Para o secretário-geral do Sindicato Nacional de Professores e Trabalhadores do Ensino não Universitário (Sinptenu), Victor Gimbi, que se diz preocupado com as interrupções das aulas, a covid-19 "veio desestruturar o ritmo da vida social, económica, política e académica".
"Nós sugerimos, desde o primeiro momento, que o Governo tinha de criar condições tecnológicas para que as escolas pudessem ter aulas em videoconferência, mas limitaram-se apenas a colocar álcool, gel e sabão e noutros casos água", afirmou esta Segunda-feira Victor Gimbi, em declarações à Lusa.
O novo decreto presidencial sobre a situação de calamidade pública em Angola, em vigor desde as primeiras horas desta Segunda-feira, suspende as aulas no ensino geral e universitário até ao dia 16 de Janeiro, estando o seu reinício sujeito à avaliação da situação epidemiológica da covid-19.
As aulas, após a pausa da quadra festiva, tinham o seu reinício previsto para esta Segunda-feira, 3 de Janeiro, mas o elevado número de novos casos da covid-19, particularmente da variante Ómicron, levou as autoridades a actualizarem o decreto.
A medida, que abrange todos os estabelecimentos de ensino público e privado, vem expressa no decreto presidencial 316/21, que aprova a alteração de alguns artigos do decreto presidencial 315/21 de 24 de Dezembro, publicado em Diário da República em 31 de Dezembro de 2021.
Segundo Victor Gimbi, a não implementação de condições tecnológicas nas instituições de ensino em Angola é sintomático da "falta de compromisso do executivo para com o processo de ensino e aprendizagem".
"Tanto é que leva as coisas muito de ânimo leve e ignora as sugestões dos sindicatos para esse período pandémico", referiu.
O sistema de educação "foi estruturado de tal maneira que cria uma cadeia de informações para a aprendizagem da criança e do jovem e isso vai criar, objectivamente, uma ligação entre os conteúdos, caso seja regular", realçou.
O secretário-geral do Sinptenu lamentou que as constantes interrupções do ciclo de aprendizagem dos alunos criem um "vazio e quebras psicológicas" para a regular absorção de conhecimentos.
"Colocamos novamente os meninos em casa a esvanecerem-se e psicologicamente temos quebras, porque a escola ocupa não só para as aprendizagens, mas para a socialização, a fraternidade, boas convivências (...). É isso que devemos adoptar para não caírem no abismo", apontou.
"A covid-19 é sim uma preocupação que merece empenho de todos para combater, mas aqui apela-se à responsabilidade maior do executivo na adopção de medidas eficientes", rematou Victor Gimbi.
Para conter a propagação da covid-19, decorre igualmente o processo de vacinação de menores entre 12 e 17 anos e estes deverão apresentar o certificado ou cartão de vacinas no reinício das aulas.
Até Domingo, Angola somava 82.920 casos de covid-19, dos quais 1722 resultaram em óbitos e tinha quase 4 milhões de pessoas totalmente vacinadas (12 por cento da população alvo).
A covid-19 provocou 5.441.446 mortes em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detectado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e actualmente com variantes identificadas em vários países.
Uma nova variante, a Ómicron, considerada preocupante e muito contagiosa pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detectada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, em 24 de Novembro, foram notificadas infecções em pelo menos 110 países, sendo dominante em Portugal.