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Como a padaria de um empresário francês inspirou a primeira siderurgia angolana

A primeira siderurgia angolana começa a abastecer o mercado nacional com aço em Janeiro, após um investimento de 300 milhões de dólares, projecto propiciado pelas dificuldades de um empresário francês em abrir uma padaria no nosso país em 1996.

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A Aceria de Angola (ADA), do empresário Georges Choucair, a primeira unidade do género desde a independência em 1975, levou três anos a construir na localidade da Barra do Dande (80 quilómetros a norte de Luanda), província do Bengo, e tem inauguração marcada para 15 de Dezembro.

Empregará 600 trabalhadores, dos quais 90 expatriados, para produzir 300 mil toneladas anuais de varão de aço para construção, assegurando todas as necessidades nacionais e permitindo, segundo o presidente do Conselho de Administração da ADA, poupar 300 milhões de dólares por ano em divisas, se for eliminada a importação deste produto.

Considerando tratar-se de um dos maiores investimentos do género em África, o empresário francês explicou, em conferência de imprensa realizada em Luanda, que a sua aventura em Angola arrancou em 1992, com uma "experiência mal sucedida" na importação de alimentos.

Quatro anos depois, Georges Choucair investiu numa padaria industrial em Luanda, para vender baguete francesa, negócio que acabou por se tornar "um sucesso". "Quando precisei de construir a segunda padaria percebi as dificuldades para ter varão de aço. Tive de importar e o negócio mudou. Pensei, então, porque não produzir o aço cá, se temos todas as condições", apontou.

Depois da importação e de criar a Angola Steel Corporation, líder de mercado, começou a desenhar-se em 2008 o objectivo de garantir a produção própria, com o empresário a avançar com o projecto para a siderurgia, concretizado com apoio técnico e equipamento de 28 nacionalidades.

A unidade foi concluída em Outubro e no mês de Novembro já foram feitos os primeiros testes de produção, recorrendo sobretudo à reutilização de sucata, material de guerra, ferroviário, petrolífero ou viaturas, e produzindo varão de aço certificado, nomeadamente, por normas nacionais, europeias e brasileiras.

"Merecíamos em Angola uma indústria de arte, com os melhores equipamentos a nível mundial [metade do investimento em maquinaria] ", sublinhou, falando sempre em português, o empresário francês, repetindo assumir-se como angolano, embora sem ter nacionalidade.

A unidade tem cinco anos para garantir o retorno do capital investido: 300 milhões de dólares repartidos em partes iguais em capital próprio do grupo privado e por financiamento bancário.

Para 2019 prevê elevar a produção a um milhão de toneladas de aço (varão e fio) certificado, num investimento adicional previsto na ordem dos 500 milhões de dólares, praticamente duplicando os postos de trabalho, avançando para a exportação para países como República Democrática do Congo, República do Congo ou Zâmbia, entre outros mercados.

O empresário admitiu que o acesso a energia foi uma das dificuldades, o que o obrigou, a custos próprios, a investir numa linha de alta tensão de 50 quilómetros, que custou 35 milhões de dólares, construída pelo grupo de origem portuguesa Painhas e Omatapalo, abastecendo também a população local.

O varão de aço produzido na unidade do Bengo chega ao mercado nacional a partir de Janeiro e o momento de crise económica, financeira e cambial em Angola, provocada pela quebra da cotação do petróleo bruto no mercado internacional, não fez esmorecer o interesse do empresário francês que lidera o projecto. "Este já não é um projecto da ADA, é de Angola e dos angolanos", concluiu Choucair.

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