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Ana Gomes diz ser “criminoso” que autoridades portuguesas invoquem acesso ilícito no caso ‘Luanda Leaks’

A ex-eurodeputada Ana Gomes considerou esta Segunda-feira “criminoso” que as autoridades portuguesas não ajam perante as suspeitas levantadas contra Isabel dos Santos por informações reveladas através do ‘hacker’ português Rui Pinto alegando que o acesso foi ilícito.

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"Uma coisa é o acesso ilícito que possa ter havido por parte de alguém, outra coisa é as autoridades, perante documentos que estão no domínio público, que são do seu conhecimento, que revelam criminalidade organizada, desconsiderarem isso e justificarem a sua inacção com o acesso ilegítimo", afirmou Ana Gomes.

A ex-eurodeputada, que falava à margem de uma conferência realizada em Lisboa, considerou: "É insuportável e eu diria que é, de facto, mesmo um comportamento criminoso".

O marido de Isabel dos Santos acusou, no domingo, Rui Pinto de ser "braço armado do complô" da investigação jornalística 'Luanda Leaks', acrescentando que João Lourenço, e Manuel Vicente, antigo vice-Presidente, também fazem parte da conspiração.

"O que eu sei é que a senhora engenheira [Isabel dos Santos] dizia, até ontem, que eram as autoridades angolanas [que estavam a organizar um complô] e até acusou os serviços secretos angolanos de estarem por trás da revelação de documentos", lembrou Ana Gomes.

A ex-eurodeputada socialista acrescentou que "agora há uma nova versão": "Sem dúvida que, como disse ainda ontem, a fonte não foram as autoridades angolanas. Sabemos que há uma plataforma pela luta contra a corrupção em África que facultou essa documentação ao consórcio de jornalistas de investigação. Eu penso que a todo tempo saberemos quem é a fonte".

Ana Gomes adiantou ainda não estar surpreendida por não ter havido ainda consequências, nomeadamente no Banco de Portugal, na sequência das denúncias.

"O habitual aqui em Portugal é deixar passar a vaga e não fazer nada", afirmou a ex-eurodeputada, referindo, no entanto, que "as instituições, as empresas, os portugueses" ficam "desqualificados" se "continuarem a deixar-se instrumentalizar e facilitar a criminalidade organizada que a cleptocracia dos Santos supõe".

Tem de haver "um sobressalto ético e moral que arrepie caminho e que procure responsabilizar quem é responsável e que não pode ficar impune, porque o que está em causa são verdadeiros crimes não apenas cometidos contra o povo angolano e o Estado angolano, mas também contra o povo português", sublinhou.

"Muitos dos crimes são praticados aqui em Portugal com consequências para Portugal, designadamente ao nível da própria fraude fiscal qualificada que o branqueamento de capitais implica", explicou Ana Gomes.

A ex-eurodeputada criticou que "os partidos que estiveram no poder foram todos coniventes" com esta "legitimação, inclusivamente pela forma como foi tratado o chamado 'irritante', de uma forma muito contrária ao interesse nacional", lembrando que se tratava de um caso de corrupção que envolvia Manuel Vicente e um magistrado português alegadamente corrompido.

"Temos supervisores e reguladores que não supervisionaram, que não regularam", vincou.

Ana Gomes salientou que "o Banco de Portugal estava farto de saber o que é que se passava e escolheu não agir".

"As autoridades, incluindo as fiscais, escolheram não agir. As autoridades judiciais, eu já disse várias vezes que, desde a Operação Furacão, havia todos os dados para actuar (...) e, no entanto, houve uma escolha política que é completamente incompatível com as proclamadas intenções de elevar a relação com Angola ao nível de parceria estratégica e ao nível da fraternidade e da amizade", concluiu.

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