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Ordem para acabar com ‘zunga’ em Luanda gera indignação das vendedoras ambulantes

O anúncio do novo governador de Luanda, Adriano Mendes de Carvalho, a ordenar o fim da venda ambulante na capital, negócio que movimenta milhares de mulheres, está a gerar indignação nas chamadas ‘zungueiras', por ser o único sustento que têm.

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De acordo com as ‘zungueiras' do São Paulo, um dos maiores bairros comerciais de Luanda, o número de mercados da capital "é insuficiente" para acomodar todos os vendedores, que encontram na rua e passeios, na venda ambulante, "algum sustento para os filhos".

"Não há praças e quando se vai para lá as bancadas estão todas ocupadas e não podemos vender por cima da bancada da outra", conta à Lusa Laurinda Mateus, de 37 anos, surpreendida com a ordem dada pelo novo governador de Luanda.

Vendedora ambulante de frutos, Laurinda considera ainda que a ordem de Adriano Mendes de Carvalho teve "influência negativa" nas suas vendas, face à "pressão dos fiscais" da polícia.

"Durante estes dias, a fiscalização está a apertar muito mesmo e estamos sempre a correr, sentamos apenas para alguns minutos. Ele [governador) tem que levar o povo e mostrar onde ficam esses mercados", acrescenta a ‘zungueira' do São Paulo.

Empossado a 30 de Setembro como governador de Luanda, Adriano Mendes de Carvalho ordenou no final de Outubro "o fim urgente da venda ambulante nas ruas, avenidas e zonas pedonais da capital angolana", classificando como inadmissível a situação que se vem registando nos últimos dias, "sob olhar impávido dos administradores".

A medida é encarada com bastante preocupação por Angelina Julião, vendedora ambulante de refringentes, que defende apenas um controlo cerrado aos vendedores que sujam os passeios, mas lembra que não existem mercados em número suficiente em Luanda.

"Eles não podem acabar com a venda ambulante, com o que eles podem acabar é com a venda nos passeios porque são casos diferentes. A ´zunga' vem já desde o tempo dos nossos antepassados e não podem terminar com ela", considera.

Angelina Julião reclama igualmente da pressão dos agentes da fiscalização, nos últimos dias, na sequência da ordem expressa pelo governador de Luanda: "Apertou muito e ainda vai apertar mais. Mas mesmo se não vendermos hoje, Deus vai ajudar e podemos vender amanhã e não vamos desistir, porque não estamos a roubar", afirmou esta ‘zungueira' que calcorreia Luanda, a fazer negócio, há 16 anos.

Tal como Marcelina Morais, mãe de gémeos, que vende calçado no São Paulo. Há quatro anos na actividade, fala mesmo em sofrimento nos últimos dias, diante das fortes limitações impostas pelos fiscais.

"Aqui estamos a sofrer muito. O fiscal, quando te agarra, leva todo o negócio e mesmo chorando, pedindo ajuda para devolver o negócio, eles não dão e como se não bastasse quando reclamas há uns mesmo que continuam a bater as ‘zungueiras'", contou.

Com o marido desempregado, a ‘zungueira' relata igualmente cenas de corrupção alegadamente protagonizadas pelos agentes da fiscalização, quando apreendem os seus produtos.

"Isso não está bom assim, estamos aqui porque não temos outra ocupação e apenas é para conseguir qualquer coisa para sustentar os filhos. Quando recebem as coisas não devolvem mais e é muito prejuízo para nós", lamentou.

Críticas que também partem de Mariquinha Pacheco que, carregando sacos de guardanapos na mão, controla atentamente a aproximação dos agentes da fiscalização, enquanto fala nos "dificuldades e prejuízos" em consequência desta medida.

"A corrida está demais, quando recebem as coisas não devolvem mais e é muito prejuízo para nós. E outros ainda continuam a nos bater, estamos mal, os filhos em casa vão comer o quê", questiona.

Há cinco anos na venda ambulante, esta ‘zungueira', que diz vender quase de tudo, refere que desconhece algum mercado na capital que possa albergar todas as vendedoras ambulantes que circulam durante quilómetros, a pé, diariamente, em Luanda.

"Se acabarem com a venda o que nós queremos é mercado, se não como ficam os estudos dos nossos filhos", atira, sublinhando que desde o anúncio que as vendas "reduziram consideravelmente".

Os vendedores ambulantes em Luanda estão em grande número nas ruas, entre o trânsito, passeios ou zonas pedonais, e vendem desde agulhas a bicicletas.

A prática há muito que é condenada pelas autoridades, por nomeadamente condicionar o trânsito, contudo tem sido agravada pela crise económica e financeira que Angola vive, como última forma de sustento para muitos.

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