, que mede a riqueza distribuída por cada habitante, será sempre negativa até 2023, significando que o crescimento da economia não chegará para melhorar a vida de todos os angolanos.

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