"A relação com a Sonangol é correctíssima. Sempre foi, desde que sou administrador, desde 2009, absolutamente correcta", disse Miguel Maya, em resposta aos jornalistas à margem da Banking Summit, que decorreu em Lisboa.
O gestor afirmou ainda que a sua relação com Manuel Vicente, antigo vice-presidente e ex-presidente da Sonangol, também sempre "foi completamente correta" e disse que foi no âmbito do habitual agradecimento aos accionistas que em 2012 (poucos dias depois de tomar posse como vice-presidente) enviou uma carta a Manuel Vicente.
"Tive várias interacções com a Sonangol, que teve um papel importante na recuperação que o BCP fez e em 2012 fui convidado – não pela Sonangol nem por qualquer accionista – pelo Dr. Nuno Amado a ser vice-presidente, o que aceitei. No final de cada assembleia-geral agradeço às pessoas que me delegam votos e tive o cuidado de agradecer também aos principais accionistas", justificou Maya.
A revista Sábado, na reportagem 'O ataque de Angola aos bancos portugueses', publicada esta Quinta-feira, conta a história da influência de Angola na banca em Portugal e divulga uma carta de Maya a Manuel Vicente em que o gestor refere o "privilégio" de privar com o político e os "ensinamentos" transmitidos.
Miguel Maya garantiu ainda, aos jornalistas, que o "BCP nunca concedeu crédito à Sonangol para adquirir acções".
Sobre a participação da Sonangol no BCP, onde é o segundo maior accionista com 19,5 por cento do capital social (o principal accionista é o grupo chinês Fosun com cerca de 27 por cento, segundo as últimas informações), Maya considerou que não há razões para "haver alteração da participação no banco".
Ainda sobre a forma como o BCP controla operações financeiras que possam ser suspeitas, Miguel Maya disse que o banco que lidera tem um bom sistema para avaliar se as operações cumprem as leis e as normas existentes e que em qualquer movimento suspeito faz reporte às autoridades, mas afirmou também que está sempre disponível para o escrutínio dos supervisores.
"Tudo aquilo que reguladores perguntam obviamente que respondemos. Temos registo sobre qualquer movimentação de contas no BCP, tudo fica registado e é passível de ser analisado pelas autoridades a qualquer momento. Temos um nível de escrutínio e um nível de qualidade da informação que garante total transparência", afirmou.
Questionado sobre o impacto das revelações do 'Luanda Leaks' no banco, Miguel Maya disse que o BCP não age em função das notícias, uma vez que tem mecanismos de alerta, mas admitiu que as notícias levam a atenção redobrada.
"A única coisa que fazemos quando vemos notícia nos jornais relativamente a alguns nomes é validar se houve transferências que possam não ter sido detectadas, é um 'check' adicional , mas temos os modelos montados de forma a não necessitar destas notícias", afirmou.
Miguel Maya admitiu ainda que o caso do 'Luanda Leaks' se pode reflectir em todo o sistema: "Tudo o que acontece de mau a um banco em Portugal reflecte-se no sistema todo, não seria correto nem sincero dizer que não me preocupa".